terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sinais e Sementes




Há sinais no presente que não estão sendo lidos nem percebidos adequadamente. A banalização e a vulgarização tornam-se hábitos em decorrência da pluralidade e repetição diária. A violência diz mais do que a simples dor da vítima e denuncia um futuro que pode ser comprometedor.
Algo está profundamente errado. Os tecnocratas de todos os governos pensam em saídas materialistas e apresentam soluções inúteis, transitórias e que sirvam tão somente para diminuir o risco de desprestígio político e as consequências eleitoreiras. Contudo, leva-se ao pressentimento de que o Estado brasileiro como instituição, independentemente do governo/inquilino do Poder, está perdendo o controle e dá ao país e seus estados um panorama de avacalhação nos serviços públicos e no papel de regulação dos setores da vida, com reflexo no tecido social, onde o cidadão sofre a penúria do dia a dia.
A cidade já virou um problema. Concentra o ser humano. Vira uma armadilha em cada esquina. O cidadão vive com medo.Medo disso e daquilo. Medo de viver, de conviver, de ser feliz, de falar. Sofre duramente o sistema urbano que ele mesmo ajudou a alimentar, resultante do individualismo e do materialismo que geram sonhos e frustrações em incautos cérebros abandonados, tal a impotência de participar na constante competição e no jogo de comparações entre os seres. A fuga surge como um instrumento útil para desaquecer a pessoa e assim a cidade vive de oportunidades de fuga. As causas para a fuga são desconsideradas, pois as consequências rendem mais necessidades e consumo
Muito tem ocorrido. Se todos os fatos acontecessem no mesmo dia ou semana e na mesma cidade, teríamos o caos humano. Felizmente a violência é diversificada e ocorre em lugares diversos e ainda é uma exceção. Todavia, há sinais de que o Ser Humano não está aguentando o tranco.
No dia a dia e todos os dias somos surpreendidos com eventos chocantes e até inacreditáveis, que nos fazem pensar sobre a natureza humana e sua maldade. Recebemos em casa através de jornais e Tv o relatório diário das barbaridades cometidas de cada Ser contra Ser. Uma chuverada de pessimismo e incredulidade, mesmo que tudo seja ainda exceção. A tendência assusta.
Se observarmos bem as atitudes do Ser Humano na cidade tem evoluído do simples ladrão de galinha, do conto do paco etc,para ações inusitadas à busca de coisas materiais e agressões ao Próximo como: uma escalada de andares de um edifício para furtar ou roubar; formação de gangues para assaltar condomínios verticais e horizontais; sequestros relâmpagos;falsificação de cartões de crédito e de conta corrente bancária; a montagem de estruturas comerciais para fraudar licitações e contratos, assaltando o Poder Público; o furto com substituição de peças novas por usadas em carros deixados para conserto; a entrega de pizza ou flores como meio de assaltar residências e empresas; o golpe do falso taxista; o exercício ilegal da medicina por falsos médicos; o atendimento médico por profissional que engravidava pacientes; a aplicação no corpo de produtos de má qualidade ou de validade vencida; o reaproveitamento de acessórios hospitalares.
O Ser Humano tem agido como um ente perverso, desesperado, tendo perdido o senso de ética e moral diante das dificuldades da vida. Vários têm sido os casos de golpistas que enganam aposentados em empréstimos e no INSS; traficantes acumulam bens de forma surpreendente, ultrapassando as necessidades normais de um Ser Humano e sua possível e natural ganância, num hedonismo exagerado e com evidente vontade de Poder; pessoas comuns cometem atos, que podem causar grandes consequências como o borracheiro que vende pneus frisados; a gangue que vende o gabarito de respostas de provas de concursos; os vândalos que roubam cabos elétricos; as gangues que assaltam escolas para roubar computadores e fazer depredação; o traficante que oferece drogas a estudantes na frente das escolas; os grupos que assaltam ônibus de turismo, fazendas e chácaras; os que se ocupam com esquemas de corrupção de jovens e aliciamento de moças para exportação; contrabandistas de cigarro; os falsificadores de diplomas de graduação; as faculdades que vendem diplomas de profissão; os policiais que assaltam traficantes.
Esta corrida para ficar rico, para ter dinheiro, para não ter que trabalhar, para ter tudo, para ficar “numa boa”, só pode decorrer da falsa visão sobre o valor do trabalho e desenvolvimento pessoal. Algo que desembarcou junto com as caravelas. Aqui, muito tempo depois, trabalhar ainda é sacrifício, é punição. Lutar contra o trabalho é quase uma atitude comum. Trabalha-se aqui com o sentimento de revolta pessoal, de estar preso, esperando a hora de libertar-se . Em vez de trabalhar como atividade integrada à harmonia do dia, muitos lutam contra si e contra o trabalho. A cultura é de ficar numa boa o mais rápido possível.
Há estímulos constantes ao comportamento egoístico e pessoas cultuam um hedonismo exagerado. Cheias de vontades materiais para preencher seus hábitos de conforto e bem estar pessoal, os desejos de consumo não tem limites, deixam de lado o respeito e os escrúpulos quando há qualquer contrariedade, o que gera conflito com o Próximo, pois é levado pelos mesmos interesses pode agir ou reagir. Já é um efeito do individualismo egoístico que está sendo reforçado subliminarmente pelos meios comerciais. Pode tornar-se comum a selvageria do egoísmo de sobrevivência, referenciado pelo medo de perder ou não ganhar e pelo medo de perder o domínio.
Todos os dias escutamos aberrações de comportamento que afogam a solidariedade e a fraternidade, atacam o Próximo e quebram o senso comum. Há gente que desvia donativos destinados a pessoas vitimadas por fatos de calamidade pública; pessoas que fazem ligações ilegais de TV a cabo; escritórios de advocacia para defender traficantes e fazer planejamento tributário no mal sentido de enganar o Fisco; pessoas que dão cursos de como fraudar a fiscalização de obras públicas; hospitais que fraudam o sistema público de saúde; contadores que são especializados em fraudar o INSS; contador que autentica falsamente as guias de tributos; há os que fazem escritórios para captar pornografia infantil; os que fazem redes de pedofilia; padres que se tornam pedófilos; o juiz e o seu assessor que vendem decisões; o cartorário de imóveis que se apossa de terras alheias; o fiscal que vende alvarás; o fiscal de obras que faz uma rede de corrupção; o construtor que usa materiais baratos e areia imprópria para a construção; o vendedor de produtos naturais a granel que só vende produtos vencidos; o funcionário responsável pela coleta do caixa dois; o político que barganha votos e recebe mensalidade para isto; os funcionários fantasmas; a TV denunciando que um cantor famoso em sua turnê pelo Brasil tinha escolta de dois policiais ao pichar muros da cidade. A Juventude deve perguntar porque ela não pode pichar se seu ídolo pode.

Em cada ato, em cada fato do dia pelo país, há sinais de uma insensibilidade crescente, de um abandono do respeito ao Próximo e o sinal maior de que o indivíduo, já condicionado, manipulado e robotizado, está perdendo o controle e dando vazão à sua raiva, ira, ódio ao semelhante. Ainda é uma exceção, mas assusta. Também na década de 1960 eram poucas as pessoas que usavam barbituricos, bolinhas, anfetaminas para sair da realidade como simples diversão. Ninguém dava bolas para isto. Mas a cantora Elis Regina, famosa e rica morreu disso, e foi uma grande perda para a música nacional. Hoje o império da droga está em todo lugar.
Há atos inusitados que vem de indivíduos assombrados por fantasmas internos. Assim, há o jovem que dispara o revólver na frente do bar e mata alguns de seus semelhantes; o namorado que mata a ex-namorada por ciúme; jovens que jogam ácido ou álcool no rosto e corpo da namorada ou o jovem que manda docinhos envenenados para a festa de aniversário da ex- namorada; o violador de crianças e jovens; o grupo que aplica o golpe do boa-noite cinderela etc, etc; o padrasto ou companheiro que mata as crianças da mulher por ciúme; marido que mata esposa e filhos sem explicação alguma; a mulher que coloca fogo no marido para livrar-se se surras diárias; o filho que coordena o assalto à casa dos pais adotivos; existe o bullying nas escolas e a invasão do domicílio através dos computadores domésticos, violando a vigilância dos pais; há falsas babás que adormecem crianças com gás; a cuidadora que maltrata idosos; gente faz redes de exploração sexual da infância e juventude. Mas tudo é entendido como um problema pessoal, uma reação individualizada e nunca um problema social consequente de um sistema de vida inadequado que todos alimentam e levam em frente. O descaso levará a algo pior. A convulsão social seria o caos e o pior caminho para a Nação.
A Cidade dos Homens afunda em atos desesperados e nenhuma autoridade assume a responsabilidade de atacar o problema, pois afinal, a culpa é jogada para os governos anteriores e a um sistema que aparentemente ninguém mais controla. Dizem comumente como justificativa “ é o progresso”, “é a vida moderna” e todos se calam como se nada pudessem fazer. A preocupação é com o dinheiro, com as coisas, tidas como geradoras de sentimentos e emoções. Há os que se ocupam com a falsificação de dinheiro; com a falsificação de CD´s e DVD´s; há os da fábrica de produtos piratas onde relógios e roupas de marca são produzidos; a oficina de clonagem de veículos; o eletricista que faz “gato”, de ligação de luz ilegal; a gangue que frauda a loteria, passaportes etc; há os que falsificam ou contaminam o leite das crianças; há empresas para falsificar gasolina etc. Não há escrúpulo algum. Surgem os canalhocratas que de longe já esqueceram o que é respeito, dignidade, competência, mérito. Difícil deixar de pensar, por um só instante, que tudo isto não vá trazer consequências graves a curto , médio e longo prazo.

É assim o que está ocorrendo no país diariamente. Assustador. O cidadão vive com medo. A cidade exige muito discernimento, o que não existe. O stress social já não é mais desaquecido pelo sistema oficial de “pão e circo”. Há grupos armados de radicais que matam gente de cor, homossexuais, mendigos, prostitutas a título de limpeza; há grupos dos chamados pit-boys que atacam pessoas nas festas e bares sem qualquer critério, só pelo esporte de atacar o Próximo; pessoas são caçadas em arrastões; motoristas são assaltados nos sinaleiros, no portão de casa, no estacionamento; há pessoas ocupadas em usar nomes de pessoas humildes para alimentar esquemas fraudulentos; pessoas que usem nome de falecidos para praticar crimes. A população vive atrás de grades, alarmes, cercas elétricas, senhas e câmaras de filmagem. Já há na cidade lugares chamados cracolândias , ocupados por drogados permanentemente e locais em cidades onde à noite o cidadão comum não pode mais passar. O cidadão tem medo de chamar a atenção, até mesmo de mostrar suas conquistas e seu suposto sucesso material  num sistema cuja finalidade é premiar o vencedor, o campeão.
A mediocridade toma conta e nivela a vida nacional. O normal é orientado pelo padrão medíocre. Não há mais confiança no Próximo. O indivíduo recolhe-se, isola-se. Isto é bom? A desconfiança é geral. A alienação social é consequência obrigatória para que o indivíduo possa concentrar-se na vida do dia a dia, onde pais e mães precisam cuidar da família, colocar comida na mesa. Isto é bom para quem lidera, para quem gerencia o país, pois nada melhor do que um povo forçosamente alienado, deixando de olhar o que acontece, criticar e falar em política.
Mas as consequências não são silenciosas. O Estado está enfermo e a pátria também. Cresce o número de desajustados, deformados, revoltados e segregados. Há violência motivada pelo rancor social das diferenças. A juventude está acordando e vê a discriminação econômica. O que quase todos os materialistas esquecem é que estradas e pontes caídas fazem dano material que pode ser solucionado com a reconstrução, mas quanto custa a recuperação de uma alma amputada, de uma vida morta-viva, etc? A Nação não tem problema de quantidade de terra, riquezas materiais. Seu ponto de descuido, seu ponto fraco é a mente de sua gente, sua educação e formação. É necessário ajustar o nosso capitalismo, porque sem ele, tudo é pior. As cadeias estão cheias. Há impunidade. Pessoas não se amedrontam mais com condenações e prisões horríveis, pois no desespero, o cidadão pressionado busca recursos ou já jogou tudo às favas e parte para a alienação ou para a revolta.
A criatividade e a liberdade de fazer o negativo é impressionante. Denota que o chamado “jeitinho brasileiro” é na verdade uma subutilização de mentes altamente inteligentes. Capazes de montar esquemas e bolar golpes inéditos. e se ocupam também com a falsificação de identidade, cartão de crédito, conta corrente, cheques, assinatura de cheques, clonagem de celular, invasão de contas correntes bancárias; há um verdadeiro telemarketing do crime que vive de golpes por telefone etc.
Há as pessoas que fabricam carrocerias de fundo falso para o transporte de drogas e contrabando; há os vendedores de armas e munição contrabandeada; os lavadores de dinheiro em restaurantes de alto padrão, lojas de luxo etc; há os que montam redes de prostituição nacional e internacional; há o médico que ataca as clientes; o empregado que planeja o assalto à empresa em que trabalha; os empregados que furtam; os porteiros que facilitam assaltos a prédios e condomínios; os que vendem carteira de habilitação para dirigir; os velhinhos que dão golpes; os que corrompem e fraudam a todos; o supermercado que vende carga roubada; o comércio que vende produtos a granel sem controle de validade de prazo para consumo; os que dirigem torcidas organizadas para a violência entre torcidas; a seitas e igrejas onde os pastores corrompem as fiéis.

Onde se pode imaginar, há jeitos de burlar, enganar, ludibriar, tirar vantagem, procurar brechas. No fundo um esquema, uma vontade de ir contra a lei, de fazer tudo para ganhar dinheiro fácil. Montam esquemas complexos que já justificariam uma estrutura empresarial, só que é para o crime, para o negativo. Pergunta-se qual a razão e a causa para o exercício de tal desvio? Por que não se preocupam em fazer o mesmo para o lado positivo? O crime passou a compensar?
As origens de tais mentes dizem uns, que vieram nas caravelas portuguesas, quando Portugal limpou suas cadeias e começou a exilar e punir os criminosos de sua sociedade. O Brasil era o destino para a punição. Nunca se falou em trabalhar, em valorizar o trabalho. Nos trópicos ao sul, o negócio sempre foi enganar a Coroa, ter vida abastada sem muito trabalho, viver na sombra e água fresca a custas do Governo. Realidade bem diferente da trazida pelos imigrantes do século dezenove, que tiveram que trabalhar para vencer. Mas está explicação, usada por alguns não resume toda a origem do sério problema nacional referente a seus recursos humanos. Ademais já estamos há mais de 400 anos dos tempos das caravelas. Aceitar tal explicação seria negar a possibilidade de refinamento do ser humano e da evolução social.
O caso é que aqui parece uma terra de ninguém, arrasada pela selvageria pontual e pela barbárie. As lições cristãs da civilização ocidental parecem ir falhando em preencher a espiritualidade das pessoas. As consequências já são visíveis. Há sinais em toda parte. Pessoas atiram a esmo em restaurantes e bares; pessoas são observadas no comércio, no facebook , no banco, supermercado, aeroportos e são assaltadas logo após; pessoas aliciam menores para o crime; pessoas são explodidas com dinamite, corpos são esquartejados e colocados em malas abandonadas na rua; há os que colocam fogo em ônibus coletivo; usam seus cargos para favorecer o crime; transportam drogas ou fazem contrabando em veículos oficiais; chefes de polícia comandam o crime, jogos, assaltos etc; grã-finos possuem cassinos em casa; policiais roubam e assaltam; pessoas com acesso de fúria saem agredindo e matam na rua; irmãos planejam a morte dos pais; irmãos matam familiares pela herança; pessoas assaltam taxistas; o professor abusa dos alunos, a editora e gráfica são feitas para lavagem de dinheiro, com edições que nunca existiram; funcionários públicos certificam faturas de obras e serviços que nunca existiram; há os falsificadores de bebidas alcoólicas; a gangue de desvio de merenda escolar; a gangue do roubo de carros e motos; o receptador de coisas roubadas; o soldado que furta munição e armas do exército; o fiscal da alfândega que deixa passar; a gangue que assalta cemitérios, a que rouba hidrômetros de água, a que promove arrastão em restaurantes, praias e bares, a que explode caixas eletrônicas em bancos; o padre pedófilo; o dono da panificadora , de restaurante que lava dinheiro; o ferro-velho que compra fios de luz e cabos furtados; a oficina de desmanche de carros.
Ser ou não ser uma vítima é uma questão de sorte. A qualquer momento qualquer um pode estar sendo alvo de algum planejamento criminoso em algum lugar.
Tal cenário desfigura o conceito até hoje de que uma Nação é feita de cultura, de gente, de vida social, etc e depende da saúde física e mental de seus indivíduos, pessoas com planos positivos, projetos saudáveis de vida, dos quais possam se orgulhar e juntar-se ao esforço para valorizar o coletivo. Aqui, pessoas sem objetivos, drogados, bêbados, sem ideias, pessoas sem interesse em progredir, desacreditadas, forçadas à miséria intelectual, doentes, preguiçosas por doença que empobrecem a Nação e a rebaixam entre as demais no mundo. A quem interessa isto? O dia a dia no país gera vítimas sociais de um sistema que todos nós contribuímos para montar. A responsabilidade é direta ou indiretamente de todos.
É isto que assusta em todos os sentidos e cria perspectivas sombrias que levam a crer que ruas limpas, parques novos, portos e rodovias em nada melhoraram o futuro, pois na história do Brasil a miséria material pode estar sendo melhorada mas os crimes hediondos e todos o até aqui mencionados são bem modernos e nunca foram praticados nos séculos precedentes, o que demonstra a desconexão entre condição material e o comportamento. Tanto é que o número de pessoas que mora em áreas menos privilegiadas, pequenas vilas e cidades do interior que comete crimes é mínimo, ficando o crime para o trafico de drogas, políticos e suas redes de influência e avulsos. A grande parte da população vive do trabalho e da fé e esperança, mas é cada vez mais colocada em tentação e risco, pois por natureza uma das necessidades humanas é a de se adaptar, seguir o bando.
Há os que em desespero fazem esquadrões da morte, não se sabe se para matar quem sabe de mais, seus comparsas, negando a instituição da Justiça. O fato é que não acabariam mesmo com os pichadores do patrimônio; com os que promovem arruaças e quebra-quebras do comércio; com os ateliers de fabricação de produtos e roupas com mão de obra escrava; com as redes de lanchonetes e restaurantes da máfia estrangeira no país; com os assaltos a banco com reféns; com o suicídio de jovens em desespero; com a rua de bairros controlados pelo tráfico de drogas; com avisos de bomba em prédios públicos e na Justiça; com as empresas de fachada que foram montadas com empréstimos oficiais; com os apartamentos e casas onde há fabricação de CDs piratas, preparo de drogas etc; com os escritórios de captação de escravas para a prostituição; com os rackers que elaboram planos para invasão de sites e computadores; com a fábrica de selos falsos de correio; com o contador que faz recibos falsos para abater no imposto de renda; simulam acidentes de trânsito para assaltar motoristas; traem a confiança de clientes e usam seus dados para fins de tirar vantagens; vendem cadastro de usuários para telemarketing do crime; usam armas de fogo com se fossem brinquedos; líderes comandam criminosos de dentro da cadeia; invadem hospitais para matar adversários; fazem bailes funk movimentados a drogas, crimes de arruaça, arrastões, depredações e pichações; em assaltos a ônibus prendem as pessoas no bagageiro sem se preocupar com a saúde.
A cada dia o cidadão comum leva seus sustos, mas acaba sendo levado a banalizar e vulgarizar a violência tal é a rotina e a repetição. Pessoas criminosas colocam fogo em ônibus coletivo com gente dentro; atropelam e não dão socorro à vítima afrontando as lições de solidariedade e fraternidade ; pessoas raptam crianças para adoção ou venda de órgãos; pessoas põem fogo em mendigos que dormem nas ruas; pessoas adentram maternidades para roubar recém-nascidos; matam para cobrar dívidas; pagam gente para matar gente por causa de Poder e terras; carteiros jogam cartas e cartões de Natal na rede pluvial ou terrenos baldios; pessoas usam disfacr de papi-noel ou policial para roubar residências; matam em série crianças e mulheres e enterram no quintal. Pessoas continuam bebendo muito antes de dirigir. Mulheres estão bebendo mais que os homens. O trânsito mata mais que uma guerra civil. Não é este um sinal de menosprezo do Próximo e com a própria saúde? Quem bebe e se expõe a isto está desrespeitando seus familiares, seus amigos. No fundo o que está gerando esta necessidade de fuga e de auto-expiação?
Em todos os atos deste naipe, vemos o desrespeito ao Ser Humano, ao Semelhante. Aos poucos cresce a insensibilidade, pessoas tornam-se frias e calculistas, sem escrúpulos e respeito até consigo mesmo. O umbigo assume o local da mente. O que podemos concluir ? Já estamos vivendo as consequências de um capitalismo que não soubemos implantar; já estamos adotando o individualismo egoístico como referência. É visível que indivíduos educados em gerações passadas estão perdendo a identificação com a sociedade para a qual foram preparados, já que os padrões de comportamento estão sendo degradados. Observa-se que as gerações Xuxa , Vídeo-game e celular não aguentam o tranco e estão estourando, deixando de corresponder às necessidades de mão de obra qualificada ou não. Sua atitude mais criticável é a de delegar a educação dos filhos à escola, demonstrando que não sabem como educar e que não possuem tempo para isto. Os modelos a serem seguidos estão podres. A juventude debate-se entre a falta de ordem e disciplina e está interpretando mal a liberdade. Impera a licenciosidade, que parece ser a regra. Com medo de perder eleitores,é proibido proibir. Será que a polícia será suficiente para ensinar pela força?
Como resistência formal, a Constituição da República, o Código Civil e o Código do Consumidor preservam princípios de uma sociedade humana com referência cristã. Solidariedade, fraternidade, perdão, respeito ao Próximo, dignidade etc, ainda são princípios informadores da lei e sua interpretação e representam travas para que tudo não vire uma selvageria. Ainda há na mente das pessoas muito de respeito a tais princípios, mas quando prevalecer o contrário, esta legislação cairá em desuso e uma nova ordem social estará vigendo, a pior delas, a da anarquia e da selvageria pessoal. As exceções criminosas de hoje poderão ir crescendo até serem a realidade comum e usual. Lamentável que o lema “respeite o próximo “ esteja passando a ser “ use o Próximo como desejar”.
O desuso é possível, pois o Direito evoluí e é feito por cada época como arcabouço formal. O perigo é a evolução para o mal e as novas gerações forem tomando a realidade como modelo de ação e reação, tudo contra os princípios cristãos do Ocidente. A imprensa livre tem o dever de divulgar tudo, mostra comportamentos de todo tipo, todos os crimes e barbaridades do dia, cabendo a cada cidadão discernir entre o bem e o mal; para os jovens se não houver alguém para explicar a conduta mostrada, criticando-a, corre-se o risco da banalização e cópia do comportamento. A mesma necessidade ocorre diante de certos comerciais de televisão que põem em evidência a atitude do “experto”, da falta de ética, que traem a confiança e a cordialidade como meio para se obter vantagem. Sem orientação, o que é comercial, filme ou notícia pode virar aula, proposição para ser imitado pela mente em formação ou desavisada, mormente quando o cinema abandonou o lema ”o crime não compensa” como mensagem final. Isto tudo não é feito por máquinas ou vai surgindo sem controle. Material audiovisual é feito por gente, por profissionais. A quem estão servindo estas cabeças?
Com todo este panorama aqui composto, feito de notícias ruins que chovem na casa de todos ao anoitecer, que aparecem nas páginas dos jornais, que são faladas em programas de rádio e que são vividas pessoalmente por tantas famílias dos envolvidos, forma-se a realidade. Facilmente, os fatos de todo dia podem gerar o mergulho do cidadão comum num negativismo de terra arrasada, de tudo perdido etc. Isto convém a alguém, é realismo, é teatro, é sensacionalismo, é oposição política? Tudo em conjunto. Mas apesar dos percalços do caminho espiritual da Nação, materialmente os governos de todas as gerações tem feito a diferença de um Brasil de 1853 para 1954 e para 2014. Poderíamos ter prosseguido mais. No campo emocional, ruas e avenidas novas, obras necessárias e desnecessárias pouco afetam ou melhoram a cabeça do cidadão, tomada pelo stress, pela angústia, pela indignação, pela revolta e por um barulho atormentante no espírito. O país que tem obrigado as pessoas a uma rotina operacional enorme, pesada, pouco se dedica à busca das verdadeiras causas, sendo que as consequências viram causas e marcam uma roda viva que mascara as primeiras razões e causas originais, tornado cada vez mais difícil achar soluções realmente relevantes e eficazes. A visão curta das decisões é inconsequente, voltada para eleições. Grupos eleitos não se desvencilham da cultura de “agora vamos nos fazer”, “ eis a nossa grande chance” e apoderam-se do Poder para fazer seus “jardins encantados”, onde criam tudo para um mundo de ilusões, salários e dias de vitória material e sucesso só para si mesmo.
Como cidadãos pouco podemos fazer, pois temos um voto e podemos, no meio social restrito de nosso relacionamentos, provocar o debate e divulgar críticas. No dia a dia de nossos atos de convivência, temos que estar conscientes de que toda uma realidade está se formando, crescendo e haverá consequências. Temos que diariamente levar em consideração em nossas avaliações que o Próximo está com problemas, anda pela ruas em silêncio, mas tem um furacão dentro de si prestes a explodir. Explode no trânsito, no campo de futebol , num fila de ônibus, na praça, na escola, em casa. O cidadão não está só de “cara cheia”, está de “mente saturada”. Montesquieu ensinou à civilização que o sistema tem que ser construído para que nenhum cidadão tenha medo do outro. Estamos diariamente contrariando esta lição. Estamos criando psicopatas, sociopatas, megalomanos, esquizofrênicos e revoltados sociais. A juventude está captando rapidamente e protesta ainda que inconscientemente. Os protestos de rua e o agora chamado “rolezinho” indicam que há um forte potencial de mobilização que pode sair fora do controle facilmente.
Nesse cenário fica fortalecido o individualismo egoístico, começam a valer mais as frases “quero salvar o meu, o resto que se dane”, citação esta feita aqui com bom Português para não manchar o texto com a verdadeira língua das ruas.
Infelizmente é este o país que estamos todos fazendo no dia a dia. O crime de todo dia ainda é uma exceção. Aparece em locais e tempos diversos , espalhados pelo país, mas está insuflando a instabilidade social e a insatisfação pessoal.
Em cada indivíduo há uma bomba com potencial de exteriorização. Quantos criminosos há que ainda não se manifestaram? Quantos ainda não perderam o controle? Quantos estão esperando a oportunidade de dar vazão a sua ira ?
Se todas as situações mencionadas neste texto acontecessem numa mesma cidade e mês, o que teríamos? As manifestações de rua de 2013 foram um aviso negativo com sinais perigosos. Por sorte e mostrando que há sempre um contrapeso, nas mesmas ruas de revolta, pessoas se aglomeraram aos milhões para ver o mensageiro de bons princípios passar. Mas este mensageiro inspirador não passa pelo Brasil todo dia e é na rotina diária que muitos estão sofrendo. O resultado é que o indivíduo está se encolhendo, ficando com medo e adotando o pensamento negativista. O horizonte fica menor. A Nação encolhe. Qualquer Governo enfrenta problemas graves de recursos humanos. No geral a pessoa retira-se do coletivo, deixa de preocupar-se com a rua e seus sinais, desinteressa-se pelo que não for de seu umbigo. Isto só ajuda a favorecer as minorias que controlam o Poder, tornando-os mais fortes na medida que manipulam as massas, condicionam as mentes e dão a direção errônea do norte na medida em que tornam-se elementos operacionais e meros seguidores. Não que o país viva de filósofos e pensadores, mas é imprescindível que cada cidadão tenha seu espírito crítico livre e seja forte para termos uma Nação forte. Ao contrário, o que temos são cidadãos fracos, negativos, de criatividade conduzida e seguidores de falsos líderes e poderes. A criatividade então passa para o submundo, para a maldade, para o crime, desperdiçando talentos para o positivo.
Assim, aos poucos pode ser que estejamos permitindo a sub-limiar instalação ou já confirmação de uma sociedade baseada na cultura de estelionatários, do tirar vantagem, do enriquecer sem trabalhar, do espoliar o Próximo, do ganha-ganha, da má-fé, de descordialidade etc.
O que será que vai nas mentes de tanta gente, o que será que andam planejando, o que será que todos os sinais não vão evitar? O que será que todos os livros não estão ensinando, que as teses de mestrado e doutorado não estão tratando, que todos juízes não vão consertar, que todos os discursos empolados não vão dizer, que todo os políticos não pensam nem vão pensar?
Em cada indivíduo da Nação em ruas e vielas, em cidades e vilas, há um Ser pensante com uma mente. O que será que ali corre e que nenhum material vai aliviar, que nenhuma coisa vai preencher, que nenhum dinheiro vai comprar, que nenhuma obra pública vai solucionar, que o carro novo não vai trazer, que as viagens não vão solucionar, que as ciências, inclusive o Direito, não vai resolver? É só começar a pensar sobre isto.
O que será que carregam nossos cidadãos trabalhadores, honestos, cumpridores do dever e da rotina que aflige, que comprime, que queima por dentro? O que será que já saiu do limite, não tem governo, não tem escrúpulo, não tem respeito e talvez já nunca terá?
Sinais os há por aí, por todo lugar, por todas as vilas e cidades.

Odilon Reinhardt.

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