Chegaremos
a isto?
E
as grandes cidades continuam a menosprezar seus limites geográficos,
físicos e mecânicos. Os setores de alvarás continuam a autorizar
mega investimentos imobiliários e mega prédios, rendendo-se a
interesses imobiliários. São Paulo vive à beira do caos com
enchentes, falta de água e falta de luz fazendo o exemplo secular de
como será o futuro das grandes cidades brasileiras. A paulicéia
desvairada, orgulho do capitalismo nacional, impõe agora a todos a
provação do deserto.
Tal
cenário ainda em seu começar, já permite cantar a bola a partir do
fracasso do sistema Cantareira. Fazer imaginação neste campo árido
é possível e ao mesmo tempo lamentável e tétrico. Sem querer
esmiuçar os muitos motivos que geraram a situação, o fato
concreto, gerado pelas imbecilidades das motivações da baixa
política, é que vai faltar água. A chuva que cai no lugar errado
é tida como culpada, bode expiatório para problemas de cultura
política e mentira oficial.
Se
hoje já se observa a existência de rodízio, falta de água em
algum bairro ou cidade, falta de água por horas ou dia, logo é
possível projetar o caos para dias, semanas e meses sem água até
não existir mais água como realidade final.
E
então veremos em jornais notícias como agora jocosamente ainda
poderemos imaginar.
Não
será descartada a notícia de que: “homem é quase linchado na
periferia, por estar lavando o carro no sábado à tarde” ou “criança apanha por jogar copo de água no jardim”.
Continue-se
a decidir dando alvarás indiscriminadamente para atender a
interesses políticos e à falsa idéia de que a cidade precisa de
movimento, progresso e mais gente consumidora e veremos notícias
como “família perdeu a casa para pagar multa por mal-uso da água”
ou “Pai de família comete suicídio por não poder pagar multa
por excesso de consumo”, “menores fazem arrastão na praia e na
feira em busca de água", “Polícia alerta sobre roubo de
caminhões de água nas estradas”, “grupo armado sequestra dono
de fábrica de água mineral e exige resgate de um milhão de
garrafas de água", “preso homem que vendia água do mar
engarrafada”.
E
num jornal de grande circulação aparecerá “aumentam os
arrastões em Supermercados à procura de água" ou “polícia
mata quatro que tentavam roubar água engarrafada de dentro do
supermercado” e a mais incrível “financeira aceita pagamento em
litros de água”.
Certamente
a água sendo elevada à posição comercial de ouro transparente,
será possível um dia encontrar nos jornais o seguinte "preço do
litro de água potável atinge record na bolsa de
mercadorias de Chicago e já vale o dobro do barril de petróleo”.
Em
busca da água de beber, haverá uma revolução na criminalidade.
Nada valerá mais do que um gole de água. Assim, será comum que
jornais e a TV divulguem notícias como “Ambulante é preso por
estar vendendo água suja e de de chuva”, “Indivíduo
tresloucado, invade residência para beber água e tomar banho”, “Posto de gasolina furtava água de chuva do vizinho”, “Venda de
água no mercado negro atinge record de preço e Governo
fica inerte” , “Doméstica é demitida após furtar garrafas de
água e lavar roupas pessoais sem permissão”, “Dono de
restaurante vendia água do rio de sua fazenda como importada”.
A
falta de água previsivelmente terá impacto em todos os setores e
as igrejas farão cultos e missas para que chova no local certo e o
investimento público em obras tenha sido suficiente para aproveitar
a chuva. Certamente palácios do Governo, assembléias e tribunais
não serão afetados, pois a água será trazida de outros Estados
ou do exterior para garantir o interesse público.
Malandros
irão fazer proveito da situação e venderão a chuva do futuro,
prometerão locais da cidade onde a chuva é mais frequente, venderão
ações de companhias que fabricarão água a partir do ar e do
vento, comprarão grandes carregamentos de água vindos de outros
Estados para vender com alto lucro.
Na
baixa criminalidade, haverá assalto a caminhões isolados e em
comboio transportando água; policiais serão pegos dando apoio,
políticos serão envolvidos no tráfico de água e restaurantes
serão abertos para “lavar” o resultado da atividade.
E
haverá escândalos com a divulgação surpresa de prisões ao
amanhecer . Operação “Copo quebrado” , operação “Água do
Vizinho” etc, etc. O Governo pressionado pela opinião pública
aumentará a pena para o crime de roubo de água e advogados trarão
às cortes suas teses e doutrinas desesperadas. Livros serão
editados e o mercado faturará o caos.
E
as alianças políticas irão abafar tudo, tentando manter o Poder.
Tudo da polícia dará em nada e parte do povo continuará distraído,
massificado e robotizado, sempre pronto para obedecer os comandos
para consumir e só.
Toda
a criatividade, o jeitinho, a cultura popular será mobilizada e os
noticiários serão ricos em pérolas sensacionalistas como “dona
de casa briga com vizinha que roubava água de seu reservatório à
noite”, “chacareiro furtou rio do vizinho fazendo desvio do
leito do rio”, “supermercado sofre o 30º assalto em 20 dias e
estoque de água é zerado”, “fiscalização encontra milhares
de garrafinhas de água estocadas em casa de gerente de
supermercado”, “bando invade mansão e rouba a água das
piscina”, “bairros onde chove mais desviam água da sarjeta para
reservatórios comunitários”, “associação de bairros impede
entrada de cidadãos no bairro porque ele queria aproveitar a chuva
que ia cair”, “hotel cobra diária com adicional de 50% para
banho e 60% pelo direito de café da manhã”, “no Zoológico
macacos morrem de sede. Tratador é preso por levar água para casa”,
segurança de shopping espanca clientes que enchiam garrafas de água
no banheiro”.
Serão
esdrúxulas mesmo as modalidades de ações e reações humanas. O
Governo desmentirá tudo e prometerá água para todos em breve com
as novas obras. A oposição recomendará o abandono da cidade e a
volta ao campo. O Comércio desesperado prometerá descontos
fabulosos para cidadãos que permanecerem na cidade.
A
elevação da água ao "podium" de produto mais caro do
mundo será uma revolução nos negócios e o país poderá trocar
produtos alimentares pelo direito de navios estrangeiros pegarem água
nos grandes rios do país.
Apesar
de todas essas lamentáveis e por enquanto jocosas hipóteses, já há
avisos esparsos por aí. São Paulo é um bom fornecedor de exemplos
a serem estressados e estendidos ao máximo. Todavia, ainda há tempo
para manobras, para consertos e reparos no modo de como tudo está
sendo feito. É fácil, basta usar algo bem antigo: seriedade,
honestidade, objetivos corretos e rigor no uso do dinheiro e de todo
o patrimônio público, amor ao próximo nas decisões e projetos,
desapego ao umbigo, amor ao Brasil, tudo para salvar o bem maior que
é a água como patrimônio do planeta.
Continuemos
a brincar com a coisa pública, a aceitar o individualismo e o
materialismo pregado, a votar em políticos sem qualidade e
competência e nada mudará o seu destino e as consequências que
teremos que enfrentar.
Continuem
as administrações a achar prioridades diversas e de curta visão e
a gastar recursos com tais falsos objetivos; afundem em suas
burocracias e tudo tenderá para o agravamento das tendências
atuais. Deve-se cuidar do bom planejamento, pensar no futuro
projetado para as próximas décadas, é necessário saber imaginar o
amanhã e antecipar eventos e dedicar-se menos ao planejamento para
as próximas eleições. Deve-se escutar os técnicos e os
projetistas, mas.....
Continue
a luta entre órgãos públicos num “achaque institucional” de
cobrar multas e as empresas de saneamento serão enfraquecidas e
retardadas em sua missão, perdendo eficiência e eficácia.
Descuidem
os órgãos de controle das administrações, esquecendo que as
doenças da União são doenças do político nacional e de todo um
modo de existir, que se reproduz pessoalmente em qualquer lugar de
Poder e tudo piorará geometricamente.
Depois
de muita comoção, os meios de comunicação “preocupados” com a
desestabilização social e em plena aliança com o Governo ($$$)
pregarão que a água faz mal, dá câncer e provoca Alzheimer, pelo
que o bom é água de coco e sucos de frutas ou leite. Tudo estará
resolvido então, pelo lado do marketing político e da psicologia de
massa, mesmo que o mercado financeiro vá momentaneamente à
bancarrota devido à queda da ÁGUA e a subida do SUCO e do LEITE.
Tomar banho de leite e lavar o carro com suco será moda , não é?.
A
atropelada inserção do país nas exigências da globalização
econômica, sem preparo e estrutura humana e material, com a
persistente cultura política tradicional, só pode resultar numa
desorganização estrutural e escassez de recursos. E o culpado será
a falta de chuva.
E
esta chuva que não caí no lugar certo!!!!!!! Maldita chuva!
Odilon
Reinhardt .
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