Há sinais no presente que não estão sendo lidos nem
percebidos adequadamente. A banalização e a vulgarização tornam-se hábitos em
decorrência da pluralidade e repetição diária. A violência diz mais do que a
simples dor da vítima e denuncia um futuro que pode ser comprometedor.
Algo está profundamente errado. Os tecnocratas de todos os
governos pensam em saídas materialistas e apresentam soluções inúteis,
transitórias e que sirvam tão somente para diminuir o risco de desprestígio
político e as consequências eleitoreiras. Contudo, leva-se ao pressentimento de
que o Estado brasileiro como instituição, independentemente do
governo/inquilino do Poder, está perdendo o controle e dá ao país e seus
estados um panorama de avacalhação nos serviços públicos e no papel de
regulação dos setores da vida, com reflexo no tecido social, onde o cidadão
sofre a penúria do dia a dia.
A cidade já virou um problema. Concentra o ser humano. Vira
uma armadilha em cada esquina. O cidadão vive com medo.Medo disso e daquilo.
Medo de viver, de conviver, de ser feliz, de falar. Sofre duramente o sistema
urbano que ele mesmo ajudou a alimentar, resultante do individualismo e do
materialismo que geram sonhos e frustrações em incautos cérebros abandonados,
tal a impotência de participar na constante competição e no jogo de comparações
entre os seres. A fuga surge como um instrumento útil para desaquecer a pessoa
e assim a cidade vive de oportunidades de fuga. As causas para a fuga são
desconsideradas, pois as consequências rendem mais necessidades e consumo
Muito tem ocorrido. Se todos os fatos acontecessem no mesmo
dia ou semana e na mesma cidade, teríamos o caos humano. Felizmente a violência
é diversificada e ocorre em lugares diversos e ainda é uma exceção. Todavia, há
sinais de que o Ser Humano não está aguentando o tranco.
No dia a dia e todos os dias somos surpreendidos com eventos
chocantes e até inacreditáveis, que nos fazem pensar sobre a natureza humana e
sua maldade. Recebemos em casa através de jornais e Tv o relatório diário das
barbaridades cometidas de cada Ser contra Ser. Uma chuverada de pessimismo e
incredulidade, mesmo que tudo seja ainda exceção. A tendência assusta.
Se observarmos bem as atitudes do Ser Humano na cidade tem
evoluído do simples ladrão de galinha, do conto do paco etc,para ações inusitadas
à busca de coisas materiais e agressões ao Próximo como: uma escalada de
andares de um edifício para furtar ou roubar; formação de gangues para assaltar
condomínios verticais e horizontais; sequestros relâmpagos;falsificação de
cartões de crédito e de conta corrente bancária; a montagem de estruturas
comerciais para fraudar licitações e contratos, assaltando o Poder Público; o
furto com substituição de peças novas por usadas em carros deixados para conserto;
a entrega de pizza ou flores como meio de assaltar residências e empresas; o
golpe do falso taxista; o exercício ilegal da medicina por falsos médicos; o
atendimento médico por profissional que engravidava pacientes; a aplicação no corpo
de produtos de má qualidade ou de validade vencida; o reaproveitamento de
acessórios hospitalares.
O Ser Humano tem agido como um ente perverso, desesperado,
tendo perdido o senso de ética e moral diante das dificuldades da vida. Vários
têm sido os casos de golpistas que enganam aposentados em empréstimos e no
INSS; traficantes acumulam bens de forma surpreendente, ultrapassando as
necessidades normais de um Ser Humano e sua possível e natural ganância, num
hedonismo exagerado e com evidente vontade de Poder; pessoas comuns cometem
atos, que podem causar grandes consequências como o borracheiro que vende pneus
frisados; a gangue que vende o gabarito de respostas de provas de concursos; os
vândalos que roubam cabos elétricos; as gangues que assaltam escolas para
roubar computadores e fazer depredação; o traficante que oferece drogas a
estudantes na frente das escolas; os grupos que assaltam ônibus de turismo,
fazendas e chácaras; os que se ocupam com esquemas de corrupção de jovens e
aliciamento de moças para exportação; contrabandistas de cigarro; os
falsificadores de diplomas de graduação; as faculdades que vendem diplomas de
profissão; os policiais que assaltam traficantes.
Esta corrida para ficar rico, para ter dinheiro, para não
ter que trabalhar, para ter tudo, para ficar “numa boa”, só pode decorrer da
falsa visão sobre o valor do trabalho e desenvolvimento pessoal. Algo que
desembarcou junto com as caravelas. Aqui, muito tempo depois, trabalhar ainda é
sacrifício, é punição. Lutar contra o trabalho é quase uma atitude comum.
Trabalha-se aqui com o sentimento de revolta pessoal, de estar preso, esperando
a hora de libertar-se . Em vez de trabalhar como atividade integrada à harmonia
do dia, muitos lutam contra si e contra o trabalho. A cultura é de ficar numa
boa o mais rápido possível.
Há estímulos constantes ao comportamento egoístico e pessoas
cultuam um hedonismo exagerado. Cheias de vontades materiais para preencher
seus hábitos de conforto e bem estar pessoal, os desejos de consumo não tem
limites, deixam de lado o respeito e os escrúpulos quando há qualquer contrariedade,
o que gera conflito com o Próximo, pois é levado pelos mesmos interesses pode
agir ou reagir. Já é um efeito do individualismo egoístico que está sendo
reforçado subliminarmente pelos meios comerciais. Pode tornar-se comum a
selvageria do egoísmo de sobrevivência, referenciado pelo medo de perder ou não
ganhar e pelo medo de perder o domínio.
Todos os dias escutamos aberrações de comportamento que
afogam a solidariedade e a fraternidade, atacam o Próximo e quebram o senso
comum. Há gente que desvia donativos destinados a pessoas vitimadas por fatos
de calamidade pública; pessoas que fazem ligações ilegais de TV a cabo;
escritórios de advocacia para defender traficantes e fazer planejamento
tributário no mal sentido de enganar o Fisco; pessoas que dão cursos de como
fraudar a fiscalização de obras públicas; hospitais que fraudam o sistema
público de saúde; contadores que são especializados em fraudar o INSS; contador
que autentica falsamente as guias de tributos; há os que fazem escritórios para
captar pornografia infantil; os que fazem redes de pedofilia; padres que se
tornam pedófilos; o juiz e o seu assessor que vendem decisões; o cartorário de
imóveis que se apossa de terras alheias; o fiscal que vende alvarás; o fiscal
de obras que faz uma rede de corrupção; o construtor que usa materiais baratos
e areia imprópria para a construção; o vendedor de produtos naturais a granel
que só vende produtos vencidos; o funcionário responsável pela coleta do caixa
dois; o político que barganha votos e recebe mensalidade para isto; os
funcionários fantasmas; a TV denunciando que um cantor famoso em sua turnê pelo
Brasil tinha escolta de dois policiais ao pichar muros da cidade. A Juventude
deve perguntar porque ela não pode pichar se seu ídolo pode.
Em cada ato, em cada fato do dia pelo país, há sinais de uma
insensibilidade crescente, de um abandono do respeito ao Próximo e o sinal
maior de que o indivíduo, já condicionado, manipulado e robotizado, está
perdendo o controle e dando vazão à sua raiva, ira, ódio ao semelhante. Ainda é
uma exceção, mas assusta. Também na década de 1960 eram poucas as pessoas que
usavam barbituricos, bolinhas, anfetaminas para sair da realidade como simples
diversão. Ninguém dava bolas para isto. Mas a cantora Elis Regina, famosa e rica
morreu disso, e foi uma grande perda para a música nacional. Hoje o império da
droga está em todo lugar.
Há atos inusitados que vem de indivíduos assombrados por
fantasmas internos. Assim, há o jovem que dispara o revólver na frente do bar e
mata alguns de seus semelhantes; o namorado que mata a ex-namorada por ciúme; jovens
que jogam ácido ou álcool no rosto e corpo da namorada ou o jovem que manda
docinhos envenenados para a festa de aniversário da ex- namorada; o violador de
crianças e jovens; o grupo que aplica o golpe do boa-noite cinderela etc, etc;
o padrasto ou companheiro que mata as crianças da mulher por ciúme; marido que
mata esposa e filhos sem explicação alguma; a mulher que coloca fogo no marido
para livrar-se se surras diárias; o filho que coordena o assalto à casa dos
pais adotivos; existe o bullying nas escolas e a invasão do domicílio através
dos computadores domésticos, violando a vigilância dos pais; há falsas babás
que adormecem crianças com gás; a cuidadora que maltrata idosos; gente faz
redes de exploração sexual da infância e juventude. Mas tudo é entendido como
um problema pessoal, uma reação individualizada e nunca um problema social
consequente de um sistema de vida inadequado que todos alimentam e levam em
frente. O descaso levará a algo pior. A convulsão social seria o caos e o pior
caminho para a Nação.
A Cidade dos Homens afunda em atos desesperados e nenhuma
autoridade assume a responsabilidade de atacar o problema, pois afinal, a culpa
é jogada para os governos anteriores e a um sistema que aparentemente ninguém
mais controla. Dizem comumente como justificativa “ é o progresso”, “é a vida
moderna” e todos se calam como se nada pudessem fazer. A preocupação é com o
dinheiro, com as coisas, tidas como geradoras de sentimentos e emoções. Há os
que se ocupam com a falsificação de dinheiro; com a falsificação de CD´s e
DVD´s; há os da fábrica de produtos piratas onde relógios e roupas de marca são
produzidos; a oficina de clonagem de veículos; o eletricista que faz “gato”, de
ligação de luz ilegal; a gangue que frauda a loteria, passaportes etc; há os
que falsificam ou contaminam o leite das crianças; há empresas para falsificar
gasolina etc. Não há escrúpulo algum. Surgem os canalhocratas que de longe já
esqueceram o que é respeito, dignidade, competência, mérito. Difícil deixar de
pensar, por um só instante, que tudo isto não vá trazer consequências graves a
curto , médio e longo prazo.
É assim o que está ocorrendo no país diariamente.
Assustador. O cidadão vive com medo. A cidade exige muito discernimento, o que
não existe. O stress social já não é mais desaquecido pelo sistema oficial de
“pão e circo”. Há grupos armados de radicais que matam gente de cor,
homossexuais, mendigos, prostitutas a título de limpeza; há grupos dos chamados
pit-boys que atacam pessoas nas festas e bares sem qualquer critério, só pelo
esporte de atacar o Próximo; pessoas são caçadas em arrastões; motoristas são
assaltados nos sinaleiros, no portão de casa, no estacionamento; há pessoas
ocupadas em usar nomes de pessoas humildes para alimentar esquemas
fraudulentos; pessoas que usem nome de falecidos para praticar crimes. A
população vive atrás de grades, alarmes, cercas elétricas, senhas e câmaras de
filmagem. Já há na cidade lugares chamados cracolândias , ocupados por drogados
permanentemente e locais em cidades onde à noite o cidadão comum não pode mais
passar. O cidadão tem medo de chamar a atenção, até mesmo de mostrar suas
conquistas e seu suposto sucesso material
num sistema cuja finalidade é premiar o vencedor, o campeão.
A mediocridade toma conta e nivela a vida nacional. O normal
é orientado pelo padrão medíocre. Não há mais confiança no Próximo. O indivíduo
recolhe-se, isola-se. Isto é bom? A desconfiança é geral. A alienação social é
consequência obrigatória para que o indivíduo possa concentrar-se na vida do
dia a dia, onde pais e mães precisam cuidar da família, colocar comida na mesa.
Isto é bom para quem lidera, para quem gerencia o país, pois nada melhor do que
um povo forçosamente alienado, deixando de olhar o que acontece, criticar e
falar em política.
Mas as consequências não são silenciosas. O Estado está
enfermo e a pátria também. Cresce o número de desajustados, deformados,
revoltados e segregados. Há violência motivada pelo rancor social das
diferenças. A juventude está acordando e vê a discriminação econômica. O que
quase todos os materialistas esquecem é que estradas e pontes caídas fazem dano
material que pode ser solucionado com a reconstrução, mas quanto custa a
recuperação de uma alma amputada, de uma vida morta-viva, etc? A Nação não tem
problema de quantidade de terra, riquezas materiais. Seu ponto de descuido, seu
ponto fraco é a mente de sua gente, sua educação e formação. É necessário
ajustar o nosso capitalismo, porque sem ele, tudo é pior. As cadeias estão
cheias. Há impunidade. Pessoas não se amedrontam mais com condenações e prisões
horríveis, pois no desespero, o cidadão pressionado busca recursos ou já jogou
tudo às favas e parte para a alienação ou para a revolta.
A criatividade e a liberdade de fazer o negativo é
impressionante. Denota que o chamado “jeitinho brasileiro” é na verdade uma
subutilização de mentes altamente inteligentes. Capazes de montar esquemas e
bolar golpes inéditos. e se ocupam também com a falsificação de identidade,
cartão de crédito, conta corrente, cheques, assinatura de cheques, clonagem de
celular, invasão de contas correntes bancárias; há um verdadeiro telemarketing
do crime que vive de golpes por telefone etc.
Há as pessoas que fabricam carrocerias de fundo falso para o
transporte de drogas e contrabando; há os vendedores de armas e munição
contrabandeada; os lavadores de dinheiro em restaurantes de alto padrão, lojas
de luxo etc; há os que montam redes de prostituição nacional e internacional;
há o médico que ataca as clientes; o empregado que planeja o assalto à empresa
em que trabalha; os empregados que furtam; os porteiros que facilitam assaltos
a prédios e condomínios; os que vendem carteira de habilitação para dirigir; os
velhinhos que dão golpes; os que corrompem e fraudam a todos; o supermercado que
vende carga roubada; o comércio que vende produtos a granel sem controle de
validade de prazo para consumo; os que dirigem torcidas organizadas para a
violência entre torcidas; a seitas e igrejas onde os pastores corrompem as
fiéis.
Onde se pode imaginar, há jeitos de burlar, enganar,
ludibriar, tirar vantagem, procurar brechas. No fundo um esquema, uma vontade
de ir contra a lei, de fazer tudo para ganhar dinheiro fácil. Montam esquemas
complexos que já justificariam uma estrutura empresarial, só que é para o
crime, para o negativo. Pergunta-se qual a razão e a causa para o exercício de
tal desvio? Por que não se preocupam em fazer o mesmo para o lado positivo? O
crime passou a compensar?
As origens de tais mentes dizem
uns, que vieram nas caravelas portuguesas, quando Portugal limpou suas cadeias
e começou a exilar e punir os criminosos de sua sociedade. O Brasil era o
destino para a punição. Nunca se falou em trabalhar, em valorizar o trabalho.
Nos trópicos ao sul, o negócio sempre foi enganar a Coroa, ter vida abastada
sem muito trabalho, viver na sombra e água fresca a custas do Governo.
Realidade bem diferente da trazida pelos imigrantes do século dezenove, que
tiveram que trabalhar para vencer. Mas está explicação, usada por alguns não
resume toda a origem do sério problema nacional referente a seus recursos
humanos. Ademais já estamos há mais de 400 anos dos tempos das caravelas.
Aceitar tal explicação seria negar a possibilidade de refinamento do ser humano
e da evolução social.
O caso é que aqui parece uma terra de ninguém, arrasada pela
selvageria pontual e pela barbárie. As lições cristãs da civilização ocidental
parecem ir falhando em preencher a espiritualidade das pessoas. As
consequências já são visíveis. Há sinais em toda parte. Pessoas atiram a esmo
em restaurantes e bares; pessoas são observadas no comércio, no facebook , no
banco, supermercado, aeroportos e são assaltadas logo após; pessoas aliciam
menores para o crime; pessoas são explodidas com dinamite, corpos são
esquartejados e colocados em malas abandonadas na rua; há os que colocam fogo
em ônibus coletivo; usam seus cargos para favorecer o crime; transportam drogas
ou fazem contrabando em veículos oficiais; chefes de polícia comandam o crime,
jogos, assaltos etc; grã-finos possuem cassinos em casa; policiais roubam e
assaltam; pessoas com acesso de fúria saem agredindo e matam na rua; irmãos
planejam a morte dos pais; irmãos matam familiares pela herança; pessoas
assaltam taxistas; o professor abusa dos alunos, a editora e gráfica são feitas
para lavagem de dinheiro, com edições que nunca existiram; funcionários
públicos certificam faturas de obras e serviços que nunca existiram; há os
falsificadores de bebidas alcoólicas; a gangue de desvio de merenda escolar; a
gangue do roubo de carros e motos; o receptador de coisas roubadas; o soldado
que furta munição e armas do exército; o fiscal da alfândega que deixa passar;
a gangue que assalta cemitérios, a que rouba hidrômetros de água, a que promove
arrastão em restaurantes, praias e bares, a que explode caixas eletrônicas em
bancos; o padre pedófilo; o dono da panificadora , de restaurante que lava
dinheiro; o ferro-velho que compra fios de luz e cabos furtados; a oficina de
desmanche de carros.
Ser ou não ser uma vítima é uma questão de sorte. A qualquer
momento qualquer um pode estar sendo alvo de algum planejamento criminoso em
algum lugar.
Tal cenário desfigura o conceito até hoje de que uma Nação é
feita de cultura, de gente, de vida social, etc e depende da saúde física e
mental de seus indivíduos, pessoas com planos positivos, projetos saudáveis de
vida, dos quais possam se orgulhar e juntar-se ao esforço para valorizar o
coletivo. Aqui, pessoas sem objetivos, drogados, bêbados, sem ideias, pessoas
sem interesse em progredir, desacreditadas, forçadas à miséria intelectual,
doentes, preguiçosas por doença que empobrecem a Nação e a rebaixam entre as
demais no mundo. A quem interessa isto? O dia a dia no país gera vítimas
sociais de um sistema que todos nós contribuímos para montar. A responsabilidade
é direta ou indiretamente de todos.
É isto que assusta em todos os sentidos e cria perspectivas
sombrias que levam a crer que ruas limpas, parques novos, portos e rodovias em
nada melhoraram o futuro, pois na história do Brasil a miséria material pode
estar sendo melhorada mas os crimes hediondos e todos o até aqui mencionados
são bem modernos e nunca foram praticados nos séculos precedentes, o que
demonstra a desconexão entre condição material e o comportamento. Tanto é que o
número de pessoas que mora em áreas menos privilegiadas, pequenas vilas e
cidades do interior que comete crimes é mínimo, ficando o crime para o trafico
de drogas, políticos e suas redes de influência e avulsos. A grande parte da
população vive do trabalho e da fé e esperança, mas é cada vez mais colocada em
tentação e risco, pois por natureza uma das necessidades humanas é a de se
adaptar, seguir o bando.
Há os que em desespero fazem esquadrões da morte, não se
sabe se para matar quem sabe de mais, seus comparsas, negando a instituição da
Justiça. O fato é que não acabariam mesmo com os pichadores do patrimônio; com
os que promovem arruaças e quebra-quebras do comércio; com os ateliers de
fabricação de produtos e roupas com mão de obra escrava; com as redes de lanchonetes
e restaurantes da máfia estrangeira no país; com os assaltos a banco com
reféns; com o suicídio de jovens em desespero; com a rua de bairros controlados
pelo tráfico de drogas; com avisos de bomba em prédios públicos e na Justiça;
com as empresas de fachada que foram montadas com empréstimos oficiais; com os
apartamentos e casas onde há fabricação de CDs piratas, preparo de drogas etc;
com os escritórios de captação de escravas para a prostituição; com os rackers
que elaboram planos para invasão de sites e computadores; com a fábrica de
selos falsos de correio; com o contador que faz recibos falsos para abater no
imposto de renda; simulam acidentes de trânsito para assaltar motoristas; traem
a confiança de clientes e usam seus dados para fins de tirar vantagens; vendem
cadastro de usuários para telemarketing do crime; usam armas de fogo com se
fossem brinquedos; líderes comandam criminosos de dentro da cadeia; invadem
hospitais para matar adversários; fazem bailes funk movimentados a drogas,
crimes de arruaça, arrastões, depredações e pichações; em assaltos a ônibus
prendem as pessoas no bagageiro sem se preocupar com a saúde.
A cada dia o cidadão comum leva seus sustos, mas acaba sendo
levado a banalizar e vulgarizar a violência tal é a rotina e a repetição.
Pessoas criminosas colocam fogo em ônibus coletivo com gente dentro; atropelam
e não dão socorro à vítima afrontando as lições de solidariedade e fraternidade
; pessoas raptam crianças para adoção ou venda de órgãos; pessoas põem fogo em
mendigos que dormem nas ruas; pessoas adentram maternidades para roubar
recém-nascidos; matam para cobrar dívidas; pagam gente para matar gente por
causa de Poder e terras; carteiros jogam cartas e cartões de Natal na rede
pluvial ou terrenos baldios; pessoas usam disfacr de papi-noel ou policial para
roubar residências; matam em série crianças e mulheres e enterram no quintal.
Pessoas continuam bebendo muito antes de dirigir. Mulheres estão bebendo mais
que os homens. O trânsito mata mais que uma guerra civil. Não é este um sinal
de menosprezo do Próximo e com a própria saúde? Quem bebe e se expõe a isto
está desrespeitando seus familiares, seus amigos. No fundo o que está gerando
esta necessidade de fuga e de auto-expiação?
Em todos os atos deste naipe, vemos o desrespeito ao Ser
Humano, ao Semelhante. Aos poucos cresce a insensibilidade, pessoas tornam-se
frias e calculistas, sem escrúpulos e respeito até consigo mesmo. O umbigo
assume o local da mente. O que podemos concluir ? Já estamos vivendo as
consequências de um capitalismo que não soubemos implantar; já estamos adotando
o individualismo egoístico como referência. É visível que indivíduos educados
em gerações passadas estão perdendo a identificação com a sociedade para a qual
foram preparados, já que os padrões de comportamento estão sendo degradados.
Observa-se que as gerações Xuxa , Vídeo-game e celular não aguentam o tranco e
estão estourando, deixando de corresponder às necessidades de mão de obra
qualificada ou não. Sua atitude mais criticável é a de delegar a educação dos
filhos à escola, demonstrando que não sabem como educar e que não possuem tempo
para isto. Os modelos a serem seguidos estão podres. A juventude debate-se
entre a falta de ordem e disciplina e está interpretando mal a liberdade.
Impera a licenciosidade, que parece ser a regra. Com medo de perder eleitores,é
proibido proibir. Será que a polícia será suficiente para ensinar pela força?
Como resistência formal, a Constituição da República, o
Código Civil e o Código do Consumidor preservam princípios de uma sociedade
humana com referência cristã. Solidariedade, fraternidade, perdão, respeito ao
Próximo, dignidade etc, ainda são princípios informadores da lei e sua
interpretação e representam travas para que tudo não vire uma selvageria. Ainda
há na mente das pessoas muito de respeito a tais princípios, mas quando
prevalecer o contrário, esta legislação cairá em desuso e uma nova ordem social
estará vigendo, a pior delas, a da anarquia e da selvageria pessoal. As
exceções criminosas de hoje poderão ir crescendo até serem a realidade comum e
usual. Lamentável que o lema “respeite o próximo “ esteja passando a ser “ use
o Próximo como desejar”.
O desuso é possível, pois o Direito evoluí e é feito por
cada época como arcabouço formal. O perigo é a evolução para o mal e as novas
gerações forem tomando a realidade como modelo de ação e reação, tudo contra os
princípios cristãos do Ocidente. A imprensa livre tem o dever de divulgar tudo,
mostra comportamentos de todo tipo, todos os crimes e barbaridades do dia,
cabendo a cada cidadão discernir entre o bem e o mal; para os jovens se não
houver alguém para explicar a conduta mostrada, criticando-a, corre-se o risco
da banalização e cópia do comportamento. A mesma necessidade ocorre diante de
certos comerciais de televisão que põem em evidência a atitude do “experto”, da
falta de ética, que traem a confiança e a cordialidade como meio para se obter
vantagem. Sem orientação, o que é comercial, filme ou notícia pode virar aula,
proposição para ser imitado pela mente em formação ou desavisada, mormente
quando o cinema abandonou o lema ”o crime não compensa” como mensagem final.
Isto tudo não é feito por máquinas ou vai surgindo sem controle. Material audiovisual
é feito por gente, por profissionais. A quem estão servindo estas cabeças?
Com todo este panorama aqui composto, feito de notícias
ruins que chovem na casa de todos ao anoitecer, que aparecem nas páginas dos
jornais, que são faladas em programas de rádio e que são vividas pessoalmente
por tantas famílias dos envolvidos, forma-se a realidade. Facilmente, os fatos
de todo dia podem gerar o mergulho do cidadão comum num negativismo de terra
arrasada, de tudo perdido etc. Isto convém a alguém, é realismo, é teatro, é
sensacionalismo, é oposição política? Tudo em conjunto. Mas apesar dos
percalços do caminho espiritual da Nação, materialmente os governos de todas as
gerações tem feito a diferença de um Brasil de 1853 para 1954 e para 2014.
Poderíamos ter prosseguido mais. No campo emocional, ruas e avenidas novas,
obras necessárias e desnecessárias pouco afetam ou melhoram a cabeça do
cidadão, tomada pelo stress, pela angústia, pela indignação, pela revolta e por
um barulho atormentante no espírito. O país que tem obrigado as pessoas a uma
rotina operacional enorme, pesada, pouco se dedica à busca das verdadeiras
causas, sendo que as consequências viram causas e marcam uma roda viva que
mascara as primeiras razões e causas originais, tornado cada vez mais difícil
achar soluções realmente relevantes e eficazes. A visão curta das decisões é
inconsequente, voltada para eleições. Grupos eleitos não se desvencilham da
cultura de “agora vamos nos fazer”, “ eis a nossa grande chance” e apoderam-se
do Poder para fazer seus “jardins encantados”, onde criam tudo para um mundo de
ilusões, salários e dias de vitória material e sucesso só para si mesmo.
Como cidadãos pouco podemos fazer, pois temos um voto e
podemos, no meio social restrito de nosso relacionamentos, provocar o debate e
divulgar críticas. No dia a dia de nossos atos de convivência, temos que estar
conscientes de que toda uma realidade está se formando, crescendo e haverá
consequências. Temos que diariamente levar em consideração em nossas avaliações
que o Próximo está com problemas, anda pela ruas em silêncio, mas tem um
furacão dentro de si prestes a explodir. Explode no trânsito, no campo de
futebol , num fila de ônibus, na praça, na escola, em casa. O cidadão não está
só de “cara cheia”, está de “mente saturada”. Montesquieu ensinou à civilização
que o sistema tem que ser construído para que nenhum cidadão tenha medo do
outro. Estamos diariamente contrariando esta lição. Estamos criando psicopatas,
sociopatas, megalomanos, esquizofrênicos e revoltados sociais. A juventude está
captando rapidamente e protesta ainda que inconscientemente. Os protestos de
rua e o agora chamado “rolezinho” indicam que há um forte potencial de
mobilização que pode sair fora do controle facilmente.
Nesse cenário fica fortalecido o individualismo egoístico,
começam a valer mais as frases “quero salvar o meu, o resto que se dane”,
citação esta feita aqui com bom Português para não manchar o texto com a
verdadeira língua das ruas.
Infelizmente é este o país que estamos todos fazendo no dia
a dia. O crime de todo dia ainda é uma exceção. Aparece em locais e tempos
diversos , espalhados pelo país, mas está insuflando a instabilidade social e a
insatisfação pessoal.
Em cada indivíduo há uma bomba com potencial de
exteriorização. Quantos criminosos há que ainda não se manifestaram? Quantos
ainda não perderam o controle? Quantos estão esperando a oportunidade de dar
vazão a sua ira ?
Se todas as situações mencionadas
neste texto acontecessem numa mesma cidade e mês, o que teríamos? As
manifestações de rua de 2013 foram um aviso negativo com sinais perigosos. Por
sorte e mostrando que há sempre um contrapeso, nas mesmas ruas de revolta,
pessoas se aglomeraram aos milhões para ver o mensageiro de bons princípios
passar. Mas este mensageiro inspirador não passa pelo Brasil todo dia e é na
rotina diária que muitos estão sofrendo. O resultado é que o indivíduo está se
encolhendo, ficando com medo e adotando o pensamento negativista. O horizonte
fica menor. A Nação encolhe. Qualquer Governo enfrenta problemas graves de
recursos humanos. No geral a pessoa retira-se do coletivo, deixa de
preocupar-se com a rua e seus sinais, desinteressa-se pelo que não for de seu
umbigo. Isto só ajuda a favorecer as minorias que controlam o Poder,
tornando-os mais fortes na medida que manipulam as massas, condicionam as
mentes e dão a direção errônea do norte na medida em que tornam-se elementos operacionais
e meros seguidores. Não que o país viva de filósofos e pensadores, mas é
imprescindível que cada cidadão tenha seu espírito crítico livre e seja forte
para termos uma Nação forte. Ao contrário, o que temos são cidadãos fracos,
negativos, de criatividade conduzida e seguidores de falsos líderes e poderes.
A criatividade então passa para o submundo, para a maldade, para o crime,
desperdiçando talentos para o positivo.
Assim, aos poucos pode ser que estejamos permitindo a
sub-limiar instalação ou já confirmação de uma sociedade baseada na cultura de
estelionatários, do tirar vantagem, do enriquecer sem trabalhar, do espoliar o
Próximo, do ganha-ganha, da má-fé, de descordialidade etc.
O que será que vai nas mentes de tanta gente, o que será que
andam planejando, o que será que todos os sinais não vão evitar? O que será que
todos os livros não estão ensinando, que as teses de mestrado e doutorado não
estão tratando, que todos juízes não vão consertar, que todos os discursos
empolados não vão dizer, que todo os políticos não pensam nem vão pensar?
Em cada indivíduo da Nação em ruas e vielas, em cidades e
vilas, há um Ser pensante com uma mente. O que será que ali corre e que nenhum
material vai aliviar, que nenhuma coisa vai preencher, que nenhum dinheiro vai
comprar, que nenhuma obra pública vai solucionar, que o carro novo não vai
trazer, que as viagens não vão solucionar, que as ciências, inclusive o
Direito, não vai resolver? É só começar a pensar sobre isto.
O que será que carregam nossos cidadãos trabalhadores,
honestos, cumpridores do dever e da rotina que aflige, que comprime, que queima
por dentro? O que será que já saiu do limite, não tem governo, não tem
escrúpulo, não tem respeito e talvez já nunca terá?
Sinais os há por aí, por todo lugar, por todas as vilas e
cidades.
Odilon Reinhardt.