Cantareira. Um aviso.
Ano de 2025. O cenário
tornou-se deserto. Acabou a água. São Paulo, arremedo de cidade americanizada,
chega a seu limite. A companhia fornecedora de água vai a pique. Aviso
ignorado. A Natureza chega ao limite. A população se apavora. Correm os
políticos. Justificativas. Promessas de recursos. Obras. Mas não tem mais água.
Em 2014, houve medidas tímidas
como racionamento ao início, para não afetar a imagem política. Logo surgiram
campanhas de redução de consumo. Restrições. Consumo em dias alternados. Depois
não tinha mais água e apesar de toda a tecnologia e informática, não havia quem
inventasse água. Faltou visão, planejamento, controle, investimentos. Houve
excesso de ganância ? As atitudes foram sempre para garantir a receita
crescente para garantir os acionistas? Sabe-se lá. Não havia mais água.
Apesar de a falta de água ser
um conhecido caos para todos, o foco neste texto é mais amplo. O caso leva
mesmo a outra realidade. O limite da cidade. Esgota-se o espaço, já
verticalizado ao extremo. Esgotam-se as alternativas de mobilidade. O humano não entende, pois tinha
tudo por eterno e infinito.
Foi assim que nos idos de 2014,
o caso Cantareira foi um gravíssimo aviso para as cidades, todas de portas
abertas para todos, concedendo alvarás de construção e ocupação, permitindo
tudo que a iniciativa privada e pública desejasse no campo imobiliário. A moda
era garantir o “progresso”. Mega prédios, mega loteamentos, sem olhar os verdadeiros
recursos e o meio ambiente. Valia o aqui-agora, a política do momento, o
progresso, a garantia de expansão do consumo como fonte de impostos, as
eleições. Uma corrida tresloucada que logo encontraria limites mais graves.
As cidades, já tornadas em centros
de adoecimento da população, verdadeiros centros de psicopatia, preocupavam-se
com o material, com a mobilidade urbana, ganhava o candidato que tiver melhores
alternativas para o transporte, para o trânsito, para assuntos que ainda podiam
ser melhorados, mas chegou o momento em que tudo estará esgotado. Ignoravam o
limite do que ilusoriamente tinham por ilimitado.
Exploradas pela ganância de
novos negócios e um idiótica modernidade,
as cidades ficavam na mão de interesses de momento, eleitoreiros ou não.
O relevante é colocado de lado, em último plano, não rendia votos. Prevalecia a
insensatez, o planejamento desconexo e a arquitetura chã e vazia de eufóricos
arquitetos sem gosto nem prazer.
Os sinais de esgotamento
aparecem aqui e acolá. O caso Cantareira era grave, mas passou com pouca
expressão, eis que misturado a notícias outras do dia a dia. Fazia parte das
preocupações para o futuro, mas no momento somava-se ao caldeirão de notícias, todas fracionadas e
diversificadas, colaborando assim falsamente para a amenização dos impactos de
certos assuntos graves na população, que inconsciente, seguia sua rotina cega e
inconseqüente.
É assim que a persistirem as
tendências atuais e seu persistente agravamento, sem que se observe nenhuma
mudança na condução da gestão pública e nos hábitos da população, as cidades
terão que fechar suas imaginárias portas e viver entre seus virtuais muros,
face o esgotamento de seus limites geográficos e recursos naturais. Ficarão
cada vez mais discriminatórias e desiguais, cada vez mais insustentavelmente
caras para o ser humano.
Ocorrerá a resultante de
imposições não democráticas, do uso da máquina pública para atender interesses
privados e públicos de duvidosas
pretensões, da implantação de interesses de balcão e sua manipulação no
legislativo, da ausência de decisões para beneficiar o povo em câmaras
municipais inoperantes e alienadas, dá má aplicação dos recursos públicos, dos
desvios, das maracutaias etc. Teremos, então, enfim, a cidade contra seus
cidadãos; um amontoado de prédios dependentes, no limiar da falta de luz e
água.
Já temos, hoje em 2014, exemplos em cidades do interior, onde por
vezes só há água transportada de outros lugares. É só o começo. Cantareira é um
sinal grave a ser lido.
É mesmo incrível pensar que com
tantos rios indo para o mar, vai faltar água em muitas cidades e será muito
caro levar água para muitos lugares. O transporte e o tratamento ficarão cada
vez mais caros. Mesmo em Curitiba com tantos mananciais, já vimos a estiagem e
a ameaça de ficar sem água. Uns milhões a mais na população e estaremos em
outra realidade.
No espaço urbano já estão
surgindo limites antes tidos por inexistentes. Políticos só têm a visão
umbilical de 4 anos e não enxergam limites para seus interesses de reeleição. O
futuro a Deus pertence.
No espaço mundial, há exemplos
copiosos da limitação em vários setores. A
China não quer mais gente, estimula a saída de sua população para outros
lugares do mundo, cobra imposto sobre crianças nascidas; Israel vai acabar com
seus rios e assim por diante. O Japão recicla todos os tipos de materiais. A
cidade de Caracas na Venezuela, diante da pane governamental, mandou os
cidadãos tomar meio banho e se possível só aos sábados. Curitiba quer mais
barragens para garantir o futuro. Adeus Parque Bariguí, pode virar
reservatório.
O uso da água será cada vez
mais seletivo, caro. Sua produção exigirá mais custos de operação. O reuso
aumentará e será obrigatório dentro das residências e fábricas. O uso da água
da chuva aumentará e esta água, poluída,
não servirá só para limpeza, será para beber. Ninguém ousará restringir
diretamente o ir e vir como direito constitucional, mas por outros meios haverá
restrições de alvarás para construção e ocupação urbana, barreiras tributárias
etc. Mudar para a cidade ficará mais difícil e caro; mesmo a periferia terá seu espaço esgotado.
Talvez a cidade cobrará uma
tarifa extra por consumo de água além de uma certa cota por pessoa. Lavar
calçadas e carros só com água da chuva. Haverá restrições sérias ao despejo de
certas substâncias no esgoto doméstico que possam encarecer o tratamento. A
Indústria terá que rever seus produtos químicos utilizados para reduzir o
veneno de hoje. Curioso será se surgirem medidas proibitivas e restritivas como
a de lavar roupas mais do que duas vezes por semana; haverá para esta regra e
outras tantas os fiscais de uso d´água com poder de autuação e aplicação de
multa. Aumentará o furto de água.
O cidadão urbano que se
prepare, viver na cidade será caro e restritivo a muitos hábitos de hoje. Hoje
a cidade já não resiste a 1 semana de greve
no serviço de coleta de lixo. Após esgotarem os estoques, não resiste a
3 dias sem água, 2 dias sem luz, 2 dias sem produtos da horta, leite e carne.
Isto mostra que a cidade depende de uma regularidade, um equilíbrio e já está
vivendo no limiar deste. Um fantasma que mora nas suas entradas.
Pode ser que a Cantareira não
seque por completo, mas já serviu para encher o futuro de grandes sinais de
aviso e alerta, como os que arriscamos prever para o ano de 2025,no início do
texto.
Neste sentido, - Psiu! Garçon!
Por favor um copo de água! - Perdoe senhor: água potável só nos sábados e
domingos! Tem da chuva de ontem, serve?!
Odilon Reinhardt.
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