Nascida
de dentro da Monarquia como concessão desta e também da esperança
de pequenos grupos de intelectuais para novos tempos e do atingimento
da liberdade do cidadão ou talvez de seus desejos pessoais de obter
cargos de autoridade e poder político, a República surgiu, fazendo
desaparecer da noite para o dia o antigo e secular regime monárquico.
Numa noite de quartelada, desaparece o Império e surge a República
no Rio de Janeiro, sem que o povo soubesse do que se tratava e quais
seriam as vantagens e desvantagens de tão radical mudança. O povo,
alienado, ignorante e analfabeto dormia. As províncias nem sonhavam
com tal alteração da ordem e viviam isoladas no meio do mato. Em
alguns lugares do sertão verde, imigrantes italianos, alemães e
poloneses já existiam em colonias e tentavam montar sua estrutura de
sobrevivência sem qualquer auxílio oficial. Para eles como para o
povo em geral, Monarquia ou República não alteraria em nada a
necessidade de construir e progredir. Não se importavam com o poder
e tinham que prosseguir para se livrar da miséria.
O Brasil
acordava tonto e despreparado. Só conhecia a Monarquia, nada sabia
do que e como seria a República. Barões, Duques, Viscondes e suas
famílias perdiam seus títulos, ruas trocavam de nome, surgia toda
uma nomenclatura diferente para órgãos públicos. A mudança era
radical e feita sem qualquer planejamento. O Brasil dormiu na
Monarquia e acordou para uma República improvisada.
O país, gigante
em território, tinha uma Nação pobre, pequena, analfabeta, com
muitas realidades em formação. O tempo era agora para ser outro,
novo, e a sociedade civil estava no comando. A transição e a
consolidação foi feita com luta e sangue, por conta do sanguinário
Floriano Peixoto. Surgem partidos políticos, a luta pelo poder se
instala, ocorre a revolução dita federalista. O ser humano, entre
eles escravos e cidadãos, no entanto, ainda tinham a postura de uma
vida monárquica e um pequeno grupo de descendentes de portugueses no
poder era quem se apoderava das oportunidades econômicas e
comerciais. O povo continuava ignorante e alienado. Quem se
beneficiou da Monarquia agora era dono da República.
Com os
primeiros anos do novo regime, surgem os desacertos econômicos, nem
Rui Barbosa livra o Brasil do caos do marcado financeiro, é feito o
loteamento do Brasil para investidores estrangeiros extrativistas, há
a adoção de modelos alienígenas por pura macaquice eufórica, a
máquina do Estado brasileiro já torna-se gigante, toma o mesmo
lugar do Império e cria e atola-se numa burocracia ainda maior e
dispendiosa, deixando surgir a corrupção. O Presidente era tomado
por verdadeiro imperador, só que mais nervoso, mais agitado,
preocupado com a política e a reeleição no jogo de partidos ainda
dominados por antigos coronéis de terra, barões e outros membros da
nobreza imperial.
Ao início, a
República ocupa-se ainda com o poder dos coronéis de terra nos
Estados, o que só diminui com o sepultamento da República Velha. Em
1922, a Semana de Arte Moderna é expressiva; marca o rompimento dos
intelectuais do Rio de Janeiro e São Paulo com o velho, em troca de
sinais de um Brasil mais moderno, rompendo com a influência europeia
até então. O Brasil quer ser Brasil, que se livrar do francês e do
inglês. Dez anos após surge a Ditadura de Getúlio Vargas que fez o
Brasil popular do século 20, com implantação de reformas, leis e
códigos. O Ditador não deixava de ser o Imperador moderno,
militaresco, fascista, mas aclamado e festejado pelo povo.
A luta
da Nação era reduzir o analfabetismo, reforçar a qualidade do
cidadão, acabar com os resquícios da escravidão e do servilismo
doméstico e sua força de trabalho. O cidadão tinha que ser
produtivo em nome do Brasil. O país era católico e a família era o
seu centro. A vida era regida pelo Código Civil de 1916 e não havia
dúvida de quem era homem ou mulher.
Ao longo
dos anos a República promoveu o progresso material do país.
Extraordinário, inegável. Compare-se o Brasil de 1910 ao de hoje em
termos materiais. Ocorreu a interiorização, surgiram milhares de
cidades no país, a economia cresceu, novas estradas, estradas
velhas foram asfaltadas, desejo de ter luz e água para todos,
indústria nacional, indústria rural, o Brasil livra-se de ter como
únicos produtos de exportação a madeira, a erva mate, o café, a
cachaça e o açúcar. Surgem as fronteiras agrícolas e a soja. Os
minérios são fonte de riqueza a ser exportada. A Ditadura Militar
de 1964 traz o militarismo, mas também o progresso na
infra-estrutura. Mega investimentos, Itaipu. O Endividamento externo
e o caos criado pelo Choque do petróleo e 1974, sepultaram os planos
militares para o país que mergulha sua economia em uma grave
crise até 1994, já sob a vigência da Constituição cidadã de
1988.
Na esteira
do progresso material, no entanto, durante mais de 80 anos foi-se
aceitando mentalidades diversas e daninhas fornecidas pelo
individualismo egoístico e pelo materialismo como direção de
decisões em detrimento do humano. A falta de uma orientação mais
forte e de caráter favoreceu a entrada de modelos servis e
contrários à Nação e suas características. O analfabetismo e o
tendencioso interesse comercial de muitos visaram o imediatismo e
esqueceram que o país é feito de gente e de uma Nação para
sempre. Assim, interesses mesquinhos e de momento privilegiaram
decisões estratégicas que repercutem até hoje. É visível que o
de planejamento humano de longo prazo ficou prejudicado, afetou e
afeta a vida do país por décadas e hoje temos o que temos,
cidadãos em confusão e uma mão de obra precária e sem qualidade.
Assim,
fica manifesta a consequência de o planejamento ter sido deixado ao
sabor de cada Governo e suas prioridades partidárias ou até mesmo a
falta de planejamento e da falta de democracia. Isto faz com que de
certo modo a arrogância monárquica ainda exista, camuflada nas
lideranças tradicionais e na mentalidade dos coronéis de partidos
políticos em seus Estados. O autoritarismo sobrevive em cada Estado
e o povo continua alienado, agora semi-analfabeto, mais exigente e
mais insatisfeito. As pessoas não deixaram de ser autoritárias em
seu comportamento em relação ao Próximo. É um autoritarismo do
bronco, do semi-ignorante, do pouco esclarecido, do que não tem
flexibilidade para mostrar ou aceitar alternativas. Qualquer
tentativa de negociação descamba para demonstração de poder e
autoridade. Grupos radicais proliferam em vários campos de atuação,
tentando impor suas ideologias de controle de poder e domínio da
sociedade. Algo arcaico. Através de modelos de gerenciamento em
empresas privadas e públicas e na Administração Pública é
possível ver o reflexo deste autoritarismo na postura gerencial e
pessoal. Muito é gasto em treinamento nas empresas para mudar isto.
Subsiste a postura imperial de poder, baseada em imposições de
ideias e pela manipulação política a nível partidário ou
pessoal. Isto sem esquecer que o elementos pinçados do povo pelo
processo eleitoral passam a ocupar cargos públicos ou exercer o
Governo com a mentalidade de “ agora eu vou me fazer” e com o
interesse de garantir a reeleição. Não gostam de oposição nem
qualquer tipo de transparência ou exposição que revelem seus
planos. Nos órgãos públicos desde o início criou-se uma nobreza
intocável mantida com altos salários, mordomias e uma casta nomeada
sem concurso público, constituindo um exército de assessores e
assistentes em cargos de confiança. E ainda há nas cidades o
privilégio do sistema cartorial do Império, com oficiais de
registro e tabeliães com seu loteamento invisível da cidade.
Mencione-se também o sistema de escolha para nomeação de cargos no
Governo e em empresas estatais e de economia mista. Há uma nobreza
beneficiada e privilegiada ainda em o plena República. No Poder
Público, muitas destas pessoas intocáveis, estáveis e irremovíveis
declaram publicamente que não estão nem aí para o povo e a opinião
pública.
Do índio na
Amazônia ao mais preparado executivo financeiro na Avenida
Paulista, há inúmeras realidades no país, o qual ainda vive em
realidades diversas, muitas ainda de 1850, 1910, 1950 etc. No geral o
país é rico, é maravilhoso em Natureza, um paraíso terrestre, um
encontro de povos em uma idiossincracia de liberdade jamais vista na
Terra. Todos que aqui vem elogiam o país e suas paisagens, a alegria
e desprendimento do povo. A visão do Corcovado para a cidade é
paisagem sem igual. É coisa de Deus. Mas lá embaixo, o berço da
República mostra seus problemas no dia a dia. Problemas ali são
exemplo do que ocorre em todas as cidades do país com maior ou menor
intensidade. O Rio de Janeiro, capital da moda, é modelo hoje da
problemática e da tendência nacional.
Ressalta-se
a infraestrutura sempre feita com obras casca de ovo, fracas, sem
durabilidade, fontes de desvio e superfaturamento, insuficientes para
o longo prazo. Pontes e estradas para o agora eleitoreiro, não para
o futuro planejado e consequente e muito menos para servir a pessoa
adequadamente.
Se temos amor a
nosso país e se queremos evoluir na República, como regime de
liberdade do cidadão, temos que tomar providências para eliminar
certas tendências e problemas essenciais. Neste sentido surge a
educação, hoje bastante afetada pela troca de modelo feita pelo
regime militar na ditadura. Acabou-se com o modelo enciclopédico
francês de formação integral do aluno na ciências e sabedoria
acumulada pela Civilização para dotar o curriculum mínimo de
Português, Matemática, História e Geografia, sob a justificativa
de democratizar o ensino. Nivelou-se por baixo. Acabou-se por 20 anos
como o ensino da Filosofia, exterminando a educação baseada num
espírito crítico e analítico, isto para que o regime militar não
sofresse contestação. No mesmo sentido o controle de natalidade, já
que o regime militar fechou o país e era necessário manter a
população em certos números. Um erro essencial e que prejudica o
país até hoje. Sempre o Brasil copiando modelos alienígenas,
impostos ao povo e sem qualquer interesse humano.
Evidentemente
que a histórica variação ou inexistência de planejamento tem suas
consequência no indivíduo. Este pensa, reage, amolda-se ao
momento, tornou-se um seguidor e um tarefeiro tocando a vida como ela
vem. O individualismo e o materialismo que foi sendo intensificado
dentro de um capitalismo desvirtuado tem consequências graves. O
capitalismo tupiniquim, sem pé nem cabeça, é movido por pessoas
comuns num sistema de oportunismo, de ganha-ganha, de vantagens sem
ética nem moral positivas, com uso de má-fé, com práticas
comerciais inescrupulosas e anti-éticas, perpetuadas pela própria
população em seus negocinhos e empresas para sobreviver. O Poder
Público, que ainda não é do público, não pode acolher a todos em
seus quadros, embora haja quem assim deseje em sua fantasia.
Instalou-se um modo
de vida e ser na República. Consequência ou causa de nossa
negligência em permitir a descaracterização de certos princípios,
inclusive cristãos, que norteavam a vida e que agora parecem estar
desaparecendo, deixando a Nação atônita e sem boa referência.
Todos somos culpados, mas ainda há tempo para definir rumos.
Evidentemente a
situação agrava-se a cada dia quando pensamos em consequências
outras como a dos erros do passado em termos de alimentação e
hábitos de consumo impostos à população, hoje com reflexos nas
contas públicas. É o caso do muito bem explorado charme de fumar
que nos anos 40 e 50 fazia a cabeça de muitos e que agora gera uma
conta enorme nos hospitais e a morte precoce de muitas pessoas. A
dieta com base em açúcar, sal, leite e seus derivados e o trigo com
consequências maléficas para tantos que hoje lutam contra a pressão
alta e o diabetes. Tudo feito para beneficiar interesses de coronéis
do gado, do sal ,do açúcar, do café que com seus recursos dominam
o Congresso Nacional e a política. Mas é o cidadão que sofre e é
o cidadão que diminui a força de mão de obra nacional. Sem
espírito crítico, o cidadão vai ficando doente, gordo, e menos
produtivo.
Militando contra
tentativas de reação para melhora, encontramos as marcas da
tendência filosófica do chamado pós-moderno que atingem em cheio a
juventude atual e algumas gerações já passadas, fazendo-as crer
que vale a pena não se entregar a causa ou instituição alguma; que
tudo é passageiro e sujeito ao obsoletismo tanto no campo das coisas
como no relacionamento pessoal; que nenhuma instituição atual
merece crédito ou sua dedicação; que o passado deve ser contestado
e nela não há nada para ser aprendido; que a vida é passageira e
nada vale tanto a pena; que o Próximo é um concorrente e um rival;
que o Estado é uma instituição para poucos e contra o povo etc, e
que deve ser diminuído; que o ideal é cada um por si como um
indivíduo que se gera e se basta sem precisar de ninguém; que não
é preciso mais se aprofundar em nada, pois duas ou três linhas são
já um livro suficiente sobre qualquer assunto.
Nesta vertente
de pensamento encontramos também o império dos meios de
comunicação, fazendo a cabeça da massa, pregando modelos negativos
e contribuindo para estabelecer um quadro de coisa-perdida, sem
solução. A TV, instrumento efetivo de comunicação, vem auxiliando
no ensino da prática democrática, mas mostra a realidade, deixando
que o cidadão tenha discernimento para pensar, todavia este, tornado
um seguidor, pouco tem se dedicado aos estudos, tendo tornado-se uma
vaca de presépio e quando não um mero consumidor condicionado e
massificado, impossibilitado de agir e participar da democracia. Mas
diga-se, alguém tem alto interesse nisso tudo e está focado em
controlar, pensar e dominar por ele. Uma massa de manobra dos
interesses do consumo e este colocado como o elemento central da
economia e da vida nacional. Há gente muito inteligente por detrás
de tudo isto, mas com referência ruim, norteada por valores ruins.
Agora, até mesmo o elemento verde, o meio ambiente, é usado pelas
empresas como elemento de atração para maior consumo. Só falta
criarem a coca-cola verde.
É o
elemento básico da República e da Nação que está sendo
esquecido, maltratado e negligenciado: o ser humano brasileiro. Este
é o verdadeiro centro de consideração, mas vem sendo
negligenciado. Apesar de ainda sermos um país cristão, até a
religião está sendo utilizada erroneamente como meio de fuga, do
mesmo modo que as drogas, as diversões passageiras,inúteis e
ineficazes em afastar o vazio que está tomando conta dos Seres. Bens
materiais não mudam caráter e educação, caso contrário
traficantes com suas mansões e carros de luxo seriam bons cidadãos
e respeitados Seres. Na Nação tudo depende do indivíduo, seus
princípios, seus valores, seu preparo e referência correta e útil
para o país, mas isto parece não ter sido a prioridade no último
século.
Diante do
quadro resultante de décadas de devaneio e euforia, o indivíduo
enfraquece pela mente a Nação, a qual vai perdendo sua identidade,
fica para o joguete entre senhores interesseiros. Quem serve a Deus e
ao Diabo ao mesmo tempo geralmente perde-se no vazio da indefinição
de suas decisões. No afã de uma solução para o país, ressurge o
autoritarismo monárquico, querendo impor soluções únicas e
gerais, uma panaceia de solução salvadora e redentora.
Inacreditavelmente, há quem defenda regimes de esquerda que
descambam para a ditadura sem saber o que o comunismo ou o marxismo
representam em termos de escravidão humana.
No fundo,
os interesses imediatos, comerciais, políticos ou não, continuam a
operar em detrimento de um planejamento mais duradouro, fruto de um
pacto social e uma discussão mais democrática do que se pretende
para a vida nacional. Sabemos o que não queremos: corrupção,
desvios, vidas abandonadas nas ruas e em casas, adolescentes
drogados, infância negligenciada etc, mas não sabemos claramente o
que desejamos como povo, deixamos que as autoridades decidam por nós.
Facilmente nos contentamos com o jogo de futebol, com carros novos,
equipamentos novos de informática e comunicação, viagens ao
exterior, mas nada disso nos satisfaz com duração. Voltamos ao
vazio da dúvida quanto ao futuro pessoal e coletivo.
Enquanto
isto, avançam tendência funestas com a fuga dos insatisfeitos. As
drogas e o crime progridem mais que o Estado. Decisões públicas
continuam a privilegiar o material em detrimento do humano e as
pessoas vão se tornando mais calculistas, frias, insensíveis,
intolerantes, impacientes, ansiosas, inseguras e insatisfeitas. O
Poder Público pensa que pode resolver tudo com obras, esperando
também que resolver tudo com obras,esperando também que elas rendam
votos imediatos. Mas porque nas manifestações o povo quebra as
obras?
Está certo que o
trabalho social não rende tanto, é de longo prazo e os resultados
só aparecem em outro governo. Os reflexos desse modo de pensar são
visíveis, aumentam a violência, o tráfico de drogas aumenta, os
crimes hediondos são cada vez mais inéditos, surgem estatísticas
agressivas e surpreendentes. Pessoas põem fogo em pessoas, carros e
comércio. Há um ódio crescente do Ser Humano contra o seu
semelhante. O cidadão tem sua casa violada, suas coisas roubadas.
Protestos quebram o comércio, bancos, e equipamentos públicos. Pais
abandonam filhos, filhos matam a mãe, homens, exercendo sua
liberdade, casam com homens, mas terão filhos e uma família? A
violência física e moral é visível, reflexo de pessoas
descontentes que querem fugir. E fogem para coisas materiais que não
podem manter ou comprar, para viagens que não podem pagar etc.
Acumulam demandas de consumo. Mas o Poder Público é cego, continua
com seu pensamento que as obras podem salvar tudo, podem ser a
redenção de tudo e negligenciam o ser huamno da Nação,
provolegiando o material e esquecendo o cidadão alongo prazo.
Diante do
amontoado de problemas diários anunciados e divulgados na mídia,
cria-se a ideia do imobilismo estatal e sua impotência. A Saúde não
dá mais conta dos erros do passado; a Justiça encontra-se
abarrotada de processos e não dá conta de uma sociedade violenta e
conflituosa; o Pode Público amarra-se numa burocracia sem fim, onde
a festa dos meios barrocos atrasa qualquer projeto e só sustenta seu
próprio com pouco resultado para a população. A Segurança não dá
conta do recado e é diminuta e ineficaz, se a população ou um
indivíduo realmente sair às ruas para protestar, invadir órgãos
públicos e quebrar tudo mesmo que inutilmente num acesso de fúria.
A
deficiência do planejamento no passado agora vê o país dependendo
do cidadão e este está insatisfeito, despreparado e vazio na sua
maioria. Por falta de estudo e de incentivos ao estudo, não há
médicos. Bastou uma pequena bolha de progresso e não há mão de
obra técnica; estudantes de engenharia abandonam os cursos quando a
cabeça é mais exigida em cálculos. Não há engenheiros
projetistas. A estatística aponta que o Brasil está ficando com a
população mais velha sem o número de crianças para garantir o
futuro produtivo. Talvez sejamos mesmo no futuro o refúgio para
coreanos, chineses, peruanos, bolivianos e árabes.
A cada dia
confunde-se liberdade com libertinagem, inclusão social com direito
a avacalhação de usos e costumes. Na cidade, o crescimento
desordenado é feito por pessoas de todos os tipos e origens. Cria-se
a ideia de que o território da cidade é ilimitado, é obrigado a
receber a todos, tendo recursos, espaço, água para todos. Logo a
cidade torna-se uma lugar humanamente saturado. As consequências
estão nas ruas, com a população exigindo de tudo e para já sem
ter a ideia de possibilidades. Há um quadro que se forma no suplício
urbano que justifica a pintura de uma verdadeira Guernica viva,
pintada no dia a dia em cores que se deterioram. Os cidadãos andam
cabisbaixos pelas ruas, num silêncio esquisito, mas no interior de
cada um, há um barulho insuportável, esperando o pretexto para
agredir em sinal de protesto individual.
A
República brasileira assemelha-se, por enquanto a uma república de
estudantes eufóricos e inconsequentes e não a uma Nação. A cidade
é sua célula mater e está exigindo um discernimento cada vez maior
dos cidadãos além de muitos recursos para o pagamento de impostos,
alimentação, saúde, segurança etc. É exigido um discernimento
cada vez mais complexo para viver no cipoal dos enganos e truques da
cidade. A província engole os provincianos e a República perde
pessoas em acidentes, em problemas de saúde, em depressão e
insatisfação.
Neste
panorama vamos comemorar em 15/11 mais um aniversário da República.
Ainda há muito para pensar e tomar providências. A insatisfação
pessoal da população é visível, faz o indivíduo perder a visão
positiva, há um negativismo planejado que impede a vontade de
participar. O reflexo é na vida pessoal de cada um, mas no todo é
ruim para a Nação e para a República. O Pode Público em seus três
Poderes está atolado em uma burocracia sem igual, dispendiosa,
demorada. Faltam médicos para cuidar dos erros da política
alimentar, faltam engenheiros especialistas e de projeto, reflexo da
cultura do aqui-agora, do tudo transitório, mas há um número
excessivo de advogados que alimentam e preenchem a burocracia oficial
em sua festa de meios como objetivo final. Burocracia que favorece o
formalismo, facilita criar dificuldades para vender facilidades. Há
gente de cargo garantido e salário assegurado no final do mês, que
incrivelmente engendra redes de corrupção e lavagem de dinheiro em
verdadeiras obras primas da malandragem para a traição da Pátria.
Planeja assaltos aos cofres públicos. Só pode estar sendo movida
por ganância ou uma incontida vontade de fazer dinheiro, já tendo
suprido suas necessidades pessoais de acumular coisas e obter
segurança material. Talvez gente acometida de megalomania. Talvez
gente experta que, se bem utilizada, poderia criar grandes soluções
para o país beneficiando a todos, mas não, essa gente prefere ser
individualista, materialistas. Até parece que nessa casta há algum
tipo de aposta como “ vamos ver quem consegue mais ?” . Um jogo
contra o interesse público e o Tesouro.
De todos os
modismos e ondas passageiras provocados por interesses de momento a
imprensa se vê numa encruzilhada tendo que apelar para o
sensacionalismo. Enquanto jornais e TV quase só mostram notícias
ruins e de decadência, jornais financeiros só mostram
empreendimentos, fusão de empresas, lucros enormes, sucesso,
progresso e notícias positivas. Um paradoxo muito fácil de ser
explicado. É que alguém está tirando proveito de tudo em
detrimento de um povo trabalhador e sofrido. Falam em escravidão,
que era uma sistema mundial, seus ranços e ressentimentos, mas ela
hoje pegou a todos e não tem cor.
Não é nada
agradável ver que o país está sendo construído materialmente aqui
e ali com novas estradas, novos edifícios e novas fábricas, mas
para serem ocupadas por pessoas com problemas graves de saúde
mental e física, pessoas insatisfeitas e despreparadas, pessoas sem
muita visão de futuro e sem crença na ideia positiva de progredir,
famílias destrosadas pelo egoísmo, pela violência, pelas drogas
etc. A infância e a juventude querem modelos para seguir. O que
encontram hoje? Qual a natureza e o nível dos modelos existentes?
Será que, se não
tomarmos providências para tratar das tendências atuais, teremos
escolas a serem frequentadas por alunos revoltados, drogados, ligados
no celular, blackbloqueiros? Será que construiremos estradas para
exportar produção que passará por favelas rurais de pessoas
expulsas das cidades? Será que o tráfico de drogas atingirá o
status de Governo informal? Será que as faculdades de medicina e
engenharia terão alunos inteligentes e interessados? De que
adiantarão todas as construções, se o indivíduo nacional, mesmo
que rico ou remediado, estiver vazio, pobre de espírito, talvez já
aposentado sem saúde e dinheiro, os jovens sem bom destino e nem
vontade de estudar, pessoas em depressão?
Continuaremos
nessa enganação de nós mesmos, encolhidos em nossos umbigos,
pensando que nada disso tem e trará consequências para nossas vidas
e para a Nação? Será que já não estaríamos em outro patamar de
progresso humano e material, não fossem os erros do presente e do
passado? Não se pode culpar só o Poder Público sem esquecer a
participação de cada pessoa nesta negligência geral. A Nação
vive de seu lado espiritual e aproveita-se do lado material. Qual
progrediu mais em todas essas décadas? Certamente a material.
É de se
questionar ao final: qual o resultado desta República até agora? O
que obtivemos em termos de Nação? Estamos satisfeitos? Cabe a cada
um responder, de acordo com sua consciência e espírito crítico. Só
sei que não é possível mais cada uma fazer a sua parte, quando não
se sabe onde se está indo ou indo de modo temerário.
Mas
no Atlântico Sul tudo pode ser mais devagar, temos tempo para o
aprendizado, ainda no geral há um povo trabalhador, empreendedor ,
com vontade de acumular coisas e ter uma vida confortável. O
preocupante são as tendências, mostradas aqui e ali em exceções.
Mesmo assim, a diversidade da vida no país é enorme e no dia a dia
pode ir nascendo soluções mais positivas.
Odilon
Reinhardt