Ver
com transcendência.
É
mesmo muito difícil de escapar das condicionantes de momento na
vida, porque elas embaçam a visão, perturbam a mente e impedem a
consciência.
Por
trás de poderosos condicionantes, há um pano de fundo, um cenário
verdadeiro, onde está sendo registrado o real progresso individual
de cada um e também o da própria Pátria.
Todavia,
é exigido um olho especial, o olhar da alma, para filtrar a
realidade, despojar-se de todos os aspectos momentâneos, passageiros
e perfunctórios do dia a dia para efetivamente ver o pano de fundo.
Assim
é que facilmente temos a visão invadida e distraída para que ela
se mantenha turva quando da tentativa de leitura da realidade.
Impedidos de ver com nitidez, nossa atenção é voltada para
distrações que nos impedem de ver o que interessa, o que é
relevante e essencial para a vida.
Diariamente,
notícias tendenciosas, plantadas pela guerra do Poder no mundo
político e comercial, polarizada entre situação e oposição,
tendem a ocupar o noticiário, fazendo o momento, gerando a realidade
aparente. O noticiário invade a casa do cidadão, já preocupado com
sua vida, seus afazeres e contas; ajuda a construir uma colcha de
retalhos de um quadro difícil de ser visto em sua integralidade. A
visão da realidade é perturbada pelo caleidoscópio criado; vem
cheia de falsas imagens, falsas retas e esquinas, falsas cores etc.
Assim
torna-se cada vez mais fácil controlar a opinião, o senso comum, o
ideário popular à base de tal fragmentação, gerando uma realidade
aparente pulverizada, cheia de factóides, falsos valores,
prioridades, cronogramas, falsos prazos em eventos mantidos pelo
sistema de pão e circo.
Com
esta visão dificultada, difusa, confusa, fica o cidadão perplexo e
facilmente é acometido da síndrome de cão vira-lata, com baixíssima
autoestima. Sua visão é dispersiva, sem boas perspectivas, é a do
agente do caos e da ideia de que tudo esta perdido, desconexo e sem
esperança. Exatamente como desejado por seus manipuladores.
O
cidadão, já atordoado, foca na sua vida, desliga-se do geral,
despreocupa-se com o todo, delega o coletivo para os outros,
afasta-se do interesse público geral, guardando para si somente o
amarelado sentimento de que algo ou tudo está errado.
Esta
ideia de abandono, de desligamento é a chamada alienação. Esta
realidade favorece a manipulação à base de propaganda e
contra-propaganda, veiculando falsos propósitos e interesses
objetivos de momento que o cidadão recebe na sala de sua casa junto
a seus familiares, sem saber do que se trata e a onde tudo pode ser
encaixado, enquanto na tela de fundo algo está sendo registrado em
definitivo. Há um inquietante silêncio, mas na primeira
oportunidade criada no dia estoura em violência e represado
protesto.
O
cidadão mantido dentro de uma imagem fragmentada fica retido no
momento, no passageiro, na onda da moda do dia; é condicionado a
acompanhar notícias sem pé nem cabeça e acaba por modelar seu
comportamento dentro de planos pessoais igualmente passageiros numa
vida dita de curto prazo, de curto pensar e de passageiro existir,
preferindo nem pensar na falácia espiritual em que está se metendo.
A preferência é pela vida aqui-agora, sem nada de mais aprofundado,
para não dizer filosófico.
É
a visão que se pode ter, por exemplo, do sobe e desce dos preços
anunciados no dia a dia, deixando-se de observar a Economia, a origem
e qualidade dos produtos etc. Na variedade e mutação dos eventos e
programas que são impostos à visão, não se nota que é a própria
vida é que está sendo mal usada. Equivale a dizer que no sobe e
desce do dia a dia, deixa-se de observar que a escada está gasta e
pode quebrar. São só exemplos para acordar a mente e mostrar que a
distração de todos pode ter consequências desastrosas para a vida
pessoal e para a Nação.
Cidadãos
cegos e destemperados, não conseguem filtrar a realidade aparente e
ler o que está sendo escrito no pano de fundo, no cenário da vida,
a fim de verificar o comprometimento da própria existência.
Sabedores
da presença usual dos mecanismos de dispersão, fragmentação e
pulverização da realidade, confundindo o discernimento e o espírito
crítico do cidadão, a existência do semi-analfabetismo e uma já
criada cegueira coletiva, os interessados em tirar proveito de tudo,
intensificam o poder de manipulação e neste sentido impõem modas,
hábitos de consumo, agendas e modos de pensar nem sempre de modo tão
subliminar. Criam um novo modo de ser, um novo e mágico existir que
só contenta aos incautos e inexperientes. Manipulam o país como
querem e quando querem e seguem uma linha já há muito tempo
traçada.
Assim,
fica fácil dizer que “está tudo bom”, “que a vida é assim
mesmo”, que “as coisas são assim”, que “ nada se pode
fazer”, que “ terra ” é bom para a pele do nariz, etc e os
seguidores cegos e contentes, eufóricos e distraídos acreditam em
tudo e compram terra etc e assim passam o dia como se o seu tempo de
existência de vida não estivesse diminuindo dia a dia bem como suas
energias para melhorar.
Mas
como tudo tem um limite, logo a falácia é descoberta, não porque o
seja pelo conceito, mas porque outros interessados querem impor sua
mentira e precisam de espaço para isto. Os novos brigam para impor
aos cidadãos que a terra cria câncer e o bom mesmo é “areia”.
O cidadão, então, passa a comprar areia, até que a areia seja
suplantada pelo “pó de asa de borboleta” numa próxima campanha
publicitária.
E
por consequência, usando terra, areia e pó de asa de borboleta a
vida do cidadão é preenchida no dia a dia, esquecendo que o nariz
em nada mudou, continua nariz, mas agora já está em outra idade. A
vida passou e a Nação já está com outra tela de realidade,
escrita sem a participação dos seus distraídos cidadãos.
Considerando
que uma Nação é feita de pluralidade e diversidade de uma
população composta de pessoas em idades e estágios de vida
diferentes, será difícil imaginar que não existirão cegos e que
poucos enquanto poucos são os que podem ver o cenário de
fundo e pensar. Isto porque só é possível ter consciência com
educação da mente, experiência de vida, aprendizado pela dor ou
amor, pelo pensamento.
Portanto,
num cenário de pão e circo constante, haverá pão e haverá circo,
platéia, animais e artistas e alguém estará querendo vender terra,
areia ou pó de asa de borboleta e haverá compradores para tudo.
Isto porque assim é a vida de teatro, enganação e um pouco de
lucidez nacional.
Seguir
a turma já não é mais seguro. É necessário acordar e ver não só
o que estão oferecendo como alimento para comer no dia a dia mas
também, e com muito mais importância, o que estão oferecendo para
pensar. Com este sistema imposto de distração e manipulação estão
mexendo com o Ser da Nação, como seu modo de existir e pensar.
O
desafio é que a esta altura, o individualismo egoístico e o
materialismo já tornam quase impossível que o indivíduo comum, tão
espezinhado e robotizado em suas tarefas e compromissos, desligue-se
da visão curta e tente ver o transcendente quanto mais o futuro,
mesmo que imediato.
Seria
ideal que cada um tentasse filtrar a realidade presente, infiltrasse
seu olhar pelo entrelaçamento das condicionantes atuais e
conseguisse chegar à visão real do que está acontecendo com sua
vida física e mental por consequência da sucessão repetida de
ataques a sua liberdade e saúde.
E
assim procedendo, que pudesse avaliar se sua vida futura não está
sendo comprometida pelas ilusões atuais. Seria um ato de
responsabilidade e carinho com sua própria vida e para com a Nação
onde vive, a qual depende de indivíduos livres, pensantes, saudáveis
e produtivos.
Odilon
Reinhardt.
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