Muitos terão a falsa impressão de que a Justiça serviu
Pizzas.
O
país continua sua rotina ainda sem horizonte seguro. Apesar do árduo
esforço da maioria da população para viver, conviver e sobreviver,
muitos se dedicam às ações de esperteza e incomparável genialidade
criminosa, inteiramente coordenada pelos princípios basilares do “ganhar-ganhar”, “os fins justificam os meios”, “agora eu vou me fazer”, “é imoral mas não é ilegal”, “eu quero salvar o meu, o resto que exploda”, “o negócio é criar dificuldades e vender facilidades” etc. Uma cultura que está no sangue de muitos.
E
a imprensa é inundada por notícias de corrupção sem fim. E a corrupção
em suas mais variadas formas tem mostrado-se como a atividade lucrativa e
impune que só amedronta os honestos e as pessoas de bons princípios,
todos que já passaram a odiar o modo como se faz política neste país.
Mas esta falta de interesse é muito conveniente, pois ajuda a perpetuar
um grupo de pessoas que se dizem políticos e que estão no poder há
décadas.
O
pessimismo é inevitável e o dia- à- dia torna-se mais pesado e sem
muita cor. Aliás, a vida sem boa perspectiva fica maçante e contribuí
para uma vida coletiva sem muito prazer e esperança. Se a desmotivação e
a desesperança custam caro ao indivíduo, a soma destes é
geometricamente pior para a Nação. Padece a produção, o consumo e a
receita tributária. Pessoas desistem. Pior, jovens desistem, face à
impossibilidade de mudar a cultura dominante na política. Que armas
temos nós a não ser 1 voto a cada 2 anos e o direito de petição, este
facilmente afogado nas malhas da burocracia. A educação oficial apodrece
e o esmorecimento e a descrença nacional aumentam, sendo que nem o
futebol e os esportes conseguem mais ser pão e circo, pois também
afundam na corrupção, nos acertos e na lavagem de dinheiro. O Governo
diminui e empobrece. As reações são de violência, resultando esta
visivelmente do individualismo e do egocentrismo desvairado, com mais e
mais exemplos de comportamentos frios, calculistas e individualista numa
sociedade reduzida ao fisiológico.
A
imprensa escrita e falada fatura com a miséria da vida nacional. Não
tem nada de bom para mostrar. Predominam exemplos diários do pior, do
mais violento . A imprensa fica mais marrom.
Mas
é a imprensa que manda, que põe, que tira, que fala, que comanda mesmo
que o pessoal da mídia insista em dizer que somente mostra o que a
realidade traz. As imagens do dia a dia são mostradas, mas é na
elaboração da reportagem que pode nascer o teor das mensagens diárias
para a população, já impedida de pensar livremente, de ter discernimento
e esclarecimento livres.
Fatos,
imagens e o discurso do apresentador, tendencioso ou não, tem o poder
absoluto de gerar a ideia, a ação e reação. Há responsabilidade que pode
gerar debate democrático, mas também revolta e comoção individual e
coletiva, de modo que o equilíbrio é sempre necessário e é colocado em
prática através da existência de uma diversidade e multiplicidade útil
de meios de comunicação com opiniões e tendências diversas.
Todavia,
com as notícias, mormente as de corrupção nos Poderes da República, a
todos os níveis e em repetidos eventos, as imagens e o discurso da
imprensa, só pode nascer o sentimento de traição nacional, de nojo e da
inocente esperança de que as instituições façam tudo para que os
criminosos possam ir para a cadeia a fim de pagar pelos crimes contra a
Nação.
O
poder da imprensa em divulgar imagens e fatos forma a opinião pública e
atinge a todos. Quem não deseja que tudo seja honesto, correto e que o
país seja melhor para todos?
Mas
a sucessão de escândalos chega a ser até banalizada. Os esquemas
nacionais de corrupção assustam. Um após o outro, maior em sua
sofisticação, em sua importância, na quantia envolvida. Com a sucessão
de casos, somos levados a ver no espaço pequeno da imprensa televisiva,
fatos mais graves de modo que a cada o novo caso quase esquecemos o
anterior. O esquecimento é inevitável, mas fica a noção geral de que
este pessoal é podre mesmo e que tudo será esquecido, que tudo não dará
em nada, pois os “caras” não se amedrontam, não se intimidam.
De vez em quando, filigranas de algum caso ressurgem, pinçadas pela TV,
mas ninguém mais sabe do que se trata, pois o caso em voga é mais
atraente e escandaloso e está presente na hora do jantar em família.
E
pensar que por detrás do desenrolar dos preparativos para a Copa do
Mundo e outros eventos nacionais desenvolviam-se esquemas brutais de
corrupção. Mega sistemas de desvio do dinheiro público, engendrados por
cientistas malucos pelo Poder e ganância, operacionalizados por ratos da
Nação. Quais outros nunca foram descobertos? Quais outros estão neste
momento sendo desenvolvidos? Do mais longínquo município até a União o
que estará ocorrendo de sujo e desonesto? E as iniciativas do tráfico de
drogas e seus esquemas milionários?
A
esperança de cada cidadão é magoada por pontos de dúvidas e
desesperanças, mormente quanto à justiça a ser feita. Alguns dos ladrões
pretendem devolver o dinheiro e safar-se, pois afinal “não era nada pessoa, era só negócio”. Ainda mais um ponto de desesperança que sinaliza que o dinheiro compra tudo aqui.
Apesar
do sombrio futuro dos casos que Sérgio Moro tenta instruir e sentenciar
com amor à Justiça, fazendo lembrar a juíza do Rio de Janeiro que
colocou os chefões do jogo do bicho na cadeia e de tantos outros juízes
de valor que, sob ameaças e perigo de vida, decidem contra interesses da
máfia, das drogas e poderes políticos locais, o desejo e a esperança do
cidadão comum pode ainda acreditar nas instituições, mas no fundo é de
fazer Justiça pelas próprias mãos, se houver oportunidade. Deve-se
lembrar que o fisiológico reage fisiologicamente, portanto, em
violência. Neste tocante, será que os criminosos da corrupção podem
jantar num restaurante ou transitar na rua e aeroportos livremente?
Podem ir à praia e passear pelas ruas? Podem viver livremente? Sei lá, é
gente que se esconde em casas e carros de luxo , comprados com dinheiro
sujo lavado em restaurantes, bares, lojas etc , mas sempre sujo. Que
visão de mundo possuem? Qual o amor que possuem pelo povo brasileiro e
nossa Nação? Realmente se importam com as coisas e o progresso do país
quando vão para suas casas no primeiro mundo, para checar seus haveres
em bancos de paraísos fiscais? Vivem certamente em mundos paralelos,
elevados pela sua imaginária nobreza ou realeza. Eleitos ou não, são
nomeados para ocuparem locais nas empresas a fim de operacionalizar cada
assalto com frieza e um grau de competência criminosa de alta
esperteza.
A
justiça pelas próprias mãos não será feita, porque o indivíduo sabe que
será punido, embora a massa não. A massa no entanto raramente pegará os
ratos da Nação, pois eles só transitam às escondidas como apátridas e
degredados sem passaporte.
Seja
lá como for, haverá sempre um processo judicial, modo
constitucionalizado de se fazer Justiça. E é aqui que a imagem dos fatos
divulgados televisivamente, gerando o desejo de justiça pode contrastar
com o que realmente poderá ocorrer no Poder Judiciário em cada processo
e em cada condenação ou absolvição final.
O
cidadão comum poderá ficar bem decepcionado, pois não sabe das regras
processuais e da realidade jurídica. Poderá então haver uma frustração
nacional em relação aos desejo de Justiça como o povo a entende após as
imagens e discursos da Imprensa e a realidade processual e a condenação
final.
É
que na atividade processual perante o Poder Judiciário, em seus
Palácios, existe a realidade de cada processo feito de petições e provas
submetidas a regras e prazos processuais rígidos. Vale o que realmente
existe no papel , nas páginas do processo e não nas imagens divulgadas
pela TV. O que não está nas folhas do processo não está no mundo.
Ademais
deve-se levar em conta que no jogo do processo, laboram os advogados,
os promotores, os juízes etc e todos com sua qualidade variável. Se há
juízes de alta qualidade também há juízes que não correspondem aos
princípios do Judiciário, como aquele que desviou dinheiro e usava o
carro do bandido. Há juízes e ministros com seu histórico de estudos,
convicções, rumos doutrinários e sua subjetiva capacidade de julgar. Se
há advogados altamente preparados, eles podem estar do lado do bandido
ou do mocinho.
Muito
pode contribuir para que a realidade e o resultado da atividade
jurisdicional seja uma decepção quanto às expectativas do cidadão comum.
No julgamento do mensalão, o país parou para ver as sessões de
julgamento sem entender muito do que se passava. Muitos do povo sabiam
que bandidos da Nação tinham roubado do Governo. Parte do povo curioso
queria Justiça. A grande maioria nem sabia do que se tratava. As teses
do advogados variavam do absurdo ( não há prova escrita que demonstre o
envolvimento do cicrano ou beltrano), ( não havia dinheiro público
envolvido) a grandes teses polêmicas. O comportamento do Ministros era
igualmente polêmico e o bate-boca entre eles, nem sempre técnico, era
julgado pela imprensa. O resultado foi meia boca e ninguém sonhava com a
existência de algo muito maior que só seria revelado com a operação
Lava Jato, colocando a Petrobrás e a bandeira no Brasil a meio mastro.
É
assim que o processo judicial é um mundo à parte, um jogo entre
especialistas que pode resultar em total dissonância com a expectativa
popular, castigando a moralidade e obrigando o Judiciário a se curvar
perante o que foi demonstrado efetivamente no processo.
Teses
jurídicas podem nascer e serem bem aceitas, juízes podem divergir em
suas correntes doutrinárias, advogados podem falhar, prazos podem ser
perdidos, estratégias processuais podem fracassar ou não. A política
poderá interferir mostrando que Lei, Direito e Justiça são algo aspectos
diferentes.
E mais, há a pena para cada crime. Conforme o delito há penas severas ou não. Há a possibilidade de o réu primário safar-se de tudo e nunca ir para a cadeia.
Veja-se
que um grupo de empresários pode fraudar uma licitação combinando quem
será o vencedor, mas a pena para tal delito é somente de detenção de 2 a
4 anos e multa. A mesma pena é para quem der causa a qualquer
modificação ou vantagem ilícita durante a gestão do contrato.
Evidentemente, poderá haver a caracterização de vários delitos e haverá a
somatória das penas. Mas tudo dependerá do jogo processual e da
qualidade técnico-profissional de cada jogador e principalmente a
relevância pessoal e política dos bandidos.
O
novo código de processo civil, infelizmente ainda não há um novo código
de processo penal, prevê que ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz
atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência. E prevê ainda que todos os sujeitos do processo devem
cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva.
Nada
disso parece ser conhecido do processo penal, ainda enleado em muitas
brechas para defesa de posições sujeitas a pressão política e econômica,
mormente nos chamados crimes do colarinho branco. Ali há campo para que
a lei seja para os inimigos e os benefícios da lei para os amigos. A
burocracia barroca que faz a vida nacional e processual foi feita para
proteger e dar oportunidades de defesa de facínoras; está cheia de
chances de artimanhas e possibilidades de chicanas na administração
forense e no processo. Não se pode garantir a total isenção moral dos
participantes.
Certamente
os grandes chefes farão de tudo nos bastidores para salvar seus
bagrinhos, pois eles são os operadores dos esquemas que são
sacrificados. Contando com a sagrada blindagem de seus nomes e cargos
nada sofrerão, mas nos bastidores poderão fazer e prometerão de tudo
para salvar seus soldados, corsários, pessoas com permissão para
assaltar. Vários tem sido os casos em que o poder econômico está acima
dos bons princípios, da ética e da moral. A prepotência do dinheiro por
si só é manifesta, poderosa e compra muito. E se houver interesse
político no jogo, ela é superior a Deus. Ademais é bom ressaltar que os
grandes esquemas criminosos só foram, salvo raras exceções, descobertos e
investigados porque alguém não recebeu a sua parte.
É
assim que pessoas que: quase detonaram uma empresa nacional de porte
internacional; arruinaram suas ações no mercado nacional e
internacional; propiciaram com a queda do preço das ações a
possibilidade de compra das mesmas por preço de banana por parte de
grandes investidores; depreciaram o país e sua credibilidade; piratearam
o dinheiro público; traíram a fé de milhares de brasileiros etc,
poderão deixar de ir para a cadeia e deixar de restituir o dinheiro
roubado.
No
horizonte do Lava Jato e de outros processos pode estar nascendo mais
uma grande decepção para o povo brasileiro. Talvez mais pizzas sem
sabor, pequenas, emborrachadas de tão frias e que teremos que engolir à
mesa com gente de quem não gostamos.
Mas
se for diferente, já será um passo superior na história da Nação que
vem aprendendo a lentos passos. Mas enquanto isto, a população em vários
cantos do país segue em procissão de carestia; milhares continuam na
fila de espera do atendimento médico, milhares não tem dinheiro para
pagar a conta de água, outros tantos morrem em assalto por qualquer
ninharia, jovens continuam sem escola, a estrada continua esburacada, a
mobilidade urbana vira caos etc. O Estado empobrece e fica cada vez mais
claro que sem consumo e exportação não haverá salário para o
funcionário público de qualquer Poder nem emprego para o cidadão. A rota
do assalto e permanente abuso de gestão política bem como a negligência
podem agravar a miséria e o sucateamento material da Nação, já
comprometida há décadas em sua parte intelectual.
De
qualquer forma a operação Lava Jato e outras tantas passadas vão
lavando a calçada da História de nossa pátria. É lição, é aprendizado
para as novas gerações para que não sigam modelos podres. Os julgamentos
oficiais virão.
Talvez
aos olhos de muitos do povo pode dar em pizza face a inconsonância
entre fatos televisíveis e a realidade processual. Os atos judiciais
serão limitados à cultura e “establishment“ de nossa época e
obedecerão à lei que temos, mas no todo o sangue ruim estará sendo
lavado e erradicado.
O
Brasil é maior do que as suas pencas de bananas podres e suas moscas. O
Ministério Público, a Polícia Federal e a Receita livres e técnicas
assim como a necessária Imprensa igualmente livre são garantia de vida
para a Nação e para cada um de nós, meros cidadãos, mas que ainda têm
crença na Justiça e nos valores da Pátria, garantidos em última
instância pelo Exército, o que não se deseja, mas permanece como último
recurso para garantir a democracia e a integridade das instituições.
Odilon Reinhardt.
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