Sementes
da nacionalidade.
Copa
do mundo. Evento histórico, nacional. Fato histórico, nacional e
inesquecível. Para uma criança, iniciando sua vivência no país
onde nasceu, no pré-escolar, nos primeiros anos de compreensão, sem
entender de nada, já viu a escola em festa para os dias das mães,
entendeu o que é ter mãe, para o dia dos pais, entendeu o que é
ter pai e família; de repente, a escola enche-se de festa, um clima
sem igual, onde impera o verde e o amarelo em bandeirinhas, fitas,
bolas e tudo mais, com as tias usando camisetas de igual cor; há
festa para um tal “Brasil”. A criança vê o arredor se
preparando, escuta nomes novos como Copa do Mundo, Brasil, brasileiro
e mais, espera com certo ar de surpresa a chegada do tal “ Brasil”,
que a tia fala, deixando no ar uma mística enevoada coberta de
alegria e festa. A criança vai para casa, cheia de coisas para
contar.
A
festa na escolinha empolga, a criança vibra de euforia e tenta
contar aos pais o que viveu, o que a tia disse e seu relato é de
enorme animação.
No
outro dia, chega a hora de ir para a escolinha e a mãe diz à
criança que não tem escolinha hoje. A criança, com o choro meio
que parado nos olhos, diz” mas a tia disse que lá vai ter
“Brasil”. Aqui em casa não tem Brasil. Quero ir na
escolinha....”.
A
mãe e o pai acodem como salvadores da pátria e dizem ” aqui vai
ter Brasil, ele vai chegar hoje, pode esperar!” A criança sossega,
acredita nos pais, pois quer ver o “Brasil” chegar, como na
escolinha.
Na
azáfama diária da vida brasileira, o pai e a mãe se desdobram na
tarde de trabalho normal, dão um jeito, compram camisetas,
bandeirinhas, bexigas, fitas e tudo mais, tudo para levar o Brasil da
criança para casa.
À
noite tudo já estava instalado, a casa estava em festa; a criança,
cheia de alegria infantil, disse: “ agora aqui tem Brasil, mãe,
como o da tia! “
Escutei
este relato numa mesa cheia de processos e coisas para fazer, mas
entendi, de pronto, sua simples, mas intensa significação.
Na
frase “Quero ir na escolinha, lá tem Brasil!” , apareceu na
criança um sentimento novo, o aspecto essencial para a
nacionalidade, o amor à pátria, que jamais será tirado, esquecido.
Nasce um valor superior a tudo.
E
este valor permanecerá por toda a trajetória da criança, como pano
de fundo, para sua vida num Brasil enorme, cheio de oportunidades,
aberto ao mundo, terra de Deus, onde ela deverá viver e conviver
durante sua existência. Não importando o governo, a qualidade dos
políticos e sua cultura, as crises econômicas e os erros e acertos
das autoridades, o sentido de nacionalidade será completado e
permanecerá intacto como sentimento, que acaba da nascer naquela
criança, que ainda não entendeu bem o que é o Brasil ,o país, o
Paraná, Curitiba e seu bairro, etc, mas já tem dentro de si a
semente, a marca para ser brasileira.
Eis
a importância unificadora do esporte, do futubol no caso. É por
isso que a “ Copa do Mundo” é uma festa da nacionalidade, da
criança que quer ver o “Brasil” como na escola, do menino que
faz seu gol no jogo de rua onde ainda é Pelé, é Neymar, é Huck,
da adolescente que usa a camisa da seleção, dos adultos que
enfeitam sua casa para mostrar aos filhos que ali tem “Brasil”,
dos idosos que já cansados, ainda olham cada jogo como se fossem
eles cada jogador brasileiro, esperando a hora do gol.
Assim,
nesta história familiar da minha colega Dra. Lorena Moro Domingos,
de seu marido Ricardo e da pequena Gabriela, nasceu um dos aspectos
da nacionalidade, pura, colorida, cheia de alegria, como a do momento
de Gol.
Eu
escreveria páginas e páginas sobre isto, mas não vou massar
ninguém com isto, embora o tema seja atraente. Basta desejar à
Gabriela muitas alegrias em sua nacionalidade brasileira, sentimento
marcante que será independente das vitórias e derrotas do futebol
ou qualquer outro esporte, pois viverá alimentado por uma
diversidade de outros aspectos do país, de sua gente e sua cultura,
fazendo a Nação brasileira.
No
povo brasileiro, há um sentimento arraigado de nacionalidade,
nascido possivelmente na vida de cada criança, numa vitória no
futebol, na fórmula I, no volleyball, num desfile de sete de
setembro etc, etc. Sentimento inalienável, insubstituível, de modo
que nenhum obtuso partido político, governo, grupo de arruaceiros,
platéia de falsos revoltados, a título nenhum, tem o direito da
afastar o povo deste sentimento, mormente numa Copa do Mundo de
Futebol.
Se
no Brasil, o futebol é expressão da nacionalidade, o Governo , os
políticos, os blackblocks etc que respeitem o povo e sua festa de
nacionalidade. Problemas políticos, econômicos, graves problemas
sociais, a luta entre situação e oposição, sendo todos os
políticos farinha do mesmo saco, compõem problemas que se arrastam
há décadas e afetam diretamente o povo, mas este agora, neste
momento, quer pausa, quer viver sua nacionalidade em termos
concretos. Sua festa de alegria e cores, seja na mansão do mais rico
seja nos barracos da família sem recursos, seja na empresa maior,
seja na sapataria ou no chaveiro, é a mesma e vem de dentro onde há
a nacionalidade, em qualquer circunstância, seja derrota ou vitória,
permanece o valor maior.
12/6/2014.
Odilon
Reinhardt.