quarta-feira, 13 de abril de 2016






Não haverá golpe!


Claro que não, pois o mesmo já foi dado durante décadas. Golpe na Nação, golpe no Tesouro, golpe na esperança e sonhos de cada cidadão, golpe na moral e na ética.  Por ambição, ganância, cobiça e megalomania, fizeram o “Grande Assalto”, não só aos cofres públicos, mas à mente das novas gerações, aos jovens que acreditaram na realidade posta que não sabiam ser virtual, ficcional, fantasiosa e fascista.
Prevaleceu o lema máximo “agora eu vou me fazer” e o mais antigo “enriquecer sem trabalhar” que de há muito é o da vagabundagem nacional.
Todavia, desta feita, a mega sucessão de escândalos não pode ser encoberta e deixou à mostra as partes íntimas e sórdidas da carcomida vida política nacional, seus jeitinhos, entrelaçamentos, seu modo de ser hediondo, seu discurso mentiroso e falso, seus parâmetros odiosos e seus ajeitamentos financiados com cargos, suas acomodações, acordos e muita corrupção, tudo financiado por impostos em obras públicas onde o interesse público só existia para oficializar a intenção do desvio, a oportunidade de gerar recursos de campanha. Veio à tona de todo este mar de lama da cultura política existente, que é fruto de décadas de formação. Desta vez não deu para empurrar com a barriga, escamotear, etc porque afetaram a vida nacional de modo grave.
Tampouco foi possível preservar paradigmas como o da falsidade, da mentira, das frases de efeito, da manipulação, da propaganda enganosa, da aparência e do pior, o da cultura do “se colar colou”, que marca a irresponsabilidade, a inconsequência e o retorno ao mundo do sofisma.
Diante da catástrofe gerada na destruição do castelo de areia, do desmonte dos planos e sonhos de perpetuidade dos projetos de assalto, alguns políticos e até advogados apressam-se a condenar juízes e as operações de investigação, querendo reviver as lutas para a redemocratização do país nas décadas de 60 e 70. Esqueceram que a luta hoje é outra, é de moralização e que são ladrões agora os inimigos da Pátria, os que estão sendo investigados e condenados, pessoas que só pensaram em seu próprio umbigo, esquecendo-se das milhares de pessoas que estão perdendo emprego, bens e família,  empresas encerrando atividade, todos os seus eleitores  etc. Assim o discurso dos defensores logo caiu por terra. Acusar a Justiça e o Ministério Público de estar violando direitos constitucionais soou como acusar a Polícia e as Forças Armadas de provocar a desordem. Perante a independência de Poderes e a força das Instituições, os ataques não tiveram como se sustentar.
Nossa Justiça, a nível federal, tirou a venda, acordou de seu sono secular, deixando de ficar entorpecida diante dos ajeitamentos dos jogos do Poder.  Recuperou-se com maestria, assumiu seu próprio Poder, saindo de um coma quase histórico, para surgir com a Fênix dos novos tempos, a esperança do povo e principalmente das novas gerações.
Há tentativa de tornar Sérgio Moro, um herói, mas qualquer advogado sabe que num processo as provas são o essencial e dependem de uma boa instrução, o que vem sendo feito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público minuciosamente para desmascarar por vez todas as entranhas da vida política nacional. Não há heróis nem bravos na Magistratura, diante de uma legislação  processual e a Constituição . Qualquer Juiz no caso teria que tomar as atitudes legais como está sendo feito, pois a atividade do Juiz não é livre, mas tutelada pelas partes e, no caso, o próprio Ministério Público. A Instituição Justiça mostra-se imparcial e impessoal diante das determinações legais. O processo judicial segue os ritos normais previstos em lei e qualquer desvio cometido será questionado e corrigido.
O caso é que como resultante de todo o desmonte em andamento, o país está estaleirado para reforma. Um carro depenado para ser refeito.  Com prisão ou sem prisão, com impeachment ou sem ele, o país não poderá continuar sendo o mesmo em sua parte política e na realização e fiscalização de obras e serviços para a população. Alguns do povo perguntam se vai acabar o famoso “jeitinho”, a troca de favores, a negociatas de cargos etc. É que jamais se afrontou de tal maneira o “establishment”, o modo de ser de nossa política e seus políticos. Não se acredita que isto tudo esteja sendo mostrado e condenado. O que está acontecendo envolve um costume, uma cultura, um modo que assaltou o país por décadas, daí a dúvida de se isto tudo vai mesmo acabar.
Ayn Rand, filósofa russa, fugitiva do comunismo, dizia “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter autorização de quem não produz nada; comprovar que o dinheiro flui para quem negocia, não com bens, mas com favores; perceber  que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converter em auto sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
O momento que estamos presenciando na História do Brasil é muito importante. Trata-se de encerrar uma página suja, escrita por uma cultura política subdesenvolvida para abrir uma nova página.
Há muitos interesses em jogo, mas temos que acreditar que a Justiça comandará este momento histórico e que nada afastará o Brasil de uma nova era.
O que vemos é um regime se debatendo em desespero. Situação e Oposição num teatro onde podemos observar com indignação tudo que os políticos e pessoas envolvidas são capazes de fazer e representar: mentiras, falsidades, tramas diabólicas, enganações, sofismas, frases de efeito, simulações, traições, manipulações, comportamentos de tradicionais “caras de peroba” etc, etc.

E isto é plenamente possível num país onde o nível de discernimento é muito prejudicado pela enorme quantidade de pessoas que estão ocupadas em sua rotina de sobrevivência e que possuem pouca leitura, pois vale lembrar que dos 96% de pessoas que podem assinar o nome, só 8% podem ler um texto e interpretá-lo. Ora, isto deve ser lembrado sempre e pode ser a base para a explicação de muitas coisas neste país.
Diante desta cruel realidade, é permitido dizer que aqui vale o que se escuta e se fala. O país é emocional. Atacar o emocional através de frase de efeito é a arma do político para atingir as massas, o que só pode ser neutralizado ou colocado em dúvida pelo racionalismo (também oral) dos telejornais. Se uma frase de efeito não for contrastada com nada mais, fica valendo e quem a escutou a toma por verdade ou pelo menos informação. No resto neste país tudo é emoção do dia e do agora e em algum tempo nada será lembrado.
Do mesmo modo isto explica a dissonância entre as notícias orais e a verdade existente no processo judicial. As informações passadas à população e o discurso tendencioso dos entrevistados valem para a emoção ,o fisiologismo popular e tendem a criar expectativas que muitas vezes não correspondem à da realidade judicial .
Seja lá como for, seja lá o que acontecer aos envolvidos, todos sabem que fizeram coisa errada, que atrapalharam o país e que o Brasil não aguenta mais este modo de ser e agir.
Resta esperar que o carro que está parado para ser refeito não vire um frankstein do mundo automobilístico, um “hearse” como se diz em Inglês e que não vou nem ousar traduzir, tal a esperança que tenho. 
Pela força e independência dos Poderes, pela Polícia Federal em bom momento, pelo Ministério Público e pela Justiça despertada, ainda temos base para acreditar que a nova página da Histórica do Brasil comece a ser escrita com transparência, participação popular na escolha de obras públicas, moralização da fiscalização, fim da politicagem, nova lei de licitações, independência dos Tribunais de Conta, preenchimento de cargos de conselheiros nestes tribunais sem participação de ex-políticos, fim do 5º Constitucional para indicação de cargos na Justiça,  fim da participação do Executivo em nomeação de cargos na Justiça e de tantos outros aspectos que dariam uma lista enorme já de conhecimento de cada brasileiro e que  tem matado a energia do país.
Se o Brasil é o país de Deus, que ele volte das férias e chegue para novos tempos. 

Odilon Reinhardt.