quarta-feira, 28 de janeiro de 2015



Chegaremos a isto?


E as grandes cidades continuam a menosprezar seus limites geográficos, físicos e mecânicos. Os setores de alvarás continuam a autorizar mega investimentos imobiliários e mega prédios, rendendo-se a interesses imobiliários. São Paulo vive à beira do caos com enchentes, falta de água e falta de luz fazendo o exemplo secular de como será o futuro das grandes cidades brasileiras. A paulicéia desvairada, orgulho do capitalismo nacional, impõe agora a todos a provação do deserto.
Tal cenário ainda em seu começar, já permite cantar a bola a partir do fracasso do sistema Cantareira. Fazer imaginação neste campo árido é possível e ao mesmo tempo lamentável e tétrico. Sem querer esmiuçar os muitos motivos que geraram a situação, o fato concreto, gerado pelas imbecilidades das motivações da baixa política, é que vai faltar água. A chuva que cai no lugar errado é tida como culpada, bode expiatório para problemas de cultura política e mentira oficial.
Se hoje já se observa a existência de rodízio, falta de água em algum bairro ou cidade, falta de água por horas ou dia, logo é possível projetar o caos para dias, semanas e meses sem água até não existir mais água como realidade final.
E então veremos em jornais notícias como agora jocosamente ainda poderemos imaginar.
Não será descartada a notícia de que: “homem é quase linchado na periferia, por estar lavando o carro no sábado à tarde” ou “criança apanha por jogar copo de água no jardim”.
Continue-se a decidir dando alvarás indiscriminadamente para atender a interesses políticos e à falsa idéia de que a cidade precisa de movimento, progresso e mais gente consumidora e veremos notícias como “família perdeu a casa para pagar multa por mal-uso da água” ou “Pai de família comete suicídio por não poder pagar multa por excesso de consumo”, “menores fazem arrastão na praia e na feira em busca de água", “Polícia alerta sobre roubo de caminhões de água nas estradas”, “grupo armado sequestra dono de fábrica de água mineral e exige resgate de um milhão de garrafas de água", “preso homem que vendia água do mar engarrafada”.
E num jornal de grande circulação aparecerá “aumentam os arrastões em Supermercados à procura de água" ou “polícia mata quatro que tentavam roubar água engarrafada de dentro do supermercado” e a mais incrível “financeira aceita pagamento em litros de água”.
Certamente a água sendo elevada à posição comercial de ouro transparente, será possível um dia encontrar nos jornais o seguinte "preço do litro de água potável atinge record na bolsa de mercadorias de Chicago e já vale o dobro do barril de petróleo”.
Em busca da água de beber, haverá uma revolução na criminalidade. Nada valerá mais do que um gole de água. Assim, será comum que jornais e a TV divulguem notícias como “Ambulante é preso por estar vendendo água suja e de de chuva”, “Indivíduo tresloucado, invade residência para beber água e tomar banho”, “Posto de gasolina furtava água de chuva do vizinho”, “Venda de água no mercado negro atinge record de preço e Governo fica inerte” , “Doméstica é demitida após furtar garrafas de água e lavar roupas pessoais sem permissão”, “Dono de restaurante vendia água do rio de sua fazenda como importada”.
A falta de água previsivelmente terá impacto em todos os setores e as igrejas farão cultos e missas para que chova no local certo e o investimento público em obras tenha sido suficiente para aproveitar a chuva. Certamente palácios do Governo, assembléias e tribunais não serão afetados, pois a água será trazida de outros Estados ou do exterior para garantir o interesse público.
Malandros irão fazer proveito da situação e venderão a chuva do futuro, prometerão locais da cidade onde a chuva é mais frequente, venderão ações de companhias que fabricarão água a partir do ar e do vento, comprarão grandes carregamentos de água vindos de outros Estados para vender com alto lucro.
Na baixa criminalidade, haverá assalto a caminhões isolados e em comboio transportando água; policiais serão pegos dando apoio, políticos serão envolvidos no tráfico de água e restaurantes serão abertos para “lavar” o resultado da atividade.
E haverá escândalos com a divulgação surpresa de prisões ao amanhecer . Operação “Copo quebrado” , operação “Água do Vizinho” etc, etc. O Governo pressionado pela opinião pública aumentará a pena para o crime de roubo de água e advogados trarão às cortes suas teses e doutrinas desesperadas. Livros serão editados e o mercado faturará o caos.
E as alianças políticas irão abafar tudo, tentando manter o Poder. Tudo da polícia dará em nada e parte do povo continuará distraído, massificado e robotizado, sempre pronto para obedecer os comandos para consumir e só.
Toda a criatividade, o jeitinho, a cultura popular será mobilizada e os noticiários serão ricos em pérolas sensacionalistas como “dona de casa briga com vizinha que roubava água de seu reservatório à noite”, “chacareiro furtou rio do vizinho fazendo desvio do leito do rio”, “supermercado sofre o 30º assalto em 20 dias e estoque de água é zerado”, “fiscalização encontra milhares de garrafinhas de água estocadas em casa de gerente de supermercado”, “bando invade mansão e rouba a água das piscina”, “bairros onde chove mais desviam água da sarjeta para reservatórios comunitários”, “associação de bairros impede entrada de cidadãos no bairro porque ele queria aproveitar a chuva que ia cair”, “hotel cobra diária com adicional de 50% para banho e 60% pelo direito de café da manhã”, “no Zoológico macacos morrem de sede. Tratador é preso por levar água para casa”, segurança de shopping espanca clientes que enchiam garrafas de água no banheiro”.
Serão esdrúxulas mesmo as modalidades de ações e reações humanas. O Governo desmentirá tudo e prometerá água para todos em breve com as novas obras. A oposição recomendará o abandono da cidade e a volta ao campo. O Comércio desesperado prometerá descontos fabulosos para cidadãos que permanecerem na cidade.
A elevação da água ao "podium" de produto mais caro do mundo será uma revolução nos negócios e o país poderá trocar produtos alimentares pelo direito de navios estrangeiros pegarem água nos grandes rios do país.
Apesar de todas essas lamentáveis e por enquanto jocosas hipóteses, já há avisos esparsos por aí. São Paulo é um bom fornecedor de exemplos a serem estressados e estendidos ao máximo. Todavia, ainda há tempo para manobras, para consertos e reparos no modo de como tudo está sendo feito. É fácil, basta usar algo bem antigo: seriedade, honestidade, objetivos corretos e rigor no uso do dinheiro e de todo o patrimônio público, amor ao próximo nas decisões e projetos, desapego ao umbigo, amor ao Brasil, tudo para salvar o bem maior que é a água como patrimônio do planeta.
Continuemos a brincar com a coisa pública, a aceitar o individualismo e o materialismo pregado, a votar em políticos sem qualidade e competência e nada mudará o seu destino e as consequências que teremos que enfrentar.
Continuem as administrações a achar prioridades diversas e de curta visão e a gastar recursos com tais falsos objetivos; afundem em suas burocracias e tudo tenderá para o agravamento das tendências atuais. Deve-se cuidar do bom planejamento, pensar no futuro projetado para as próximas décadas, é necessário saber imaginar o amanhã e antecipar eventos e dedicar-se menos ao planejamento para as próximas eleições. Deve-se escutar os técnicos e os projetistas, mas.....
Continue a luta entre órgãos públicos num “achaque institucional” de cobrar multas e as empresas de saneamento serão enfraquecidas e retardadas em sua missão, perdendo eficiência e eficácia.
Descuidem os órgãos de controle das administrações, esquecendo que as doenças da União são doenças do político nacional e de todo um modo de existir, que se reproduz pessoalmente em qualquer lugar de Poder e tudo piorará geometricamente.
Depois de muita comoção, os meios de comunicação “preocupados” com a desestabilização social e em plena aliança com o Governo ($$$) pregarão que a água faz mal, dá câncer e provoca Alzheimer, pelo que o bom é água de coco e sucos de frutas ou leite. Tudo estará resolvido então, pelo lado do marketing político e da psicologia de massa, mesmo que o mercado financeiro vá momentaneamente à bancarrota devido à queda da ÁGUA e a subida do SUCO e do LEITE. Tomar banho de leite e lavar o carro com suco será moda , não é?.

A atropelada inserção do país nas exigências da globalização econômica, sem preparo e estrutura humana e material, com a persistente cultura política tradicional, só pode resultar numa desorganização estrutural e escassez de recursos. E o culpado será a falta de chuva.
E esta chuva que não caí no lugar certo!!!!!!! Maldita chuva!

Odilon Reinhardt .