terça-feira, 24 de junho de 2014

Sementes da nacionalidade.

Copa do mundo. Evento histórico, nacional. Fato histórico, nacional e inesquecível. Para uma criança, iniciando sua vivência no país onde nasceu, no pré-escolar, nos primeiros anos de compreensão, sem entender de nada, já viu a escola em festa para os dias das mães, entendeu o que é ter mãe, para o dia dos pais, entendeu o que é ter pai e família; de repente, a escola enche-se de festa, um clima sem igual, onde impera o verde e o amarelo em bandeirinhas, fitas, bolas e tudo mais, com as tias usando camisetas de igual cor; há festa para um tal “Brasil”. A criança vê o arredor se preparando, escuta nomes novos como Copa do Mundo, Brasil, brasileiro e mais, espera com certo ar de surpresa a chegada do tal “ Brasil”, que a tia fala, deixando no ar uma mística enevoada coberta de alegria e festa. A criança vai para casa, cheia de coisas para contar.

A festa na escolinha empolga, a criança vibra de euforia e tenta contar aos pais o que viveu, o que a tia disse e seu relato é de enorme animação.

No outro dia, chega a hora de ir para a escolinha e a mãe diz à criança que não tem escolinha hoje. A criança, com o choro meio que parado nos olhos, diz” mas a tia disse que lá vai ter “Brasil”. Aqui em casa não tem Brasil. Quero ir na escolinha....”.

A mãe e o pai acodem como salvadores da pátria e dizem ” aqui vai ter Brasil, ele vai chegar hoje, pode esperar!” A criança sossega, acredita nos pais, pois quer ver o “Brasil” chegar, como na escolinha.
Na azáfama diária da vida brasileira, o pai e a mãe se desdobram na tarde de trabalho normal, dão um jeito, compram camisetas, bandeirinhas, bexigas, fitas e tudo mais, tudo para levar o Brasil da criança para casa.

À noite tudo já estava instalado, a casa estava em festa; a criança, cheia de alegria infantil, disse: “ agora aqui tem Brasil, mãe, como o da tia! “

Escutei este relato numa mesa cheia de processos e coisas para fazer, mas entendi, de pronto, sua simples, mas intensa significação.

Na frase “Quero ir na escolinha, lá tem Brasil!” , apareceu na criança um sentimento novo, o aspecto essencial para a nacionalidade, o amor à pátria, que jamais será tirado, esquecido. Nasce um valor superior a tudo.

E este valor permanecerá por toda a trajetória da criança, como pano de fundo, para sua vida num Brasil enorme, cheio de oportunidades, aberto ao mundo, terra de Deus, onde ela deverá viver e conviver durante sua existência. Não importando o governo, a qualidade dos políticos e sua cultura, as crises econômicas e os erros e acertos das autoridades, o sentido de nacionalidade será completado e permanecerá intacto como sentimento, que acaba da nascer naquela criança, que ainda não entendeu bem o que é o Brasil ,o país, o Paraná, Curitiba e seu bairro, etc, mas já tem dentro de si a semente, a marca para ser brasileira.

Eis a importância unificadora do esporte, do futubol no caso. É por isso que a “ Copa do Mundo” é uma festa da nacionalidade, da criança que quer ver o “Brasil” como na escola, do menino que faz seu gol no jogo de rua onde ainda é Pelé, é Neymar, é Huck, da adolescente que usa a camisa da seleção, dos adultos que enfeitam sua casa para mostrar aos filhos que ali tem “Brasil”, dos idosos que já cansados, ainda olham cada jogo como se fossem eles cada jogador brasileiro, esperando a hora do gol.

Assim, nesta história familiar da minha colega Dra. Lorena Moro Domingos, de seu marido Ricardo e da pequena Gabriela, nasceu um dos aspectos da nacionalidade, pura, colorida, cheia de alegria, como a do momento de Gol.

Eu escreveria páginas e páginas sobre isto, mas não vou massar ninguém com isto, embora o tema seja atraente. Basta desejar à Gabriela muitas alegrias em sua nacionalidade brasileira, sentimento marcante que será independente das vitórias e derrotas do futebol ou qualquer outro esporte, pois viverá alimentado por uma diversidade de outros aspectos do país, de sua gente e sua cultura, fazendo a Nação brasileira.

No povo brasileiro, há um sentimento arraigado de nacionalidade, nascido possivelmente na vida de cada criança, numa vitória no futebol, na fórmula I, no volleyball, num desfile de sete de setembro etc, etc. Sentimento inalienável, insubstituível, de modo que nenhum obtuso partido político, governo, grupo de arruaceiros, platéia de falsos revoltados, a título nenhum, tem o direito da afastar o povo deste sentimento, mormente numa Copa do Mundo de Futebol.

Se no Brasil, o futebol é expressão da nacionalidade, o Governo , os políticos, os blackblocks etc que respeitem o povo e sua festa de nacionalidade. Problemas políticos, econômicos, graves problemas sociais, a luta entre situação e oposição, sendo todos os políticos farinha do mesmo saco, compõem problemas que se arrastam há décadas e afetam diretamente o povo, mas este agora, neste momento, quer pausa, quer viver sua nacionalidade em termos concretos. Sua festa de alegria e cores, seja na mansão do mais rico seja nos barracos da família sem recursos, seja na empresa maior, seja na sapataria ou no chaveiro, é a mesma e vem de dentro onde há a nacionalidade, em qualquer circunstância, seja derrota ou vitória, permanece o valor maior. 
 
12/6/2014.
Odilon Reinhardt.