terça-feira, 10 de dezembro de 2013

11.12.13, o dia de cada dia



Mais uma data singular,
dá para imaginar 14.12.13
que é o futuro a visualizar.
 
Hoje não podemos ir a 14.12.13 no tempo adiantado,
mas lá poderemos pela mente voltar a 11.12.13,
data que estará no passado.

Isto mostra que o tempo não se pode adiantar,
pois o presente é o que nos resta
e nele fazemos o passado que poderá voltar.

É no presente, a cada dia,
que agimos e reagimos,
é a fonte de nossa energia.

Viver com qualidade cada dia ,
este 11.12.13, por exemplo,
é o que temos em sincronia.

Fazer o dia, o tempo único de viver,
sobreviver com qualidade,
eis o ponto a considerar para conviver.

Cada um que olhe neste dia,
se o conviver não está matando o futuro do viver
e tome atitudes para que o dia seja de harmonia.

Os vestígios deste 11.12.13 um dia
poderão aparecer no futuro
em simpatia ou antipatia.
 
Se o soubermos fazer ,
só consequências boas podem ser esperadas,
caso contrário as más vão aparecer.

E assim é o fluxo da vida,
nos dias do futuro tudo aparecerá,
o Bem ou o Mal marcará nossa ida.

Se 11.12.13 não for bom em parte
porque o passado apareceu trazendo más consequências ,
pergunte-se, quando foi feito este dia que hoje se reparte?

Cabe a cada um fazer cada dia,
Natal ou aniversário, Ano Novo, todos,
são dias que em cada dia podemos fazer harmonia.

Se cada um fizer sua parte,
o 11.12.13 como qualquer outro dia
será de alegria e harmonia em grande parte.

 
Odilon Reinhardt.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A nossa República do Atlântico Sul



Nascida de dentro da Monarquia como concessão desta e também da esperança de pequenos grupos de intelectuais para novos tempos e do atingimento da liberdade do cidadão ou talvez de seus desejos pessoais de obter cargos de autoridade e poder político, a República surgiu, fazendo desaparecer da noite para o dia o antigo e secular regime monárquico. Numa noite de quartelada, desaparece o Império e surge a República no Rio de Janeiro, sem que o povo soubesse do que se tratava e quais seriam as vantagens e desvantagens de tão radical mudança. O povo, alienado, ignorante e analfabeto dormia. As províncias nem sonhavam com tal alteração da ordem e viviam isoladas no meio do mato. Em alguns lugares do sertão verde, imigrantes italianos, alemães e poloneses já existiam em colonias e tentavam montar sua estrutura de sobrevivência sem qualquer auxílio oficial. Para eles como para o povo em geral, Monarquia ou República não alteraria em nada a necessidade de construir e progredir. Não se importavam com o poder e tinham que prosseguir para se livrar da miséria.

O Brasil acordava tonto e despreparado. Só conhecia a Monarquia, nada sabia do que e como seria a República. Barões, Duques, Viscondes e suas famílias perdiam seus títulos, ruas trocavam de nome, surgia toda uma nomenclatura diferente para órgãos públicos. A mudança era radical e feita sem qualquer planejamento. O Brasil dormiu na Monarquia e acordou para uma República improvisada.

O país, gigante em território, tinha uma Nação pobre, pequena, analfabeta, com muitas realidades em formação. O tempo era agora para ser outro, novo, e a sociedade civil estava no comando. A transição e a consolidação foi feita com luta e sangue, por conta do sanguinário Floriano Peixoto. Surgem partidos políticos, a luta pelo poder se instala, ocorre a revolução dita federalista. O ser humano, entre eles escravos e cidadãos, no entanto, ainda tinham a postura de uma vida monárquica e um pequeno grupo de descendentes de portugueses no poder era quem se apoderava das oportunidades econômicas e comerciais. O povo continuava ignorante e alienado. Quem se beneficiou da Monarquia agora era dono da República.

Com os primeiros anos do novo regime, surgem os desacertos econômicos, nem Rui Barbosa livra o Brasil do caos do marcado financeiro, é feito o loteamento do Brasil para investidores estrangeiros extrativistas, há a adoção de modelos alienígenas por pura macaquice eufórica, a máquina do Estado brasileiro já torna-se gigante, toma o mesmo lugar do Império e cria e atola-se numa burocracia ainda maior e dispendiosa, deixando surgir a corrupção. O Presidente era tomado por verdadeiro imperador, só que mais nervoso, mais agitado, preocupado com a política e a reeleição no jogo de partidos ainda dominados por antigos coronéis de terra, barões e outros membros da nobreza imperial.

Ao início, a República ocupa-se ainda com o poder dos coronéis de terra nos Estados, o que só diminui com o sepultamento da República Velha. Em 1922, a Semana de Arte Moderna é expressiva; marca o rompimento dos intelectuais do Rio de Janeiro e São Paulo com o velho, em troca de sinais de um Brasil mais moderno, rompendo com a influência europeia até então. O Brasil quer ser Brasil, que se livrar do francês e do inglês. Dez anos após surge a Ditadura de Getúlio Vargas que fez o Brasil popular do século 20, com implantação de reformas, leis e códigos. O Ditador não deixava de ser o Imperador moderno, militaresco, fascista, mas aclamado e festejado pelo povo.

A luta da Nação era reduzir o analfabetismo, reforçar a qualidade do cidadão, acabar com os resquícios da escravidão e do servilismo doméstico e sua força de trabalho. O cidadão tinha que ser produtivo em nome do Brasil. O país era católico e a família era o seu centro. A vida era regida pelo Código Civil de 1916 e não havia dúvida de quem era homem ou mulher.

Ao longo dos anos a República promoveu o progresso material do país. Extraordinário, inegável. Compare-se o Brasil de 1910 ao de hoje em termos materiais. Ocorreu a interiorização, surgiram milhares de cidades no país, a economia cresceu, novas estradas, estradas velhas foram asfaltadas, desejo de ter luz e água para todos, indústria nacional, indústria rural, o Brasil livra-se de ter como únicos produtos de exportação a madeira, a erva mate, o café, a cachaça e o açúcar. Surgem as fronteiras agrícolas e a soja. Os minérios são fonte de riqueza a ser exportada. A Ditadura Militar de 1964 traz o militarismo, mas também o progresso na infra-estrutura. Mega investimentos, Itaipu. O Endividamento externo e o caos criado pelo Choque do petróleo e 1974, sepultaram os planos militares para o país que mergulha sua economia em uma grave crise até 1994, já sob a vigência da Constituição cidadã de 1988.

Na esteira do progresso material, no entanto, durante mais de 80 anos foi-se aceitando mentalidades diversas e daninhas fornecidas pelo individualismo egoístico e pelo materialismo como direção de decisões em detrimento do humano. A falta de uma orientação mais forte e de caráter favoreceu a entrada de modelos servis e contrários à Nação e suas características. O analfabetismo e o tendencioso interesse comercial de muitos visaram o imediatismo e esqueceram que o país é feito de gente e de uma Nação para sempre. Assim, interesses mesquinhos e de momento privilegiaram decisões estratégicas que repercutem até hoje. É visível que o de planejamento humano de longo prazo ficou prejudicado, afetou e afeta a vida do país por décadas e hoje temos o que temos, cidadãos em confusão e uma mão de obra precária e sem qualidade.

Assim, fica manifesta a consequência de o planejamento ter sido deixado ao sabor de cada Governo e suas prioridades partidárias ou até mesmo a falta de planejamento e da falta de democracia. Isto faz com que de certo modo a arrogância monárquica ainda exista, camuflada nas lideranças tradicionais e na mentalidade dos coronéis de partidos políticos em seus Estados. O autoritarismo sobrevive em cada Estado e o povo continua alienado, agora semi-analfabeto, mais exigente e mais insatisfeito. As pessoas não deixaram de ser autoritárias em seu comportamento em relação ao Próximo. É um autoritarismo do bronco, do semi-ignorante, do pouco esclarecido, do que não tem flexibilidade para mostrar ou aceitar alternativas. Qualquer tentativa de negociação descamba para demonstração de poder e autoridade. Grupos radicais proliferam em vários campos de atuação, tentando impor suas ideologias de controle de poder e domínio da sociedade. Algo arcaico. Através de modelos de gerenciamento em empresas privadas e públicas e na Administração Pública é possível ver o reflexo deste autoritarismo na postura gerencial e pessoal. Muito é gasto em treinamento nas empresas para mudar isto. Subsiste a postura imperial de poder, baseada em imposições de ideias e pela manipulação política a nível partidário ou pessoal. Isto sem esquecer que o elementos pinçados do povo pelo processo eleitoral passam a ocupar cargos públicos ou exercer o Governo com a mentalidade de “ agora eu vou me fazer” e com o interesse de garantir a reeleição. Não gostam de oposição nem qualquer tipo de transparência ou exposição que revelem seus planos. Nos órgãos públicos desde o início criou-se uma nobreza intocável mantida com altos salários, mordomias e uma casta nomeada sem concurso público, constituindo um exército de assessores e assistentes em cargos de confiança. E ainda há nas cidades o privilégio do sistema cartorial do Império, com oficiais de registro e tabeliães com seu loteamento invisível da cidade. Mencione-se também o sistema de escolha para nomeação de cargos no Governo e em empresas estatais e de economia mista. Há uma nobreza beneficiada e privilegiada ainda em o plena República. No Poder Público, muitas destas pessoas intocáveis, estáveis e irremovíveis declaram publicamente que não estão nem aí para o povo e a opinião pública.

Do índio na Amazônia ao mais preparado executivo financeiro na Avenida Paulista, há inúmeras realidades no país, o qual ainda vive em realidades diversas, muitas ainda de 1850, 1910, 1950 etc. No geral o país é rico, é maravilhoso em Natureza, um paraíso terrestre, um encontro de povos em uma idiossincracia de liberdade jamais vista na Terra. Todos que aqui vem elogiam o país e suas paisagens, a alegria e desprendimento do povo. A visão do Corcovado para a cidade é paisagem sem igual. É coisa de Deus. Mas lá embaixo, o berço da República mostra seus problemas no dia a dia. Problemas ali são exemplo do que ocorre em todas as cidades do país com maior ou menor intensidade. O Rio de Janeiro, capital da moda, é modelo hoje da problemática e da tendência nacional.

Ressalta-se a infraestrutura sempre feita com obras casca de ovo, fracas, sem durabilidade, fontes de desvio e superfaturamento, insuficientes para o longo prazo. Pontes e estradas para o agora eleitoreiro, não para o futuro planejado e consequente e muito menos para servir a pessoa adequadamente.

Se temos amor a nosso país e se queremos evoluir na República, como regime de liberdade do cidadão, temos que tomar providências para eliminar certas tendências e problemas essenciais. Neste sentido surge a educação, hoje bastante afetada pela troca de modelo feita pelo regime militar na ditadura. Acabou-se com o modelo enciclopédico francês de formação integral do aluno na ciências e sabedoria acumulada pela Civilização para dotar o curriculum mínimo de Português, Matemática, História e Geografia, sob a justificativa de democratizar o ensino. Nivelou-se por baixo. Acabou-se por 20 anos como o ensino da Filosofia, exterminando a educação baseada num espírito crítico e analítico, isto para que o regime militar não sofresse contestação. No mesmo sentido o controle de natalidade, já que o regime militar fechou o país e era necessário manter a população em certos números. Um erro essencial e que prejudica o país até hoje. Sempre o Brasil copiando modelos alienígenas, impostos ao povo e sem qualquer interesse humano.

Evidentemente que a histórica variação ou inexistência de planejamento tem suas consequência no indivíduo. Este pensa, reage, amolda-se ao momento, tornou-se um seguidor e um tarefeiro tocando a vida como ela vem. O individualismo e o materialismo que foi sendo intensificado dentro de um capitalismo desvirtuado tem consequências graves. O capitalismo tupiniquim, sem pé nem cabeça, é movido por pessoas comuns num sistema de oportunismo, de ganha-ganha, de vantagens sem ética nem moral positivas, com uso de má-fé, com práticas comerciais inescrupulosas e anti-éticas, perpetuadas pela própria população em seus negocinhos e empresas para sobreviver. O Poder Público, que ainda não é do público, não pode acolher a todos em seus quadros, embora haja quem assim deseje em sua fantasia.

Instalou-se um modo de vida e ser na República. Consequência ou causa de nossa negligência em permitir a descaracterização de certos princípios, inclusive cristãos, que norteavam a vida e que agora parecem estar desaparecendo, deixando a Nação atônita e sem boa referência. Todos somos culpados, mas ainda há tempo para definir rumos.

Evidentemente a situação agrava-se a cada dia quando pensamos em consequências outras como a dos erros do passado em termos de alimentação e hábitos de consumo impostos à população, hoje com reflexos nas contas públicas. É o caso do muito bem explorado charme de fumar que nos anos 40 e 50 fazia a cabeça de muitos e que agora gera uma conta enorme nos hospitais e a morte precoce de muitas pessoas. A dieta com base em açúcar, sal, leite e seus derivados e o trigo com consequências maléficas para tantos que hoje lutam contra a pressão alta e o diabetes. Tudo feito para beneficiar interesses de coronéis do gado, do sal ,do açúcar, do café que com seus recursos dominam o Congresso Nacional e a política. Mas é o cidadão que sofre e é o cidadão que diminui a força de mão de obra nacional. Sem espírito crítico, o cidadão vai ficando doente, gordo, e menos produtivo.

Militando contra tentativas de reação para melhora, encontramos as marcas da tendência filosófica do chamado pós-moderno que atingem em cheio a juventude atual e algumas gerações já passadas, fazendo-as crer que vale a pena não se entregar a causa ou instituição alguma; que tudo é passageiro e sujeito ao obsoletismo tanto no campo das coisas como no relacionamento pessoal; que nenhuma instituição atual merece crédito ou sua dedicação; que o passado deve ser contestado e nela não há nada para ser aprendido; que a vida é passageira e nada vale tanto a pena; que o Próximo é um concorrente e um rival; que o Estado é uma instituição para poucos e contra o povo etc, e que deve ser diminuído; que o ideal é cada um por si como um indivíduo que se gera e se basta sem precisar de ninguém; que não é preciso mais se aprofundar em nada, pois duas ou três linhas são já um livro suficiente sobre qualquer assunto.

Nesta vertente de pensamento encontramos também o império dos meios de comunicação, fazendo a cabeça da massa, pregando modelos negativos e contribuindo para estabelecer um quadro de coisa-perdida, sem solução. A TV, instrumento efetivo de comunicação, vem auxiliando no ensino da prática democrática, mas mostra a realidade, deixando que o cidadão tenha discernimento para pensar, todavia este, tornado um seguidor, pouco tem se dedicado aos estudos, tendo tornado-se uma vaca de presépio e quando não um mero consumidor condicionado e massificado, impossibilitado de agir e participar da democracia. Mas diga-se, alguém tem alto interesse nisso tudo e está focado em controlar, pensar e dominar por ele. Uma massa de manobra dos interesses do consumo e este colocado como o elemento central da economia e da vida nacional. Há gente muito inteligente por detrás de tudo isto, mas com referência ruim, norteada por valores ruins. Agora, até mesmo o elemento verde, o meio ambiente, é usado pelas empresas como elemento de atração para maior consumo. Só falta criarem a coca-cola verde.



É o elemento básico da República e da Nação que está sendo esquecido, maltratado e negligenciado: o ser humano brasileiro. Este é o verdadeiro centro de consideração, mas vem sendo negligenciado. Apesar de ainda sermos um país cristão, até a religião está sendo utilizada erroneamente como meio de fuga, do mesmo modo que as drogas, as diversões passageiras,inúteis e ineficazes em afastar o vazio que está tomando conta dos Seres. Bens materiais não mudam caráter e educação, caso contrário traficantes com suas mansões e carros de luxo seriam bons cidadãos e respeitados Seres. Na Nação tudo depende do indivíduo, seus princípios, seus valores, seu preparo e referência correta e útil para o país, mas isto parece não ter sido a prioridade no último século.

Diante do quadro resultante de décadas de devaneio e euforia, o indivíduo enfraquece pela mente a Nação, a qual vai perdendo sua identidade, fica para o joguete entre senhores interesseiros. Quem serve a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo geralmente perde-se no vazio da indefinição de suas decisões. No afã de uma solução para o país, ressurge o autoritarismo monárquico, querendo impor soluções únicas e gerais, uma panaceia de solução salvadora e redentora. Inacreditavelmente, há quem defenda regimes de esquerda que descambam para a ditadura sem saber o que o comunismo ou o marxismo representam em termos de escravidão humana.

No fundo, os interesses imediatos, comerciais, políticos ou não, continuam a operar em detrimento de um planejamento mais duradouro, fruto de um pacto social e uma discussão mais democrática do que se pretende para a vida nacional. Sabemos o que não queremos: corrupção, desvios, vidas abandonadas nas ruas e em casas, adolescentes drogados, infância negligenciada etc, mas não sabemos claramente o que desejamos como povo, deixamos que as autoridades decidam por nós. Facilmente nos contentamos com o jogo de futebol, com carros novos, equipamentos novos de informática e comunicação, viagens ao exterior, mas nada disso nos satisfaz com duração. Voltamos ao vazio da dúvida quanto ao futuro pessoal e coletivo.

Enquanto isto, avançam tendência funestas com a fuga dos insatisfeitos. As drogas e o crime progridem mais que o Estado. Decisões públicas continuam a privilegiar o material em detrimento do humano e as pessoas vão se tornando mais calculistas, frias, insensíveis, intolerantes, impacientes, ansiosas, inseguras e insatisfeitas. O Poder Público pensa que pode resolver tudo com obras, esperando também que resolver tudo com obras,esperando também que elas rendam votos imediatos. Mas porque nas manifestações o povo quebra as obras?

Está certo que o trabalho social não rende tanto, é de longo prazo e os resultados só aparecem em outro governo. Os reflexos desse modo de pensar são visíveis, aumentam a violência, o tráfico de drogas aumenta, os crimes hediondos são cada vez mais inéditos, surgem estatísticas agressivas e surpreendentes. Pessoas põem fogo em pessoas, carros e comércio. Há um ódio crescente do Ser Humano contra o seu semelhante. O cidadão tem sua casa violada, suas coisas roubadas. Protestos quebram o comércio, bancos, e equipamentos públicos. Pais abandonam filhos, filhos matam a mãe, homens, exercendo sua liberdade, casam com homens, mas terão filhos e uma família? A violência física e moral é visível, reflexo de pessoas descontentes que querem fugir. E fogem para coisas materiais que não podem manter ou comprar, para viagens que não podem pagar etc. Acumulam demandas de consumo. Mas o Poder Público é cego, continua com seu pensamento que as obras podem salvar tudo, podem ser a redenção de tudo e negligenciam o ser huamno da Nação, provolegiando o material e esquecendo o cidadão alongo prazo.

Diante do amontoado de problemas diários anunciados e divulgados na mídia, cria-se a ideia do imobilismo estatal e sua impotência. A Saúde não dá mais conta dos erros do passado; a Justiça encontra-se abarrotada de processos e não dá conta de uma sociedade violenta e conflituosa; o Pode Público amarra-se numa burocracia sem fim, onde a festa dos meios barrocos atrasa qualquer projeto e só sustenta seu próprio com pouco resultado para a população. A Segurança não dá conta do recado e é diminuta e ineficaz, se a população ou um indivíduo realmente sair às ruas para protestar, invadir órgãos públicos e quebrar tudo mesmo que inutilmente num acesso de fúria.

A deficiência do planejamento no passado agora vê o país dependendo do cidadão e este está insatisfeito, despreparado e vazio na sua maioria. Por falta de estudo e de incentivos ao estudo, não há médicos. Bastou uma pequena bolha de progresso e não há mão de obra técnica; estudantes de engenharia abandonam os cursos quando a cabeça é mais exigida em cálculos. Não há engenheiros projetistas. A estatística aponta que o Brasil está ficando com a população mais velha sem o número de crianças para garantir o futuro produtivo. Talvez sejamos mesmo no futuro o refúgio para coreanos, chineses, peruanos, bolivianos e árabes.

A cada dia confunde-se liberdade com libertinagem, inclusão social com direito a avacalhação de usos e costumes. Na cidade, o crescimento desordenado é feito por pessoas de todos os tipos e origens. Cria-se a ideia de que o território da cidade é ilimitado, é obrigado a receber a todos, tendo recursos, espaço, água para todos. Logo a cidade torna-se uma lugar humanamente saturado. As consequências estão nas ruas, com a população exigindo de tudo e para já sem ter a ideia de possibilidades. Há um quadro que se forma no suplício urbano que justifica a pintura de uma verdadeira Guernica viva, pintada no dia a dia em cores que se deterioram. Os cidadãos andam cabisbaixos pelas ruas, num silêncio esquisito, mas no interior de cada um, há um barulho insuportável, esperando o pretexto para agredir em sinal de protesto individual.

A República brasileira assemelha-se, por enquanto a uma república de estudantes eufóricos e inconsequentes e não a uma Nação. A cidade é sua célula mater e está exigindo um discernimento cada vez maior dos cidadãos além de muitos recursos para o pagamento de impostos, alimentação, saúde, segurança etc. É exigido um discernimento cada vez mais complexo para viver no cipoal dos enganos e truques da cidade. A província engole os provincianos e a República perde pessoas em acidentes, em problemas de saúde, em depressão e insatisfação.

Neste panorama vamos comemorar em 15/11 mais um aniversário da República. Ainda há muito para pensar e tomar providências. A insatisfação pessoal da população é visível, faz o indivíduo perder a visão positiva, há um negativismo planejado que impede a vontade de participar. O reflexo é na vida pessoal de cada um, mas no todo é ruim para a Nação e para a República. O Pode Público em seus três Poderes está atolado em uma burocracia sem igual, dispendiosa, demorada. Faltam médicos para cuidar dos erros da política alimentar, faltam engenheiros especialistas e de projeto, reflexo da cultura do aqui-agora, do tudo transitório, mas há um número excessivo de advogados que alimentam e preenchem a burocracia oficial em sua festa de meios como objetivo final. Burocracia que favorece o formalismo, facilita criar dificuldades para vender facilidades. Há gente de cargo garantido e salário assegurado no final do mês, que incrivelmente engendra redes de corrupção e lavagem de dinheiro em verdadeiras obras primas da malandragem para a traição da Pátria. Planeja assaltos aos cofres públicos. Só pode estar sendo movida por ganância ou uma incontida vontade de fazer dinheiro, já tendo suprido suas necessidades pessoais de acumular coisas e obter segurança material. Talvez gente acometida de megalomania. Talvez gente experta que, se bem utilizada, poderia criar grandes soluções para o país beneficiando a todos, mas não, essa gente prefere ser individualista, materialistas. Até parece que nessa casta há algum tipo de aposta como “ vamos ver quem consegue mais ?” . Um jogo contra o interesse público e o Tesouro.

De todos os modismos e ondas passageiras provocados por interesses de momento a imprensa se vê numa encruzilhada tendo que apelar para o sensacionalismo. Enquanto jornais e TV quase só mostram notícias ruins e de decadência, jornais financeiros só mostram empreendimentos, fusão de empresas, lucros enormes, sucesso, progresso e notícias positivas. Um paradoxo muito fácil de ser explicado. É que alguém está tirando proveito de tudo em detrimento de um povo trabalhador e sofrido. Falam em escravidão, que era uma sistema mundial, seus ranços e ressentimentos, mas ela hoje pegou a todos e não tem cor.

Não é nada agradável ver que o país está sendo construído materialmente aqui e ali com novas estradas, novos edifícios e novas fábricas, mas para serem ocupadas por pessoas com problemas graves de saúde mental e física, pessoas insatisfeitas e despreparadas, pessoas sem muita visão de futuro e sem crença na ideia positiva de progredir, famílias destrosadas pelo egoísmo, pela violência, pelas drogas etc. A infância e a juventude querem modelos para seguir. O que encontram hoje? Qual a natureza e o nível dos modelos existentes?

Será que, se não tomarmos providências para tratar das tendências atuais, teremos escolas a serem frequentadas por alunos revoltados, drogados, ligados no celular, blackbloqueiros? Será que construiremos estradas para exportar produção que passará por favelas rurais de pessoas expulsas das cidades? Será que o tráfico de drogas atingirá o status de Governo informal? Será que as faculdades de medicina e engenharia terão alunos inteligentes e interessados? De que adiantarão todas as construções, se o indivíduo nacional, mesmo que rico ou remediado, estiver vazio, pobre de espírito, talvez já aposentado sem saúde e dinheiro, os jovens sem bom destino e nem vontade de estudar, pessoas em depressão?

Continuaremos nessa enganação de nós mesmos, encolhidos em nossos umbigos, pensando que nada disso tem e trará consequências para nossas vidas e para a Nação? Será que já não estaríamos em outro patamar de progresso humano e material, não fossem os erros do presente e do passado? Não se pode culpar só o Poder Público sem esquecer a participação de cada pessoa nesta negligência geral. A Nação vive de seu lado espiritual e aproveita-se do lado material. Qual progrediu mais em todas essas décadas? Certamente a material.

É de se questionar ao final: qual o resultado desta República até agora? O que obtivemos em termos de Nação? Estamos satisfeitos? Cabe a cada um responder, de acordo com sua consciência e espírito crítico. Só sei que não é possível mais cada uma fazer a sua parte, quando não se sabe onde se está indo ou indo de modo temerário.

Mas no Atlântico Sul tudo pode ser mais devagar, temos tempo para o aprendizado, ainda no geral há um povo trabalhador, empreendedor , com vontade de acumular coisas e ter uma vida confortável. O preocupante são as tendências, mostradas aqui e ali em exceções. Mesmo assim, a diversidade da vida no país é enorme e no dia a dia pode ir nascendo soluções mais positivas.


Odilon Reinhardt

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Algo bem positivo


 
Não é difícil que com notícias diárias de fatos assustadores o cidadão deixe de ter uma perspectiva positiva para sua vida. O arquitetado bombardeio de más notícias colocam a exceção à frente da vida normal e determinam o humor de uma época. Entre o sensacionalismo e o fascismo os meios de comunicação acabam gerando nas pessoas de todas as idades e níveis econômicos um sentimento de derrota, de fracasso, de tudo- pedido, o que ajuda bastante a juventude a acreditar mesmo que não adianta se entregar a nada, já que tudo é passageiro e está contaminado. O sentimento de vira-lata cresce. O Brasil diminui.

A cultura do negativo não é por acaso. Começa com a exploração da infância e da adolescência. Jogos de computador de agressão e matanças. Mensagens subliminares de coisificação do ser humano. Desensibilização. Há visivelmente uma preferência pelo escuro, por símbolos do obscurantismo, caveiras e bodes, correntes e tatuagens com motivos sombrios. É algo plantado para que jovens sejam levados a acreditar em modelos negativos e sem bom futuro. Que modelos estão criando para as pessoas no pais? Qual a orientação e para que ela está sendo usada?Só para comércio e aproveitamento da fase da adolescência em que o jovem está com indagações existenciais? Uma estratégia maluca de saturação da maldade para que haja uma valorização e afinal prevalência da bondade?

A reação fica por conta de cada indivíduo. Desvencilhar-se de tal humor e clima é por vezes difícil. Exige dicernimento, educação. É certo que o meio faz o indivíduo. Entre as necessidades humanas há a de querer pertencer. Se o meio estabelece padrões negativos, fatalmente estabelece um padrão de comportamento e de sentimento que norteia a vida das pessoas. O nivelamento acaba sendo por baixo. Ninguém progride. As escolas tornam-se centros adversos, há evasão dos cursos técnicos e até do curso superior de Engenharia. O país começa a importar mão de obra .

Felizmente, há pessoas que conseguem romper com o programado e arquitetado plano para prender pessoas à mentalidade retrograda, negativa e pouco produtiva. Negam-se a seguir o modelo posto de favorecer interesses escusos de dominação e manipulação das mentes.

Assim, é de se ficar feliz com exemplos contrários ao modelo. É o exemplo dado por pessoas que estudam, que vão atrás de seus planos, que querem progresso e felicidade, sem medo de ter sucesso e alcançar conhecimento e um nível superior de sabedoria. Muitos são os exemplos, mesmo no mundo corporativo, que hoje desperta muito lentamente para a necessidade de desenvolvimento amplo da pessoa. Há sempre a polêmica do desentrosamento entre as reais necessidades do cargo e o desenvolvimento do empregado. Pessoas há que se destacam pela iniciativa própria de autodesenvolvimento e vão em frente. Miram o futuro. Preparam-se para colheita certa e segura.

Muitas vezes são anônimos e silenciosos esforços pessoais de heróis de suas próprias histórias. Eu poderia inumerar muitos casos que presenciei de pessoas que estudaram à noite, que procuraram um plus em suas vidas profissionais, renunciando ao conforto da família e do lar.

A empresa cresce com estas pessoas também e prepara-se para o futuro. A Sanepar interfere diretamente no meio ambiente. Seu desafio corporativo é inteligente e está coerente com o mundo e a proteção ambiental. Neste contexto, algumas pessoas estão buscando muito preparo para o futuro .

Recentemente nossa colega Loraine Bender deu passos firmes e bem sucedidos em suas atuações no estudo dentro do meio ambiente. Embora não tenha a função na empresa, é advogada e estudiosa do Direito Ambiental. Atualmente está fazendo mestrado em curso promovido pela Universidade de Stuttgart em Curitiba e deve assistir aulas do mestrado na Alemanha ainda em 2013 com outros colegas como Fernando Massardo, advogado hoje dedicado às questões judiciais e administrativas de meio ambiente, Priscila Alves, nome de destaque junto aos professores da Universidade de Stuttgart pela sua habilidade de composição de pesquisa e redação, para quem no meio ambiente ainda há um céu esperando por mais estrelas. Loraine, recentemente esteve expondo sua tese em Portugal onde recebeu diplomas e congratulações de juristas famosos como Canotilho e Ada Pellegrini Greenover. Loraine é exemplo a ser seguido por quem ainda está sendo afetado pelo negativismo desta época ou esperando que algo caia das nuvens.

É o esforço pessoal que faz a diferença, cria oportunidades e faz progredir, acabando com as barreiras da mediocridade e dos padrões limitadores da felicidade pessoal, entre eles o medo de se destacar , progredir e ter sucesso, o que é muito comum no Brasil.

Como Loraine Bender, já houve na Sanepar muitos exemplos de pessoas que romperam com a estagnação e o negativismo e fizeram acontecer seus objetivos. Do passado, não posso deixar de lembrar de colegas como Alfredo Richter e Savelli, engenheiros cientistas da Sanepar. Do presente Ari Haro com seus livros técnicos, Cleverson Vitório Andreoli e sua saga técnica sobre estudos para aproveitamento do lodo na agricultura com ganhos de produtividade para o Paraná, Cristiane Schwanka engenheira e advogada que é estudiosa do Direito, mestre e doutora sem exercer função de advogado na empresa, Josiane Becker com seu mestrado em Direito em São Paulo com a professora Lucia Vale Figueiredo entre outros mestres e atualmente está fazendo doutorado, Rosaldo Andrade com seu mestrado na PUC em Curitiba, Marcus Venício Cavassin com seu mestrado em Direito Empresarial e Gestão Ambiental, Cláudia Eliane Sartori com seu curso de Pedagogia na UFPr para realizar sonho antigo. Há tantos outros que agem positivamente, procurando seus sonhos e planos pessoais. São professores dando aula de várias naturezas diferentes, mas todos buscando qualificação melhor para autodesenvolvimento e melhor preparo para sua contribuição às tarefas da Sanepar.

Várias pessoas,no entanto, que estão momentaneamente privadas de levar em frente seus objetivos, mas o importante é que não os abandonem e quando puderem retornem ao caminho da ampliação dos conhecimentos. E isto não implica necessariamente mestrado ou doutorado, pois nem todas as pessoas possuem talento para serem professores, acadêmicos ou teóricos. Há outros modos de desenvolvimento pessoal e profissional de alto grau através de cursos paralelos que podem auxiliar a profissão, programas pessoais de estudo, mudança de área de atuação, cursos esparsos de pós -graduação ou até mesmo uma nova graduação etc. O importante é continuar até o limite de sua potencialçidade, talento e fazer o que gosta.

Há alternativas para aumentar o poder de análise, o poder crítico, e melhorar o desempenho pessoal. Isto amplia horizontes da mente e ajuda a sair do perigo de se expor à destruição que pode ser causada pelos condicionamentos, acomodações e bitolamentos da sucessão de dias da rotina profissional. É tudo altamente positivo.

Loraine Bender é aniversariante de 18/10 e mostra suas conquistas recentes no campo dos estudos em Portugal. Uma semana que marcou-lhe a vida e será determinante para seu caminho, tudo custeado com recursos de seu salário. Mostra seu esforço, sua determinação bem sucedida nos estudos de Direito Ambiental. Certamente ela será das pessoas que farão mais diferença e delas teremos boas notícias no futuro.

É esta a Sanepar positiva, de futuro, desvencilhada do negativismo do dia a dia nacional. É exemplo que nasce com algo de novos tempos, mostrando que apesar de todas as dificuldades, a solução é positiva, ir em frente, estudar, conhecer, saber, melhorar o Ser e evoluir. Há sempre uma boa sensação ao ver o mundo mudando para melhor.


Odilon Reinhardt.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Advogados podem receber antes de clientes em execução contra a Fazenda Pública

 
 
A 1ª seção do STJ negou provimento ao recurso interposto pelo INSS contra decisão do TRF da 4ª região, que autorizou o desmembramento da execução, permitindo que o crédito relativo aos honorários advocatícios fosse processado mediante RPV, enquanto o crédito principal sujeitou-se à sistemática do precatório.
Devido à grande quantidade de recursos sobre esse assunto, o ministro Castro Meira (aposentado em setembro), relator, submeteu o feito ao rito dos recursos repetitivos, previsto no artigo 543-C do CPC. Dessa forma, a posição do STJ em relação ao tema orienta a solução de casos idênticos e impede que sejam admitidos recursos contra esse entendimento.
Após o voto do ministro Castro Meira, proferido em agosto, no sentido de confirmar a tese do tribunal de origem, o ministro Benedito Gonçalves pediu vista e apresentou voto divergente, no que foi acompanhado pelos ministros Arnaldo Esteves, Sérgio Kukina e Eliana Calmon. A maioria, no entanto, acompanhou a posição do ministro Meira.
Estabeleceu-se, então, que os advogados podem receber os honorários sucumbenciais por meio da RPV, nos processos contra a Fazenda Pública, mesmo quando o crédito principal, referente ao valor da execução, seja pago ao seu cliente por precatório.
Para o advogado Fábio de Possídio Egashira, do escritório Trigueiro Fontes Advogados, "Além de reforçar o caráter de independência e alimentar dos honorários sucumbenciais, a decisão deixou claro que não há impedimento constitucional ou infraconstitucional para que tais honorários, quando não excederem o valor limite, possam ser executados mediante requisição de pequeno valor, ainda que o crédito principal siga o regime dos precatórios".
 
Legislação aplicável
 
Ao interpor recurso, o INSS alegou que os arts. 17, parágrafo 3º, da lei 10.259/01 e 128, parágrafo 1º, da lei 8.213/91, legislação infraconstitucional aplicável à matéria, indicam que o valor executado contra a Fazenda Pública deve ser pago de forma integral e pelo mesmo rito, conforme o valor da execução.
Como a RPV e o precatório judicial possuem prazos diversos de pagamento, esse fato, segundo o INSS, beneficia o advogado, que irá satisfazer seu crédito muito antes do próprio cliente, que receberá o crédito principal por precatório.
A autarquia argumentou ainda que os honorários configuram verba acessória e, assim, devem seguir a "sorte da verba principal", nos termos do artigo 92 do CC.
 
Natureza dos honorários
 
Segundo Castro Meira, os honorários advocatícios de qualquer espécie pertencem ao advogado, e "o contrato, a decisão e a sentença que os estabelecem são títulos executivos, que podem ser executados autonomamente".
De acordo com o relator, sendo o advogado titular da verba de sucumbência, ele assume também a posição de credor da parte vencida, independentemente de haver crédito a ser recebido pelo seu constituinte, o que ocorre, por exemplo, nas ações declaratórias ou nos casos em que o processo é extinto sem resolução de mérito.
O ministro explicou que os honorários são considerados créditos acessórios porque não são o bem imediatamente perseguido em juízo, e "não porque dependem, necessariamente, de um crédito dito principal". Dessa forma, para ele, é errado afirmar que a natureza acessória dos honorários impede a adoção de procedimento distinto do utilizado para o crédito principal.
Conforme o exposto no art. 100, parágrafo 8º, da CF, Castro Meira acredita que o dispositivo não proíbe, "sequer implicitamente", que a execução dos honorários se faça sob regime diferente daquele utilizado para o crédito "principal”.
Para ele, a norma tem por propósito evitar que o credor utilize "de maneira simultânea – mediante fracionamento ou repartição do valor executado – de dois sistemas de satisfação do crédito: requisição de pequeno valor e precatório".
Acrescentou que o fracionamento proibido pela norma constitucional faz referência à titularidade do crédito. Por isso, um mesmo credor não pode ter seu crédito satisfeito por RPV e precatório, simultaneamente. Para o ministro, "nada impede, todavia, que dois ou mais credores, incluídos no polo ativo de uma mesma execução, possam receber seus créditos por sistemas distintos (RPV ou precatório), de acordo com o valor que couber a cada qual".
O melhor entendimento sobre o assunto, segundo a seção, é que não há impedimento constitucional, ou mesmo legal, para que os honorários advocatícios, quando não excederem o valor limite, possam ser executados mediante RPV, mesmo que o crédito tido como principal siga o regime dos precatórios.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Pátria enrolada


 
ilustração: http://www.guardian.sombra.nom.br

São também nossas heranças coloniais do sistema lusitano e espanhol, extremamente inspirados na estrutura eclesiástica, que nos amarram a sistemas de tramitação, decisão e controle, preenchimento de cargos e de um sistema de competências para autorização, aprovação e eleição seja de propostas seja de pessoas. Esta realidade já tradicional faz a raiz de um império de atividades de meio, de ações para Inglês ver, de procedimentos barrocos, sem objetividade finalística, senão a de enrolar, de eternizar os meios do processualismo, prestigiando a forma, a fórmula, os recursos, as entranhas e desdobramentos, entrelaçados num cipoal imoral.

Frente a fatos, não custa crer que o que se valoriza aqui, em termos simplórios e exemplificativo, não é a festa em si, mas todo o tempo de preparo da festa, período em que se gasta muito mais tempo, gera-se mais oportunidades de mudança, gastos, podendo-se planejar e replanejar, alterar de acordo com a conveniência e oportunidade, fazendo disto um campo aberto à negociação, que pode ser prolongada a bel prazer de seus donos.

A Pátria vive assim enrolada em questões e procedimentos bizantinos e barrocos. Faz surgir a politicagem palaciana, corrupta, a verbosidade vazia, o falso e empolado intelectualismo tendencioso e de mau caráter, o jeitinho maneiroso de acomodar situações, a embromação, a expressão da lei da vantagem, do individualismo egocêntrico. Em plena República ainda conservamos palácios disto e daquilo, com seus reis e nobres às custas do dinheiro público.

A ideologia da vida de meio ( o eterno preparo da festa), burocrática na alma, invade tudo e todos; faz mentalidades, revestidas de superioridade, elegância e erudição, mostra-se para que a Juventude almeje repetir este modelo e deseje ser igual. Surge a tapeação hermética, inacessível, com linguagem alongada, maneirosa, mas vazia e feita para ser complexa e falsamente erudita. Torna-se comum a enganação fraseologia, com apostos e divagações para desfocar, para distrair a atenção. A chicana com alegações formais e processuais, a protelação, a busca da prescrição e do esquecimento são comuns e até direitos respeitados. Cria-se no mundo do meio as dificuldades, protela-se, encalha-se, delonga-se, vende-se facilidades.

O país novo, empreendedor, positivo, produtor dobra-se à lista de pré- requisitos, requisitos, exigências, aos relatórios, planilhas, tabelas, informações, requisição, solicitação, carimbos e petição. Pior, cria-se a ideia e a mentalidade fantástica de que se assim não for, algo está errado, alguém está levando por fora. E o medo expande a dúvida. O próprio sistema, burocrático e processualista em essência, condiciona as pessoas a perguntar: e se não existissem tais regras procedimentais, todo este sistema burocrático, não seria muito maior a corrupção e os escândalos? Não seria tudo isto a defesa contra certa vontade popular “a de se fazer, quando na função pública ou os reflexos de um sistema maior que incentiva a ganância, a competição, a comparação e gera megalomaníacos ?” Sendo impossível controlar a cultura instalada há séculos na politicagem e na vida das pessoas, de certo modo, aprimorar-se os meios de controle e procedimentos dá garantias ao país para que haja meios de supervisão. Todavia, isto acaba criando um emaranhado de papéis, que favorece os delinquentes de todos os níveis econômicos e sociais e quando tudo isto é transposto para o Direito Processual acaba constituindo o arcabouço a ser usado para protelar, adiar, alongar e beneficiar alguém.

Para tudo há limites dentro do princípio da razoabilidade. Há uma burocracia mínima, lógica, aceitável como estrutura formal, mas no estágio atual da história do país, já estamos exorbitando, abusando. No entanto, acho difícil mudar esta cultura, esta mentalidade. A pergunta é quando e onde isto dará um nó na vida nacional? Por hora os mantenedores de todo este sistema tentam protegê-lo contra a Polícia Federal e o Ministério Público, barrados na entrada da festa.

Poderia ser perguntado: mas o que se está fazendo é o previsto em lei. O Executivo aplica a lei, o Judiciário julga pela lei . Onde está o problema? No Legislativo. Ali tudo se forma, não é formação ao léu, é ideológica, de propósito, bem paga. Não há nenhuma preocupação com o Brasil , com seu povo, com o interesse público. O estudado e premeditado jogo de palavras na redação do texto legal, as ressalvas, as lacunas, as brechas, os incisos e alíneas excludentes, o uso de palavras ambíguas e frases truncadas para favorecer o jogo da doutrina jurídica, o jogo da interpretação, a dialética absurdamente planejada e assessorada por grandes mestres da atualidade. Tudo já nasce preparado para permitir interpretações tendenciosas e falaciosas. Na elaboração da lei, decretos, normas em geral nasce o problema que desemboca e desenvolve-se no processo judicial, nos recursos e julgamentos do modo já visto e revisto. Somos todos meio culpados disto, por que votamos sem saber em quem, em partidos de ideologia só no papel, em pessoas do poder econômico, em caras bonitas e simpáticas, em fichas sujas. A maioria desconhece o que farão com o poder que concedemos. Alguns farão de tudo para se reeleger e para isso precisam de dinheiro e para ter dinheiro…. Os esquemas são de lesa-Pátria e assim deveriam ser tratados e julgados. Esquemas feitos por especialistas, conhecedores profundos dos sistemas nacionais, dos canais de poder, muito bem assessorados, idealizados e protegidos. Não seria mais positivo criar com tal inteligência empreendimentos honestos, positivos, reais, úteis a todos? Não. É mais fácil fraudar . O estelionatário não quer ser honesto, nunca. Isto seria uma degradação para seu intelecto. Aliás, não seria essa a cultura que veio com as primeiras naus, com os degradados, a de que trabalhar é coisa para escravos? Pensamento este radicalmente diferente do chinês, do japonês e do anglo-saxão, onde o trabalho enobrece o Ser e é fonte da riqueza.

É estratégico fazer pensar no pecado, criando-se sempre, uma falsa insegurança, toda vez que não forem observadas as formas, as regras, os passos procedimentais. Confunde-se a legalidade, tornando ilegal o descumprimento de meras regras de meio, totalmente vazias e inócuas, destinadas a segurar o trâmite, amarrar o caso. Pune-se a rapidez, desconfia-se da agilidade. Valoriza-se o ajeitamento, o palavreado, a estratégia processual e procedimental num país de códigos, regras, normas, resoluções, instruções, portarias, avisos, regimentos e regulamentos, estes dois últimos muitas vezes acima da lei.

Vale o protocolo, o controle do controle do controle, o relatório, o procedimento formalmente completo, as guias, as certidões, as múltiplas autorizações para liberação, para obter a concessão, o alvará, a decisão, o voto, para qualquer atividade. Segue-se certamente as regras pré-definidas, os procedimentos passo a passo, todos para garantir o império do meio processual, elaborado em detalhes científicos e “acadêmicos” para assegurar a maior delonga possível e assim proteger o ofensor, com seus interesses escuso de qualquer esquema micro ou macro. Quantos desses esquemas não estão neste mesmo momento em plena operação, tendo sucesso ou sendo acobertados ?

 É em plena República, o império da burocracia, dirigida por arcaicos interesses dos coronéis das fazendas de interesse e domínio da economia e seus representantes, tudo para proteção do “interesse público” criado pelos mesmos, mediante o estabelecimento de uma mentalidade cartorial, de registro e controle, sem o que nada existe.  

O barroco lusitano e espanhol luta com sucesso para se manter e assim conter a objetividade germano anglo-saxã, produtiva e positiva em resultados para todos. A pátria produz, fabrica, mas não exporta, não ganha, enrola-se em suas entranhas como alguém com cólica. Basta dizer que para relacionar-se com o mundo exterior, usamos um código comercial de 1850, protetor de coronéis da época e até hoje com poder dominante.

Repartições, divisões, sessões, coordenadorias de órgãos públicos da Administração em geral à Justiça enrolam-se em procedimentos, prazos, trâmites, fluxos e refluxos, em processos de meio de uma vida palaciana feita de assinaturas escalonadas, de decisões e atos administrativos complexos, onde o que é valorizado é a forma, não o tempo, não objetivo de vida, a finalidade. Uma vida de papel, mas altamente privilegiada e remunerada; imoral na essência de sua concepção desde há muitos séculos; cheia de protagonistas com a vida garantida, alguns só pensando nas férias e na aposentadoria.

Afasta-se a atividade oficial da eficácia, da competência ao valorizar a eficiência e os meios, crendo que a segurança dos meios levará a um bom fim, o fim de fazer não dar em nada no curso do tempo. Olha-se a rapidez e a agilização com olhos estranhos. Prega-se até que a Justiça é cega e tarda mas não falha.

E ao final, fica bonito e respeitado quem discursa longamente no palco, enrolando a Pátria, fazendo-a tolerar o respeito à coerência “técnica” , o meio pelo meio em si, o brilho da habilidade em palavras de enrolação procedimental, a festa dos meios, onde impera o advogado hábil, o juiz de eloquência, num jogo de cena, de entrelaçamento de interesses encomendados, de dissimulação acobertada pela liberdade de convicção técnica, de meias palavras, palavras ambíguas e pensamentos desconexos. Um salseiro intelectual sem precedentes.

Incrível país dos letrados intelectuais rocambolescos, que melam tudo, que mantem vasos de barro como ícones de sua tradição. Ultra remunerados por uma população de forçados miseráveis em ideias, ações e reações, abusam do discernimento, do bom senso. Vence a burocracia; sai vencido o cidadão honesto, o trabalhador de todas as profissões, o alienado tarefeiro obrigado a concentrar-se na satisfação de suas necessidades mais básicas, a juventude com futuro enrolado, o país de uma Pátria que é obrigada a dormir eternamente, porque é esta a finalidade última, fazer dormir, enquanto poucos estão de olhos bem abertos, dominando e fazendo de tudo e como querem com suas palavras, seus votos, seus recursos palacianos e acadêmicos.

Inebriados com seus fabricados sucessos e eufóricos salários, alguns esquecem da opinião pública, esquecem que lei, Direito e Justiça são aspectos diferentes e quem recebe o Poder para fazer Justiça, deve fazer uma análise, sim, do vento, do tempo, do relento, do movimento, do espaço e do senso médio da Pátria tem sua alma dirigida pela ética e pela Moral católica do humano de todas as fés.

Qualquer um da Pátria, do rico ao pobre, da mais alta autoridade ao jardineiro, todos tem espírito e sabem o que é certo ou errado. A Pátria pode estar dormindo, agora em último sono, mas pode acordar, quando sonhar tornar-se insuportável e cada cidadão for desacreditando no modelo posto. A juventude, letrada ou não, seguirá este modelo dos adultos? Seguirá pelos mesmos caminhos ou já entendeu a essência deste modo de ser? Isto tudo não reforça ainda mais a tendência desta época que é de não se entregar a nada, de não respeitar instituições de qualquer natureza? Isto já não explica a alienação, o abandono dos estudos, a falta de mão de obra qualificada, a falta de médicos e engenheiros qualificados?

Pois é possível perguntar: de tudo isto, de toda esta parafernália montada, é evitada a corrupção, o desvio, os grandes e pequenos esquemas? Não. Tudo é facilitado e protegido pela própria inoperância do sistema adotado. Os grandes esquemas milionários de fraude e corrupção só são descobertos por que há denúncia, mas estão formalmente corretos, preencheram todos os passos e regras da burocracia, pagaram todas as guias e forneceram todos os dados e informações, tem licença e autorização para funcionar. A fiscalização, a auditoria etc jamais chegaria ao centro do esquema e se isto por ventura acontecer e houver pessoas influentes envolvidas, há ainda todo o caminho burocrático processual judicial, que pode contribuir para que o tempo e as palavras intrincadas façam esquecer tudo. E mais, possivelmente só os operadores do esquema vão ser punidos. As grandes figuras nunca, pois isto abalaria todo o jogo político de negociações, cargos e apoios. Certamente, argutos pensadores da intelectualidade sairiam em defesa com suas argumentações, sistêmicas e extraídas da legislação e da doutrina, defendendo que os esquemas menores não podem prejudicar os maiores, pois aqui os “meios” justificam os fins; ademais o que seria da tributação e da geração de empregos nas milhares de lavanderias espalhadas pelo país ? Não seria isto então um legítimo interesse público com base na Constituição?

O mundo burocrático vive assim para si mesmo e seus protagonistas. Age pela convivência e oportunidade, onde o elemento político está assegurado em sua sobrevivência e perpetuação como meio de acomodação, estabilidade e adequação. Consome quase todos os recursos tributários vindos do setor produtivo. Torna inútil toda a malha de controle feita por tribunais de contas, auditorias, inspetorias, controladorias, inspetorias e fiscalização porque torna-se impossível fiscalizar e controlar. Deixa o cidadão atônito, indignado e silencioso, que aceita mais esta calado, afinal, de imediato nada vai lhe atacar o bolso mesmo.

O Estado de todos os níveis só vive para viver de si mesmo numa cornucópia de problemas internos e estruturais; um poço sem fundos, onde o ar é só para seus próprios integrantes. Sendo possível escutar a frase deslumbrada e autoritária: “não me importa a opinião pública”. Nada mais esclarecedor e emblemático para um comportamento vulgar e comum, aquele arraigado de servilismo funcional. Estarrecedora a comum realidade, só recentemente, revelada pela possibilidade de qualquer cidadão assistir pela TV o que se passa e como se passa e quem é quem, promovendo tudo isso com a maior convicção.

Fácil assim de entender porque processos são esquecidos nas prateleiras, sentenças só são emitidas após muito e muito tempo de procedimentos medievais e canônicos, inquéritos e tantos outros processos não dão em nada, autores que ganham, mas nada levam porque, no meio tempo muito bem enrolado, o réu ou o seu patrimônio sumiram. O réu, o autor, seja lá quem for, é público e tem sua opinião. Ela existe, respeitada ou não, mas alguns dos funcionários-rei, os nobres da corte, não estão nem aí para isto. Vivem do intrincado e minucioso tecnicismo de fazer pizza sem hora para servir.

Nas calçadas da cidade segue o silêncio insuportável de cada cidadão, que arde em seu foro íntimo, onde o juiz comum a todos é levado a julgar efetivamente que “algo está profundamente errado.”

Indignados ou inconscientes alienados, todos prosseguem com suas vidas. Afinal, hoje tem jogo de noite, amanhã é outro dia e Deus é brasileiro, vai dar praia. E mais, lembremos que o império da burocracia já sofreu um programa de desburocratização na década de 80, quando para certos procedimentos era exigido até “atestado de vida “ do requerente. Quantos cidadãos, após horas de fila, ao chegarem ao balcão de atendimento eram obrigado a voltar no outro dia porque não estavam de posse do “atestado de vida”. Era uma época de céu azul, a realidade era verde oliva e muitos preferiam estar mortos, mesmo que burocraticamente.

No país de papelada, dos prazos, dos trâmites esquisitos e dos procedimentos ridículos, nem a informática conseguiu agilizar a vida, pois conseguiu aprimorar e consolidar procedimentos e eternizar o período de preparo da festa, tornando-o a própria festa. Tudo com recursos públicos.

No reverso inconsequente e danoso do mundo montado aqui, nasce a impunidade, o sentimento de impotência do cidadão, a constatação de que “ isto vai dar em nada “. É o neoliberalismo da malandragem, alimentado pelas entranhas burocráticas do gigantesco monstro devorador das esperanças e do futuro nacional, já gravemente afetado pelo individualismo egocêntrico e materialismo.

No passar dos séculos, com a reiterada prática burocracia de enrolar e procrastinar para proteger interesses, foi nascendo um modo de ser, uma tradição e uma cultura administrativa burocrática baseada na figura intocável do festejado e protegido burocrata e tecnocrata, Seres acima de todos os comuns. Alguns destes iluminados, têm salário irredutível, não podendo ser removido do cargo, vitalício. Estão em palácios onde podem doravante expor suas convicções sem respeito ao senso comum, à moralidade média dos comuns, serão a Justiça em si, deuses da verdade. Eis a inacabável monarquia particular em plena República, cartorial, momesca. Mas pergunto: alguém desiste da possibilidade de tornar-se nobre ou rei? Quem não quer? Querem ser iguais aos que hoje existem ou pretendem mudar este status? Não seria esta parte centro da questão a ser analisada? As listas de candidatos estão lotadas. Levam ao pé da letra a lição de São Francisco de Assis, “aquilo que não puder mudar, aceite”.

Ninguém de sã consciência é poupado das ultrajantes óperas-bufa que são representadas simultaneamente, uma pior do que a outra, enrolando a Pátria em seus cenários. Um escândalo se sobrepõe ao outro na imprensa escrita e falada, já sem espaço para mostrar o acompanhamento de tanta barbárie intelectual e afronta ao senso comum. Não há possibilidade de o cidadão concentrar-se em um só, logo vem um ainda pior. Não é de agora, tem séculos, mas até quando ? Será que isto tudo é assim mesmo e só há no mundo esse modo de gerenciar a vida? De qualquer modo a solução nunca deve ser pela violência, mas pelo pensar em desconstruir este modo de Ser e adotar sistemas inteligentes, para colocar em prática os objetivos que estão na Constituição. Mas não há garantias que jovens, já tão condicionados pelas tendências atuais, não apelem para atos violentos em defesa de algum interesse de seu bolso e que coincida com algum outro momento, já que pensam estar o futuro tão distante mesmo.

Odilon Reinhardt.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Curumim, raízes. A cidade fica cada vez mais perto.



Que venham para a selva moderna, onde o invasor fez sua morada; que venham da floresta, da beira dos rios, das campinas e seus capões, hoje já diminutos oásis de pinheiros, flora e fauna da terra dos pinheirais. Venham para a cidade, onde é bem outra a realidade que os espera.

Aqui, curumim Tarobá, gente caça gente; põe fogo em gente de rua ou não; mata por dinheiro ou raiva do Próximo e sai andando como se nada tivesse acontecido; faz esquemas de trapaças e vingança para obter coisas e o poder; luta contra si mesmo e contra os outros; entra nas ocas de dormir para roubar coisas. Aqui, em cada esquina tem um perigo e quase ninguém está satisfeito. A maioria vive com medo e alguns, sendo exceção, apavoram a todos. Estes todos são as vítimas em potencial e andam de cabeça baixa, tenham ou não dinheiro. Alguns fazem protesto nas ruas e nada melhora. Alguns acreditam erroneamente no radicalismo, na violência, na anarquia. Outros querem discutir, dialogar democraticamente. Muitos esperam solução. Há insatisfeitos e satisfeitos com tudo isto, mas os satisfeitos tem medo de viver os itens de sua satisfação. Todos dizem que têm “vida moderna”, são atuais e politicamente corretos.

Venham índios!. Velhos e moços, brasileiros puros, venham ver o que, aquele que vocês chamam de “branco”, fez com a terra ocupada! De noite a cidade vira terra de ninguém, acidentes e tiros nesta floresta e muitos partem para o além. Em cada esquina a morte pode estar à espreita. Uma selvageria. É floresta de abaçai com muito abaité. Mulheres que querem ser homens e homens que querem ser mulheres. Assassinos e traficantes fazem ronda; ladrões ,como onças- sussuaranas, esperam a oportunidade. Há cobras, lobos, quatis, tatus, raposas e carcarás que você não identificaria de imediato como costuma fazer no mato.

Nas ocas de dormir, ocas, muitas delas empilhadas uma encima das outras, quase nas nuvens, tem seres da tribo que ficam na frente de caixas luminosas que lhes falam o que devem comprar e pensar. Ficam ali por horas, mudos. Não falam entre si. Cada um tem sua caixa e várias outras caixinhas onde falam e escrevem. No começo da noite, as caixinhas de cada oca também mostram as barbaridades de cada dia, violência e roubo do dinheiro da tribo; dão números sobre mortes da noite anterior, crimes hediondos jamais vistos em outros lugares do mundo, atrocidades e acidentes de carro. A cidade bonita em ruas e parques não é aproveitada de modo positivo.

Todo dia é a mesma coisa e nada acontece. Todos moram nessas ocas que são fechadas, cheias de grades, alarmes, segurança armada ou eletrônica com vigias, câmeras e porteiros. Vivem com medo do vizinho, do passante, do Próximo. Vivem com medo do medo, pois aqui mulher mata seu homem e vice-versa, filho mata os pais e a família, namorado mata a namorada. Gente anda em gangues para fazer coisas erradas. Mesmo na noite, alguns vão a ocas de barulho, onde comem, bebem, brigam escutam música muito alta, continuam com suas caixinhas iluminadas, falam pouco e usam muitas coisas para fugir da realidade.

Muitos gostam de se divertir vendo filmes de horror e terror, vendo uns matarem-se aos outros, matança, explosões, destruição, sempre em títulos negativos, pregando o caos e o fim dos tempos. Se você vier para a cidade, sua família será levada a ter uma caixa luminosa também e daí você poderá ver filmes como : Índice de Maldade, Pânico, Redação Mortal, Flashes de uma Psicose, Perigo por Encomenda, Os Matadores, Nascidos para Matar , Dementes, Queima de Arquivo etc. Na cidade os curumins da gente daqui e outros gostam de usar roupas de mensagem negativa, caveiras, morte, diabos, ossos e piratas. Fumam rolinhos de esterco de vaca e respiram linhas de farinha branca e dizem que “estão numa boa”. Depois acreditam que tudo volta a ser igual, nada muda. Voltam para suas ocas empilhadas ou não, onde ninguém se cumprimenta nem diz bom dia. Parece que se odeiam .

De dia, nas ocas de trabalho, onde passam de 8 a 10 horas todo dia, não se respeitam, lutam por lugares, poder e ter, uns contra os outros. Leem grandes papéis com coisas e fatos de ontem, olham números e tabelas, fazem mais papel e coisas de poluição e voltam para a oca de dormir, onde têm pouco tempo para falar com seus curumins e pias, descuidam deles e menosprezam os velhos de sua tribo.

Esta gente nada planta, nada cultiva, só gosta de papel e paga tudo com papel e plástico. Quando precisa de comida vai a roças onde tem de tudo, pega de tudo, mesmo sem precisar, e volta para a oca de dormir, onde fica gorda e depois doente. Faz reuniões de pajé e guerreiros em grandes lugares, ocas grandes de teto alto, onde escutam do abaré as lições de Tupã, mas depois esquece tudo e não pratica nada, mas sempre volta a estes lugares, como carneiros vão ao estábulo.

Você, curumim, saiba que o seu povo é feito de índios de povo valoroso, abaúna, donos da terra, hoje de futuro incerto, mas que já foram personagem da História do Mundo e da civilizaçãode, fato já mostrado em filmes, livros e teatro. Curiosamente a história conduziu para o fato que hoje o “branco” é que está decidindo o que fazer com os que de vocês ainda sobrevivem, inclusive com você.

Nos finais de semana, em grupos enormes, costumam reunir-se em grandes guarupês onde assistem 22 deles correndo atrás de uma bola. Simulam guerras, cantam hinos de agressão e depois vão pelas ruas quebrando coisas feitas e pagas pela tribo e caçando inimigos. Agridem uns aos outros sem pudor nem medo. Creem ser impunes, acima da lei de Tupã.

Guarani, tupi-guarani de todas as tribos, venham todos ver como a cidade pode acabar com vocês em um só dia! Aqui tudo é bonito, lustroso, brilhante, há ocas com coisas muito bonitas e vitrines luminosas, tem pajé para cuidar dos doentes e remédio para tudo, tem comida e muita coisa boa, mas muito branco está cego, perdeu o sentido da vida; muitos já estão malucos. O dito “branco “ não alcança a felicidade nem a consciência de boa referência, vive insatisfeito e em depressão num emaranhado de vazio, angústia, ansiedade, desconfiança e medo. Vai perdendo o crédito na boa-fé e nos seus irmãos. Fez da cidade uma complexidade barroca na medida em que valoriza os meios, um lugar desumano, cheio de truques, senhas, códigos, cartões, segundas intenções, pegadinhas. Exige de todos um nível de discernimento de super-herói, o que é quase impossível. Ninguém entende-se mais porque só pensa em si e seu umbigo. Tem doença invisível e tem depressão que os espíritos do mal trazem. Nenhuma pajelança consegue curar a cidade.

Se vocês índios vierem fugidos das selvas, que já estão acabando, estejam preparados para entregar suas almas, sua tradição e cultura em troco de nada, pois vão ser invadidos pelo vazio que assola o branco. A coisa aqui é maluca de verdade.

Na selva de pedra, irmão está contra irmão; não são amigos, são todos simplesmente “migos”, viram amigos ou inimigos conforme o interesse; a selva de concreto e caminhos de pedra não gosta de humanidade, de origens, só gosta de se perder no cipoal de sua própria mente, de sua realidade ambígua, de falsos propósitos criados por caciques detestados numa ciranda de destino incerto. O mundo aqui é de plástico, papel, concreto e vidro. E muitos têm orgulho de tudo que fizeram e fazem, dizem que é o “progresso”, algo que vem dos céus, inevitável, incontrolável e que têm que aceitar de cabeça baixa, mesmo que os reflexos para o humano são controversos em ações e reações e o grau de satisfação humana esteja sendo abalado.

Aqui, curumim, os viventes fizeram uma selva na qual vivem com pressa, são impacientes e intolerantes; há gente já insensível, calculista e frio. Talvez seja este o preparo para uma sociedade racional, automatizada, sem gente de coração humano. Mas por hora, se esta for uma infeliz transição, o que temos é uma série de muitos psicopatas, sociopatas e tantos outros com suas camufladas psicoses e doenças entre as duas orelhas. Tem pajé que só cuida da cabeça dos outros, trata de coisas invisíveis que a maioria menospreza em suas causas; já tem até curumim tratando de “coisas “ da cabeça. Doentes, curumins e outros sobrevivem com ervas que colocam em pequenos rolos de plástico, vidros escuros e que são vendidos em ocas onde o pajé fica atrás de um balcão só para isso, com muitas placas, anúncios e caixinhas bonitas .

Há tempo atrás, curumim, aqui viviam os tinguís, eles nem lutaram diante da invasão, foram se transformando, misturando. Seu último cacique, não vendo outra saída, fez o seguinte: “Ao pé da Serra do Mar, em algum trecho do caminho do Itupava, acontece a última pajelança tinguí. O cacique amuado, encontrava-se com um dilema: mandar todo o seu povo precipitar-se do penhasco do pico Marumbi, para não ceder ao povo invasor que subia a Serra ou, então, deixá-lo misturar e prosseguir no tempo.

A reunião épica adentrava a noite; a neblina do Iguaçu já ofuscava a visão de todo o pindorama, o pico Marumbi sumiu de madrugada. A tindiquera esfriava com a noite gélida sob o luar ao longe.

O cacique, usando de toda sua sabedoria, disse então aos pajés que todos deveriam retirar-se e que ele passaria a noite em vigília, junto ao fogo, bebendo da água dos seus rios, falando com o ar, andando por sua terra, consultando sua flora e fauna pelos caminhos da mata de araucárias, tarumãs e imbuias, de modo que pela manhã saberia o rumo a seguir e o que fazer.

Assim, o último e já velho cacique tinguí, sentindo que sua gente já estava se misturando aos novos chegados nas minas de ouro, na criação do gado e nos serviços do dia à dia da Core-tuba, naquela manhã, do alto do Anhangava, olhando o caminho do sol, que ia desfazendo a neblina, aceitou a verdade de que seria difícil sua gente sobreviver intacta nestes campos e pinhais.

Vendo que o tempo de sua vida já se encerrava, o cacique clamou ao ar que condenasse todo e qualquer dos invasores a respirar os mesmos ares cheios de amor por essa sua terra e do mesmo modo que os tinguís ainda respiravam disso pudessem se orgulhar.

O ar, atendendo ao pedido do cacique decretou que cada novo habitante fosse condenado, daquele dia em diante, a respirar e viver deste ar impregnado de intenso amor, fazendo nele reviver e eternizar cada Tinguí que sonhava com este solo até então só seu e abençoado.

E assim chegamos todos ao hoje, onde a Coretuba transformou-se em Curitiba, onde na cidade em sua gema nativa, ainda vive a alma mameluca da gente tinguí, gente do planalto, dos capões, dos charcos de água passiva, onde nasce o Iguaçu, das várzeas do rio Ivo e das colinas depois do rio Atuba.

O velho cacique tinguí, em atitude pacífica e de grande superioridade, conseguiu fazer com que sua gente sobrevivesse e fosse preservado o amor que tinha pela terra que Deus havia dado neste mundo, de modo que hoje todos que aqui chegam, respiram e trabalham para viver, só obtém sucesso quando agem usando aquele mesmo amor que lá do fundo lhes vem.

A terra, hoje, cresce, recebe gente de todos os lugares, prospera e tem futuro promissor, tem vida positiva e o Paraná aqui vai conseguindo tornar-se luzeiro, com a sua gente orgulhando-se de Curitiba que vive assim de tantos amores. E por força dessa lenda, todo e qualquer vida ou empreendimento que aqui seja feito, sem amor à terra e sua gente, está fadado a ser desfeito e o ar inconformado torna-se rarefeito e faz sempre lembrar a lenda do cacique que, com inteligência, fez seu povo seguir para o seu destino de sucesso em cada feito”.


Muitos anos depois. Não adiantou muito, o amor a esta terra e cidade não aparece com frequência. Os empreendimentos e negócios são só interesse passageiro, fogo fátuo ou de fachada; muitos gostam de se enganar e iludir uns aos outros. Muito do que se faz, só é feito por mais papel e com descomprometido amor à terra ocupada e sua gente. O cacique Tinguí jogou seu desafio, ele vinga até hoje, por isso muita coisa do branco é só por pouco tempo, não persiste; assim, seus caminhos ficam bonitos ao início, mas perdem o brilho, ficam destruídos, suas ocas apodrecem ou ficam comprometidas; suas ocas de trabalho não perduram ou só criam seres mais doentes e as ocas de dormir ficam cada vez mais em silêncio. Pensa o branco que a terra é eterna e não vê que está acabando com muito que nela existe.

Mas a gente desta selva não gosta de oposição e de crítica, gosta de errar e cometer sempre os mesmos enganos. A tribo da cidade é assim.

E hoje, curumim, como todo dia, deve ser dia de índio. Qual Índio, o da floresta ou o da selva de pedra? Que selva, a da cidade ou da floresta? Se não há mais floresta, só pode ser a da cidade. Pode? Curumim, se seu cacique e pajé decidirem mudar para a selva de pedra, não venha, fique aí, nem que seja para morrer com dignidade. A cidade, selva de pedra, já está ficando inabitável por seres humanos.

Já se passaram 513 anos de Brasil e o invasor ainda tenta fazer na terra ocupada um local bom para morar. O chamado por vocês de “branco “ é hoje uma idiossincracia de todos e tudo, é mistura de godos, visigodos, hunos, alanos, alamanos, ostrogodos, vândalos e burgundios, suevos entre outros que viviam em tribos na Europa e Ásia. De engodos em engodos, até agora estão tentando fazer um local de ocas de felicidade, mas só vivem infelizmente ansiosos, insatisfeitos, sempre querendo mais coisas do que têm, não conseguem acabar com um vazio que os invade cada vez mais. Muitos já parecem estar desesperados, inseguros, instáveis, estressados, irremediavelmente ansiosos, perdidos na estrada da existência que conseguiram.

A esperança é que um dia vão acertar, espero que não seja tarde demais. No momento estão desperdiçando oportunidades para construir uma sociedade com indivíduos tão sólidos e serenos quanto as suas construções materiais, garantindo assim a sustentabilidade humana de quem vai usá-las e preservando a liberdade, a criatividade , e a dignidade do Ser.

Os adoradores das coisas e do umbigo acham, no entanto, que tudo isto que só acontece por falta de dinheiro e boas condições de vida, portanto, creem que o motivo causador é a falta de coisas. Mas o motivo é outro, pois como explicar que o povo da cidade tem muitas coisas, mas vive mal, insatisfeito, amuado, violento? Poucos tem observado que há décadas o verdadeiro ataque não está sendo feito no bolso para comprar coisas, nos edifícios brilhantes e nas praças iluminadas e bonitas, mas na cabeça do vivente, alterando sua forma de pensar, condicionando sua vida, afastando-o da natureza humana. Mas você nem ouse provocar esta discussão, já que ninguém vai entender ou se aprofundar nela .

Curumim Tarobá, não pense que gostei de escrever isto. Não sou Renoir nem Matisse nem serei Salvador Dali, mas é esta a pintura rupestre que pude fazer das tendências que hoje tem andado na selva da cidade. Mais feio que boitatá.

Ontem mesmo, piá, vi na feira-livre de domingo de manhã, alguns de sua Nação, vindos para a cidade. Eram mulheres com algumas crianças, como você. Ficavam ali humildes e tímidas, à margem, com seus cestos de taquara pintada, tentando vendê-los, enquanto as crianças brincavam entre latas de lixo e frutas podres. A gente da cidade passava olhando, sem saber o que fazer, o que pensar. Passavam olhando aqueles seres humanos, brasileiros natos, com a curiosidade de quem olha os bichos do zoológico. Iam se afastando, não compravam cestos, nada. Assim, este, infelizmente, poderá ser o lugar que lhe caberá aqui, a margem. Viver à margem de tudo e de todos até conseguir, se conseguir, igualar-se a esta gente da selva daqui. E quando você se igualar, terá deixado seu povo, seu valor, sua cultura e tradição por nada melhor, se a cidade continuar aceitando a evolução de suas más tendências, que hoje a estão colocando de joelhos perante a História.

A cidade já é um mundo complexo, com regras e exigências , que estão difíceis até para seus próprios habitantes. É exigido uma atualização e um discernimento muito grande para sobreviver nesta selva. Os bons caciques e as altruístas pessoas interessadas no coletivo e bem comum já não sabem qual é o fio da meada, qual o essencial para normalizar a vida aqui. Soluções parciais são implantadas, mas o todo volta a confundí-los e acaba por anular a obra mais útil e moderna que seja feita.

Curumim Tarobá, você e seu povo são livres na locomoção, mas não venham para cá se não tiverem certeza que pode enfrentar a complexidade instalada. Tem muita gente que está fugindo da cidade. Boa sorte.


Odilon Reinhardt.