Confira na integra o discurso proferido pelo presidente da Comissão da OAB, Paulo Henrique Azzolini, no 1º Encontro Nacional de Advogados de Empresas da Administração Indireta e Regimes Especiais. O evento foi realizado nos dias 6 e 7 de outubro, na sede da OAB-PR, em Curitiba.
Senhores advogados , advogadas e autoridades presentes já nominadas,
Em nome da Comissão de Advogados das empresas da Administração Indireta e Regimes Especiais agradeço a presença de todos neste primeiro encontro deste gênero. Até aqui, são mais de 40 anos das economias mistas e entidades da Administração Indireta, criadas para dar mais dinamismo à atividade estatal quanto aos serviços públicos. Saudo também os advogados da Administração Pública Direta , os quais já há muito mais tempo enfrentam a luta diária de grande responsabilidade na manutenção da ordem jurídica.
Somos todos advogados dessas empresas, já na segunda ou terceira geração. A OAB abriu suas portas para este setor da classe. Todavia, nós da Administração Pública Indireta e regimes especiais somos advogados CLT, somos os que tem que dizer “não”, afrontar ocupantes da Administração, sem ter estabilidade, garantia alguma. E é necessário ter experiência, flexibilidade técnica , caráter, personalidade e destemor para dizer ”não” com sabedoria e respeito a certos interesses, sabendo que a própria relação de emprego pode estar em risco. Administradores em geral preferem pessoas que dizem “sim” sem questionamentos, pessoas que possam homologar suas decisões sem muitos problemas.
Todos nós advogados, quando dizemos “não”, temos a responsabilidade de justificar e o fazemos por ideal, pelo justo, pelo certo. Somos advogados dessas empresas, que mudam de direção de tempos em tempos, com objeto de políticas diversas de governo.Nessas oportunidades, nós como advogados somos o elemento conservador, o que vai recepcionar os novos gerentes e diretores; somos o elemento preservador da empresa, até que os novos ocupantes dos cargos conheçam a empresa, suas pessoas e seu negócio e então comecem a implantar seu modo de gestão.Temos que ser fortes, independentes, unidos para bem orientar a fim de preservar a empresa, para que a gestão mantenha-se na legalidade, na eficiência, na moralidade, na economicidade.
Por vezes, temos que nos meter na gestão da empresa, dando o melhor caminho. Para dizer “não” temos que ter razão, após esgotadas todas as alternativas que a interpretação sistemática do Direito permitir. A confiança e segurança jurídica decorre de nossa experiência, flexibilidade sábia e retidão, o que jamais combina com o mero servilismo homologatório de decisões administrativas. A nossa dependência econômica do salário só vale se soubernos preservar nossa dignidade, respeito e valor . Nós somos os responsáveis por fazer isto acontecer.
Somos advogados, suprapartidários, somos advogados destas empresas pelo seu objetivo social, pela sua função social. Hoje estamos aqui porque temos o que dizer, o que discutir, o que expor. Por décadas não contávamos, a nível da Adminstração Indireta, com veículo algum de união, interação e expressão. Silenciávamos perante vários e vários estilos de governo. Do autoritário ao democrático, vimos várias formas de gestão. Agora podemos falar, falar de nossos assuntos, problemas e anseios. Há questões em aberto como os honorários de sucumbência, a independência técnica, as prerrogativas, o piso salarial etc.
Agradecemos à OAB, à Associação dos Advogados da Companhia de Saneamento do Paraná, origem de ideias que criaram a Comissão na OAB. Este Encontro Nacional tem um significado, o da união, o da solidariedade, a do diálogo possível a favor de todos que trabalham, advogam no serviço público delegado e na Adminstração Direta também. Temos o que dizer, ao nível da importância de nossa função constitucionalmente reconhecida. Há uma esperança de que esta ideia prospere, que esta semente cresça.
Como advogados enchemos a boca quando falamos de princípios e valores, mas falar deles para advogados aqui reunidos é como falar do trigo para o padeiro. Em verdade temos a missão, através de pareceres ou não, de espalhar e pregar tais princípios e valores às demais profissões e funções na Administração, porque especialmente os que lidam com o gerenciamento das coisas da vida sofrem pressões e interesses no intuíto de trazer inovações, as quais devem atender à legalidade e esta esta viva na observância da moralidade, da eficiência, da economicidade etc. Para nós, advogados, respeitar tais princípios, decorre de nossa própria formação. São valores e princípios imutáveis, perenes que não acompanham a transitoriedade no mundo das coisas, o qual hoje encontra-se infestado pela nefasta tendência do materialismo e do individualismo, seguindo modelos alienígenas que entre nós têm entrado através dos modismos com apoio inconsciente ou mesmo consciente de todos os meios e de Governos, cada vez mais reféns da necessidade premente de garantir o consumo para garantir os níveis de tributação, num círculo que deixa a população na mangedoura, com a obrigação perpétua de consumir cada vez mais, com crédito fabricado, muitas vezes a quinquilharia da indústria globalizada. Não vou me alongar nisto, porque basta ver o que tem acontecido desde 1930 neste país, numa contínua perda de liberdade em todos os sentidos, liberdade para escolher, com a sistemática massificação e robotização do pensar, dando a impressão de que o único critério que vai restar como norteador das humanidades e da economia vai ser mesmo o do menor preço.

Paulo Henrique Azzolini, presidente da Comissão dos Advogados Empregados na Administração Pública Indireta e Regimes Especiais
De Odilon Reinhardt
para Paulo Azzolini.